Fundação Maitreya
 
Nisārgadatta

de Diogo Castelão Sousa

em 04 Fev 2022

  Nascido a 17 de Abril de 1897, num dia de Lua-cheia, na ocasião dos festejos de Hanuman, Maruti (nome de nascimento em honra do mítico herói do Rāmāyana), foi criado no seio de uma família humilde e profundamente religiosa, numa pequena aldeia em Maarastra, Índia, juntamente com 6 irmãos. Sua infância foi marcada por diversos labores no campo mas, ao mesmo tempo, estimulada espiritualmente pela escuta de diversas conversas que seu pai, Sivramprant, entretinha com um seu amigo brahman, que era devoto e partilhava não raras vezes suas realizações consigo.
Em 1915, por morte de seu pai, Maruti, com 23 anos, muda-se para Bombaim, abrindo uma pequena loja onde começa a vender maioritariamente ‘beedies’ (pequenos cigarros). Em 1924, casa-se, tendo 3 filhos e uma filha (que morrerá mais tarde, juntamente com sua mulher). Alguns anos depois, aos 34 anos, é introduzido por um amigo ao seu futuro guru Siddharameshwar Maharaj, mestre do grupo ‘Navnath Sampradaya’, linhagem que, segundo a tradição, data até à encarnação de certos “avatāras (encarnações divinas).


É sugerido algures na história de Nisārgadatta que os breves encontros que realizava com seu guru bastavam para ser iniciado em experiências prolongadas de samādhi (meditação) e transformações imediatas de carácter, incitando outros colegas e companheiros seus a servir igualmente o mesmo mestre. Três anos após sucessivos encontros, Maharaj acaba por deixar este mundo e, Maruti então seu discípulo, decide renunciar à vida mundana, viajando pela Índia. Oito meses após a sua peregrinação, regressa a Bombaim, tendo desde já a sua consciência sofrido uma alteração profunda e reveladora. Para sustento da sua família, decide, contudo, manter a loja aberta e, gradualmente, vai recebendo pessoas em sua casa, para meditações. Tais ‘satsangs’ eram marcados por uma indelével paixão pelo diálogo e o debate argumentativo, chegando, não raras vezes, a arrebatar seus ouvintes, de tal modo era poderosa e autoritária sua palavra.

David Godman, devoto de Rāmāna Maharshi, principal escritor dos mais de 16 livros (best-sellers) publicados sobre o mais famoso santo do séc. XX, na ocasião de uma entrevista, reconta algumas das melhores memórias que partilhou com Nisārgadatta, nomeadamente, quando este por iniciativa própria, fazia chegar seus recém-ouvintes à “plateia da frente”, para os inquirir, tal uma criança curiosa, acerca de seus métodos, crenças e expectativas. Mas o que Godman nos conta é que, à medida que tais aspirantes se iam prolongando na história de suas vidas, ao mesmo tempo, Nisārgadatta, ia “irradiando uma energia silenciosa, atenta e penetrante, que, com amor, fazia chegar aos seus mais próximos, dando-os, segundo o autor, a escolher entre uma dessas vias: ou a entrega à pura presença que nesse momento estava a ser ‘oferecida’ ou a sujeição à história que continuamente ‘criavam’ para si mesmos.

Como atesta um dos seus mais respeitáveis discípulos ocidentais, Maurice Frydman, humanista e engenheiro polaco, Nisārgadatta: “não era um homem instruído. Não existe erudição por detrás do seu dialeto natural marata; autoridades não cita, escrituras raramente são mencionadas (…) simplicidade e humildade são as notas principais da sua vida e ensinamento”. E no entanto, tanto das suas palavras eram dignas de ser proferidas apenas por um mestre: “Eu sou o princípio que sobrevive a toda a criação, a toda a dissolução”.

Cabe por ventura dizer que Nisārgadat nunca escreveu nada em papel; seus livros são o resultado das várias transcrições realizadas por parte de seus discípulos, dos diálogos com seus ouvintes. Como tal, qualquer pessoa que abra um dos seus livros não pode nunca ficar indiferente à espantosa e inebriante energia que se desprende de cada uma das suas palavras, tal a força com que as proferia. Por último, após longos anos de instrução, partilha e transmissões, a 8 de Setembro de 1981, Nisārgadatta, parte com 84 anos, deixando um legado como um dos mais desafiantes e admirados mestres de espiritualidade das últimas décadas.

Citações

Toda a gente ama o seu corpo, mas poucos amam o seu verdadeiro ser.

A Inteligência é a porta para a liberdade e a atenção alerta é a mãe da inteligência.

Nenhum caminho é longo ou curto, mas há pessoas que são mais sérias e outras menos.

A essência da santidade é a aceitação total do momento presente.

O amor diz: “eu sou tudo”. A sabedoria: “eu sou nada”. Entre os dois minha vida flui.

Estar liberto de pensamentos é em si mesmo, meditação.

Primeiro, liberta-te do sofrimento e só depois pensa em ajudar os outros.

Dor e prazer são as cristas e vales das ondas do oceano da beatitude. Lá nas profundezas, existe total completude.

Sem a consciência o corpo não duraria um segundo. Há no corpo uma corrente de energia, afeção e inteligência que guia, sustém e energiza o corpo.

Tu queres um ‘vislumbre’ instantâneo, esquecendo que o instante é sempre precedido por longa preparação… O fruto cai de repente, mas seu amadurecimento leva tempo.

Observa o que és. Não perguntes aos outros.

Uma mente calma é tudo o que necessitas. Tudo o mais acontecerá a seu tempo, quando a mente se acalmar.

Silêncio é o fator principal. Na paz e no silêncio crescemos.

A tua própria imutabilidade é tão óbvia que tu não a notas.




   


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Impresso em 28/3/2024 às 8:49

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