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pág. 2 de 2
A Moira Encantada

de Almeida Garrett

em 12 Out 2006

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Entrou na torre o pastor,
Entrou na torre fadada,
Não disse adeus à donzela,
Não se lembrou de mais nada.
Era grande, era senhor,
Aos seus vassalos mandava.
Nem voltou mais à choupana
Nem dos irmãos se lembrava.

Lá vinha o sol arraiando,
Um silvo a donzela dava,
Nas pedras da Fonte Santa
Uma cobra se enroscava:
Era a moira – a pobre moira
Cada vez mais encantada.

Já o sol dá na choupana,
O irmão móis moço espertava,
Leva o seu rebanho ao pasto
Que agora ele só guardava.
Passam dias, passam meses,
Viu que o irmão não voltava;
Triste, dizia consigo
- «Pobre do que não tornava!».

Passam meses, passa um ano,
Outra vez que alvorejava
A manhã de San’João
Que ervas e flores rociava.
Com saudades dos irmãos
O mais moço despertava:
- «Foi por tal manhã como esta
Que um e outro se ausentava.
Esta querida choupana
Que nosso pai fabricava,
Onde ao leite de seu peito
A nossa mãe (§) nos criava,
Nenhum mais cá tornava
Ambos seu fado os levava!
Que sorte seria aquela
Que o coração lhes mudava?
Vou-me eu à Fonte Santa
Vou também nesta alvorada».

À fonte se foi direito
Inda a alva não alvejava,
Deu co’a formosa donzela
Que na fonte se banhava.
Tão bela como os mais anos
E ainda mais bela estava.
Nem de pedras preciosas,
Nem de pérolas se toucava,
Nem ceptro, nem chave de oiro
Na sua mão não brilhava;
Tinha uma c’roa de rosas
Alva, que de alva cegava;
As suas claras madeixas
Pelos ombros debruçava;
Com um sorriso de amor
Os alvos dentes mostrava;
No puro azul de seus olhos
Um céu aberto mostrava.

- «A que vens aqui, pastor,
A que vens nesta alvorada?
Que queres da Fonte Santa
Da sua moira encantada?».

- «Novas quero, buscar novas
De dois irmãos que eu amava,
Que há um ano e dois que se foram,
Que deles não sei mais nada.»

- «Um é rico, à sua porta
Se mede o oiro à rasada;
O outro tem poder e mando,
É senhor de capa e espada».

- «Dize-me tu, ó donzela,
Por esta benta alvorada,
E San’João te dê ventura,
Que sejas desencantada,
Dize-me se são felizes
Co’a sorte que lhes foi dada».

- «A sua sorte neste mundo
A ninguém não é deitada,
De escolher cada um por si
A liberdade lhe é dada:
Feliz o que bem escolhe,
Infeliz quem mal se fada!
Pastor, tu que és tão discreto,
A ti que sorte te agrada,
Ser rico, ou ser venturoso,
Ter poder e nomeada?».

- «Felizes são meus irmãos
Com a sorte que lhes foi dada?».
- «Um é rico, à sua porta
Se mede o oiro à rasada;
O outro tem poder e mando
É senhor de capa e espada».
- «Quer-lhe alguém bem neste mundo?».
- «Seu poder, sua riqueza
De todos é invejada».
- «Adeus formosa donzela,
Adeus moirinha encantada!
Que eu me vou ao meu rebanho,
Que já a manhã é nada».

- Pastor, toma esta capela
Que por ti foi bem ganha.
Do puro orvalho do céu
Nesta manhã foi banhada,
De frescas rosas tecida,
Por San’João abençoada.
Terás por ela a ventura,
A ventura bem fadada,
Que a moira da Fonte Santa
Há mil anos encantada
Tua será de alma e corpo,
Por ti foi desencantada».

Ventura todos a querem
Por todos é desejada:
Não a tem quem a procura,
A quem não a busca é dada.
   
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