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As Quatro Nobres Verdades
de Ajahn Sumedho
em 26 Jun 2008
(...anterior) Ter emoções equilibradas significa que as pessoas podem dizer coisas que são ofensivas e saber aceitá-las. Termos equilíbrio e força emocional para não nos ofendermos, ferirmos ou despedaçarmos com aquilo que acontece na vida.
Alguém que esteja sempre a sentir-se magoado ou ofendido, tem de passar a vida a fugir e a esconder-se ou então, tem de encontrar um grupo de lambe-botas subservientes com quem possa viver; pessoas que dizem: “Você é maravilhoso, Ajahn Sumedho”. “Será que sou mesmo maravilhoso?” “É pois”. “Está a dizer isso só por dizer, não é?” “Não, não! Acredite, é do fundo do coração”. “Bom, aquela pessoa não acredita que eu seja maravilhoso”. “Ora, ele é estúpido!” “Isso foi o que eu pensei”.
É como a história “O Rei vai nu”, não é? Têm de procurar ambientes especiais, em que tudo seja do vosso agrado, seguro e sem quaisquer ameaças.
Harmonia
Quando existe Esforço Correcto, Atenção Correcta e Concentração Correcta, tornamo-nos intrépidos. Somos intrépidos porque não há nada de que ter medo. Temos a coragem de ver as coisas e de não as interpretar de forma errada; temos a sabedoria para contemplar e reflectir sobre a vida; temos a segurança e confiança do sīla, a força do nosso compromisso moral e a determinação de fazer o bem e evitar fazer o mal, com o corpo ou com palavras. Desta forma, todas as peças se encaixam formando o caminho para o desenvolvimento. É um caminho perfeito porque tudo ajuda e apoia; o corpo, a natureza emocional – sensibilidade do sentimento – e a inteligência. Todos estão em perfeita harmonia, apoiando-se mutuamente.
Sem essa harmonia o nosso instinto natural pode tornar-se disperso e confuso. Se não tivermos nenhum compromisso moral os nossos instintos podem tomar o controlo. Por exemplo, se apenas seguirmos os desejos sexuais sem qualquer referência moral, tornamo-nos prisioneiros de todo o tipo de coisas que causam aversão pessoal. Existe adultério, promiscuidade e doença, e toda a perturbação e confusão que provém de não habitarmos no nosso instinto natural, com as limitações da moralidade.
Podemos usar a nossa inteligência para enganar e mentir, certo? Mas quando temos uma estrutura moral somos guiados pela sabedoria e pelo samādhi; estes conduzem ao equilíbrio e força emocional. Mas não usamos sabedoria para suprimir a sensibilidade. Não dominamos as nossas emoções com o pensamento ou suprimindo a sua natureza. Esta tem sido a nossa tendência no Ocidente; usamos os nossos ideais e pensamentos racionais, para dominar e suprimir as nossas emoções, e assim tornarmo-nos insensíveis para com a vida e para connosco.
No entanto, através da meditação vipassanā e da prática da plena atenção, a mente fica totalmente receptiva e aberta, possuindo as qualidades de plenitude e total aceitação. E porque fica aberta, a mente também se torna reflectiva. Quando se concentram num ponto a mente deixa de ser reflectiva, fica absorvida na qualidade desse objecto. A capacidade reflectiva da mente vem através da plena atenção. Não filtra ou selecciona nada. Está simplesmente a constatar que tudo aquilo que surge cessa. Contempla que se estiver apegado a qualquer coisa que surge, ela cessa. Vive-se a experiência de que ainda possa ser atractiva no início, tudo muda em direcção à cessação. Então a sua atracção diminui e temos de encontrar outra coisa para nos absorvermos.
A questão de se ser humano é que temos de tocar a terra, ter os pés bem assentes no chão, temos de aceitar as limitações desta forma física e desta vida planetária. O caminho para sair do sofrimento não se encontra no abandono da nossa experiência humana, vivendo em refinados estados de consciência, mas no abraçar a totalidade do reino humano e dos Brahmas através da plena atenção. Desta forma, o Buddha (§) indicou o caminho para a realização total, em vez de uma fuga momentânea através do refinamento e da beleza. Isto é o que o Buddha quis dizer quando nos indicou o caminho para o Nibbāna.
(... continua)
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