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Os Evangelhos 2005 Comentados
de Firmamento Editora
em 27 Jul 2006
(...anterior)
Muitas vezes, o estranho desejo de tocar-te e a folha seca do amieiro na distância dos dois... Virá um falso profeta que me puxará um braço com muita violência para eu provar a sua urina e o pus, como se eles fossem a extensão do mar, a duração das marés, para lá da minha alma...
A voz da minha mãe (§) soará: ‘És mais extensa e vasta...’. Começarei a conhecer melhor a linguagem dos bebés e do amor. Canções de embalar. Confiança. E transformo os teus mistérios em orações, carroças de sangue nos telhados, fumo por dentro das minúsculas saudades cederão. Cairão grinaldas e o homem habitual não semeará os habituais caminhos por onde passa. Goteiras. Sarjetas não aguentarão a visão.
Deverei esquecer que fui amada?
Os gemidos do musgo, a estufa que precisa de liberdade, o tempo que gastei expressando nenúfares em portas de cimento, e chorarei exigindo a tua inevitável liberdade. A sabedoria da primeira semente. O teu perdão. Nesse rastro, a semente que gerou ira era compaixão. E, simplesmente, algumas coisas eram apenas o que eram: homens tristes eram homens tristes, a incapacidade da pedra era a incapacidade da pedra. Tudo coisas que nunca me pertenceram totalmente na procura do ilimitado respeito.
Senhor, saberás reconhecer o meu coração quando ele trouxer o encantamento e a ingenuidade da primeira semente?
Luz? Clarão? Ou aquela semente aguda que caiu no aluvião?
[1] MENDONÇA, José Tolentino, O Dom das Lágrimas- Orações da Antiga Liturgia Cristã, Lisboa, Assírio e Alvim, 2002 p.12.
Gilda Nunes Barata, Poeta. Licenciada em Direito. Mestre em Literatura Comparada. Doutoranda en Estudos Filosóficos.
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