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Desejo amoroso

de Diogo Castelão Sousa

em 07 Mai 2023

   O desejo pelo outro é a Vida a querer continuar-se a ela mesma, através dos seres, quais canais, que lhe permitem, pelo meio da reprodução, estender infinitamente o seu período de duração. Pelo contrário, quando não existe a continuação, sobrevém a morte, a estagnação e o ‘cessamento’. A Vida em si mesma representa o desejo primordial de crescimento, de multiplicação, propagação e expansão até ao Infinito. Como tal, no Velho Testamento, encontramos a célebre passagem: “Crescei e multiplicai-vos”. Assim, os seres são simbolizados como os veículos de um Grande Ser que se quer ver continuado através do tempo e do Cosmos.

Quando um ser é acometido pela beleza de um par e sente dentro de si um desejo crescente que visa a derradeira união, está a sentir, na realidade, a Vontade de um Ser Superior, que se quer ver expandido através de gerações. Assim, tal como átomos de um corpo humano que formam uma totalidade, os seres constituem parcelas de um todo indiscernível, cuja vontade jaz na Evolução e contínua renovação de Si mesmo.

Ninguém controla o facto de haver uma pulsão sexual que visa a união e, consequentemente, a linhagem e a descendência. Todavia, este fenómeno aparentemente mecânico e biológico, localizado no sistema límbico, talvez não seja unicamente um fenómeno humano, como divino, participativo de uma Vontade Maior.

Assim, visto imparcialmente, o desejo amoroso ou sexual implica todos os seres e tem em vista um fito único: a propagação e preservação da espécie.

Consequentemente, Platão, há 2500 anos atrás, refere no célebre Banquete, através da voz de Diotima, Pitonisa de Mantineia, a possibilidade de o Amor ter em vista a Imortalidade. Como tal, refere que ‘Eros’, ou o desejo amoroso, procura, através de um rebento de si mesmo, atingir a imortalidade, ou seja, por meio da continuação da sua estirpe ou linhagem. No fundo, Platão sugeria que, em última instância, o que move os seres é o desejo pela imortalidade, referindo-se a uma convicção pura e original, e não versões deturpadas ou degeneradas da mesma.

Destarte, contemplado através dos olhos da personalidade, ‘Eros’ ou o desejo amoroso surge como um impulso irracional, manifestado pela atração à beleza de outrem. Sem saber como ou porquê, o ser sente-se atraído pelo seu par, manifestando uma pulsão interior para a união entre si.

Contudo, visto pelos ‘Olhos do Cosmos’, o desejo amoroso é a sequência natural de uma Vontade Única, que se estende a todos os seres, de todas as raças e reinos, que visa a propagação da espécie e, consequentemente, uma aproximação à Imortalidade final.

Todavia, para lá de uma imortalidade resultante da descendência humana, surge aquela que é conquistada através dos feitos e atos heroicos, da bravura e intrepidez, das ações meritórias de exaltação e louvor. Numa transcendência das limitações impostas à mente, o indivíduo eleva então o seu nome à glória, ficando eternamente escrito nas páginas da História Humana. Como diria Camões, tratam-se d’ “aqueles que por obras valerosas da lei da morte se vão libertando”. Os que alcançaram a fama e o renome pelo seu sacrifício e amor a um ideal maior.

Contudo, tal imortalidade não se iguala àquela sobre a qual dissertam as escrituras ou os livros sagrados, desde tempos imemoriais, designada por ‘divina’ ou ‘espiritual’. Nesse sentido, e regressando ao Banquete, Diotima explora uma última possibilidade do Ser experienciar uma imortalidade divina, alcançada após longo percurso ou evolução em relação ao desejo amoroso.

Refere ela que, numa primeira fase, o ser começa por procurar a beleza sensível dos corpos, como atrás foi mencionado. De seguida, ao desvincular-se de um fascínio por aparências materiais, começa a interessar-se pela beleza das mentes e ocupações, que produzem belos discursos, elevando a alma e o pensamento do ser. Por fim, na iniciação final, Diotima discursa sobre a contemplação do divino e eterno arquétipo do Belo, ou seja, a Beleza imortal, não manifestada neste ou naquele objeto, mas contemplada em si mesma, revelando ao ser a consciência do Eterno, conquistada através de sábia e filosófica meditação.

Assim, concluído este percurso, o desejo amoroso revela-se como uma ponte para a Imortalidade, que pode ser vista sob diversos ângulos, mas cuja fulgurância final jaz na ligação entre a Consciência e novas realidades espirituais ou ‘contacto’ com Planos Divinos.
     


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