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A Palestra no Museu
de Ana Maria Cordeiro
em 28 Jul 2010
Digamos que, no mínimo, não é muito comum, ir a um museu e ver um Indiano sentado em cima de uma secretária, vestido de túnica laranja, descalço e sorrindo de orelha a orelha, a dar uma palestra a cerca de cem pessoas.
Foi o que aconteceu neste mês de Julho no Museu do Oriente.
Esteve em Lisboa para dar palestras em Lisboa, o Mestre Swāmi Suddhananda. Este Indiano recebeu formação de Vedānta Swāmi Chinmayananda e Dayanananda Swāmi em Sandeepani Sadhanalaya, Bombaim
Os seus ensinamentos tocam um vasto leque de pessoas, incluindo executivos de gestão, estudantes universitários de muitos países Ocidentais e também da Índia.
Cheguei mais cedo porque, pretendia, tinha mesmo muita vontade, de o ouvir sobre os ensinamentos Védicos, de que sei pouco e que, já me tinham dito, não vinha a Portugal, tanta gente assim para falar do assunto.
Após as apresentações e organizado o grupo ao qual o vice-presidente da União Budista iria, mais uma vez ajudar na tradução simultânea, com cerca de 20 minutos de atraso, ia começar a palestra. A sala estava cheia e foi preciso ir buscar mais cadeiras, embora tivessem ficado muitos jovens sentados no chão. O ruído de fundo de sala começava a acalmar e o monge sorria-se, pedia relógio, andava à volta da secretária. Nós, algo apreensivos, porque não o conseguíamos ver, o que noutra língua, não facilita a atenção. Certificando-se que a secretária era estável, assim o vemos lá sentado, em lótus em cima da dita secretária confortavelmente, descalço, sorridente e feliz.
Começa por assemelhar a nossa vivência às ruas de Portugal: ordenadas e tranquilas, comparando-as com as da sua pátria.
Depois inicia um discurso muito interessante, baseando-se no trânsito como imagem, para nos induzir no ensinamento Védico: o nosso corpo será o automóvel e a nossa mente o motorista. A mente conduz e o corpo obedece. E tem de se ter muita atenção ao corpo (automóvel). E aí entra por um discurso divertido e claro sobre o que o corpo precisa e o que a mente inventa que ele precisa. “ Se o vosso carro precisa de gasolina, não lhes podem lá por água. Assim não vai andar e estraga o carro. Acontecerá o mesmo ao vosso corpo. Dêem-lhe só o que precisa e é tão pouco: um pão, uma maçã, um pouco de água. “ o nosso corpo precisa de coisas tão simples: respeitem-no”. Mas o motorista (a mente) começa e efabular e em vez de simplificar, quando o corpo tem fome, decide inventar restaurantes e pratos complicados e aí surge o gosto e a invenção de, em Lisboa, não se saber se vamos esta noite jantar num restaurante português, tailandês, japonês....” a assistência sorria ainda um pouco desconfiada...que sairá desta palestra?
A seguir e baseando-se sempre em imagens da vida quotidiana, Swāmi Suddhananda explicava claramente as teias urdidas pela mente e as verdadeiras armadilhas a que vamos sendo sujeitos desde a mais tenra infância:” se te portares bem, a mãe dá gelado! E a criança assim começa a registar comportamentos em função do desejo.”
São muitos e bonitos os exemplos dados. Por vezes um pouco fortes. Tudo e sempre para nos mostrar como viemos, somos e seremos sempre seres de Luz, felizes, independentemente de que deus ou religião se professe, e que será sempre mais fácil deixar fluir do que insistir em nos agarrarmos a situações penosas e transitórias.
Será útil não esquecer que o tema da palestra era “Felicidade: aqui e agora”. O mestre repetia muitas vezes o conceito de felicidade do corpo, contra a imagem constante de conjectura da mente para complicar a nossa vida. “ os que os outros pensam não importa: o que importa é o que tu pensas de ti”. ”Não façam filmes, não deixem que a vossa mente fabrique histórias, sofra ou ria por antecipação”. ”Prestem atenção aos vossos pensamentos- é com eles que vivem”.
Passou depois para o que chamou as necessidades do corpo, sempre dando exemplos muito práticos do dia-a-dia: “ o que é natural para o corpo é respirar comer, beber e dormir” e por fim, abordou o silêncio como elemento fundamental para o “motorista” ouvir o “carro”. A dupla com que passamos por esta estrada (a nossa vida terrena) e que se quer harmoniosa simples e alegre. “É tão simples, meus amigos”. “ Não nascemos para sofrer, mas para sermos felizes: é para isso que cá estamos”.
O mestre foi muito aplaudido pela assistência, não sem antes agradecer o convite e o retribuir para quem o queira visitar da Índia
Eis como de uma forma aparentemente tão ligeira, tão moderna e incisiva, este Indiano nos trouxe ensinamentos milenares que continuam a ser relevantes para a História do Homem na actualidade, baseando-se na Bhagavad Gītā, Upaniṣads e outros textos sagrados do Hinduísmo.
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