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Experiências de Retiro na Arrábida

de Ana Maria Cordeiro

em 08 Fev 2011

   Depois dos monges se servirem, podemos nós então dar início à nossa refeição. Mas a presença da Mãe Natureza é tão forte, que, por vezes, nos esquecemos de confortar o estômago, tal é a beleza aos nossos olhos. O Céu, o mar, o Sol a Vegetação...e a comida vai ficando no prato para a vista se deleitar com tudo ao que está em seu redor. Difícil será descrever as emoções, as sensações, os estados de espírito...

Durante o dia, entre os tempos de meditação, faz-se meditação a andar pelos caminhos da quinta, exercitando a plena atenção. Difícil será no entanto abstermo-nos de tanta beleza. Nos tempos de descanso é quase inevitável termos de ir descansar os pés e as pernas por não estarmos treinados a sentarmo-nos em lótus...a dor física por vezes ainda se sobrepõe ao trabalho de abstracção...muito ainda que há para trabalhar...e logo o ensinamento da Impermanência: “o que é agora, não é logo”...

Numa dessas noites, o ar estava morno, era Junho e, como à noite não há refeição, tínhamos muito tempo livre até à oração da noite...levanta-se um vento forte, sonoro, fantasmagórico, que é muito conhecido nas encostas da serra e que “mete medo”...naqueles minutos não sabemos mais nada a não ser que se está “ por conta do Vento”: vai amainar? Como já está calor pode provocar algum incêndio na floresta? Afinal onde está a nossa quietude, a nossa confiança??? Tanto que há para trabalhar... Como que por magia, da mesma forma que veio, parte o vento deixando com a noite a serra bem serena e a vegetação tranquila...
Nós, depois do nosso encontro da noite e dos cânticos ao Iluminado, também nos recolhemos para um repouso de algumas horas.

Num dos retiros mais longos, Sumedho veio acompanhado por um grupo de pessoas inglesas. Com eles viajou um jovem que, pelos vistos morava perto de Amaravati, mas não frequentava o mosteiro. Todas as manhãs, cada um de nós quase corria para, cada um por si chegar ao seu local de eleição para contemplar. Não nos cruzávamos, mas sentíamos a presença do outro no percurso, querendo nos isolar ao máximo. Só que, de súbito, olho para cima, para as guaritas da encosta, onde os antigos monges franciscanos tinham construído uma Via Sacra, e ele já lá estava: dentro da construção, uma boas dezenas de metros encosta acima. A cabeleira loira dava para o reconhecer a boa distância, e o seu ar feliz também. Ainda hoje estou para saber como lá chegou tão rápido e como conseguiu encontrar o caminho... e logo, na minha imaginação (ou consciência) surgiu uma imagem muito bem definida de todas as construções da Via Sacra tomarem a forma de grandes cabeças do Buda, espalhadas por toda a serra! Impressionei-me até hoje. O Monte Sacro!!!

Passámos lá o dia que guardamos no Portugal cristão como o dia de Santo António...na véspera esteve lua cheia, tão cheia que, quando acabou a oração e o Dana da noite, ao sairmos da sala, quase parecia dia outra vez. A lua reflectia-se no mar, fazendo o famoso mar de prata e nós, não tendo nada que nos impedisse ou tirasse a visão de todo aquele maravilhoso espectáculo, tivemos grande dificuldade entre optar pelo descanso ou por nos mantermos a admirar a lua cheia. Mas o silêncio mantinha-se, sentindo todos nós o riso interior da alegria de cada um. De outra vez aconteceu o oposto e nossos grandes amigos foram os pirilampos, que aos milhares, enfeitavam árvores e pequenas plantas e, estando frio, corríamos pela noite embrulhados nas mantas em busca de mais aquela maravilha, depois de um dia de contemplação e meditação...e de compreensões muito profundas. Os propósitos maiores às vezes não têm caminhos muito simples...há que compreender isso e aceitar. Tudo é de grande e profunda impermanência e às vezes o que queremos que sejam coisas palpáveis, acabem por ser bem subtis e não ficam “assim” ao nosso alcance como no mundo físico.

Nesse espírito, terminámos de certa vez um retiro com uma benção especial atribuída por Sumedho e Dhammiko, a água, a luz e a floresta, numa espécie de unção a todos os que participaram...comovente e significativo o acto que marcou pela surpresa e como um gesto de boa vontade. Saímos da sala comovidos, abençoados e muito, muito felizes com tão simples e tão tocante cerimónia. A partir dali, já todos tinham vontade de permanecer, continuar o retiro (talvez mais uma semana?) esquecer as dores nas pernas e nos pés...Mantermo-nos naquela vibração de amor e fraternidade, continuando a nossa simples vida, como se monges fossemos todos...
     
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