Fundação Maitreya
 
As redes sociais

de Diogo Castelão Sousa

em 29 Mar 2023

  As redes sociais provocaram uma mudança profunda na sociedade, quer queiramos quer não, especialmente nas novas gerações, como fenómeno crucial para entender a nova psicologia das crianças, adolescentes e graúdos. Na verdade, este fenómeno tecnológico e social destruiu barreiras quanto às diversas possibilidades de comunicação, mas ergueu ‘muros’ quanto à expansão dos corações e preservação da relação humana genuína.

Existem alguns pontos dignos de menção que passaremos a elencar de forma a retratar a mudança que o mundo das redes sociais provocou.

Em primeiro lugar, a validação social tornou-se um fator preponderante na mente dos jovens, como incentivo à publicação de imagens que retratam a sua vida de um modo ilusório. Quer isto dizer que aquilo que surge nas redes sociais, como modelo de uma vida ‘fácil e bonita’ é muitas vezes a manipulação descarada da mente dos jovens, como consequência de uma busca pela validação social de modo contínuo.

Em segundo lugar, surge um novo fator na psicologia dos jovens, com o qual têm de batalhar constantemente, que é a perda da concentração. Isto acontece devido ao facto de as redes sociais serem desenhadas com o fim de reterem os seus utilizadores nestas plataformas, através de um constante ‘bombardeamento’ de conteúdo e acesso a novas informações. Como tal, os mais recentes aplicativos (redes sociais em emergência), ao analisarem este fenómeno do encurtamento da atenção, apostaram em conteúdo cada vez mais breve, ou seja, de rápido consumo. Assim, atualmente existe a gravitação por parte destas plataformas para um sistema de partilha exclusiva de conteúdo de curta duração (em formato de vídeo). O resultado é uma maior dependência do utilizador, durante horas, nestas plataformas, num ciclo vicioso.

Podemos analisar, inclusive, este fenómeno com recurso a alguns números. Em uma hora, quanto conteúdo é consumido por um jovem atualmente nestas plataformas? A matemática é simples: se um vídeo apresenta por média 15 segundos, num minuto são visualizados quatro vídeos. Em uma hora, serão visualizados, portanto, mais de 200 vídeos. Sim, os números são assombrosos, mas fazem parte da realidade.

A partir daqui, começa-se a entrever com mais nitidez os efeitos assombrosos que as redes sociais podem provocar a nível psicológico e, até, cerebral, afetando o desenvolvimento do cérebro na sua plenitude. Sim, é um assunto sério e deve ser discutido com a maior brevidade possível por especialistas na questão.

Por último, mencionamos o terceiro fator ou característica das redes sociais – a cultura do entretenimento. Com a abundância de conteúdo de rápido consumo, cresce nos jovens uma certa apatia e dependência pela busca de uma maior gratificação. O utilizador consome toda a espécie de conteúdo, bom ou mau, frívolo ou edificante, e como tal, perde a sua dignidade, na busca constante por algo novo e gratificante. Assim, a cultura do entretenimento rebaixa as consciências e serve a carência de algo que satisfaça as suas mentes temporariamente. Como tal, o drama e o exagero imperam na retenção da atenção. Pelo contrário, se o conteúdo não apresenta estas tendências é provável que o utilizador ‘deslize’ rapidamente para o vídeo seguinte.

Como tal, começa-se a entrever algo verdadeiramente maquiavélico em todo este processo, retratado pela dependência na máquina e sua subsequente subserviência.

Recorramos, pois, a uma velha alegoria de há 2500 anos atrás, em que Platão descreve os homens como prisioneiros, numa Caverna, em que se limitam a olhar sombras nas paredes, enquanto o Sol brilha radiante lá fora.

Se através de uma analogia, equipararmos as redes sociais a esta Caverna, rapidamente compreendemos que as semelhanças são muitas, dado os seus utilizadores estarem ‘agrilhoados’ ao funcionamento destas plataformas, tendo acesso apenas a ‘sombras’ da vida dos seus pares e imagens que muitas das vezes não correspondem à realidade, iludindo quem as vê. Tratam-se, na verdade, de uma segunda Caverna de Platão!

Contudo, lancemos a seguinte questão: serão as redes sociais o verdadeiro problema? Ou não serão antes o disfarce ou máscara de um problema bem mais profundo, que é o sofrimento humano? Será a expansão tecnológica a raiz do mal ou a extensão de algo que o ser humano já vive dentro de si há milénios?

Se observamos a existência do sofrimento, do isolamento e do conflito interno, atribuiremos culpa às redes sociais ou a algo diverso? Uma coisa é certa, ao ler a História do ser humano, encontramos o sofrimento por toda a parte. Portanto, e concluindo, os nossos esforços, devem estar concentrados na compreensão da sua origem e não nos efeitos ou extensões da mesma. Devemos dirigir-nos à causa do problema e não em sentido contrário.

Ao virarmo-nos para dentro e não para fora, observamos os mecanismos da mente, e começamos a compreender que o problema vive dentro de nós. O sofrimento que gera esta busca desmedida por ‘curas e remédios’ alheios, deve ser percebido e reconhecido pela consciência interna. Eis a verdadeira compreensão, que o problema não se encontra no exterior.

Para tal, percorremos uma viagem inédita aos meandros da nossa mente e consciência, através de um olhar atento, que se debruça sobre o que há em nós, ou seja, o que vive e ‘vibra’ verdadeiramente no nosso interior. Assim, ao invés de concentrarmo-nos em soluções externas, apresentamos uma via alternativa – o silêncio e a meditação, que nos fazem encontrar aquilo que jamais se esgota – a compreensão e a alegria interior.
   


® http://www.fundacaomaitreya.com

Impresso em 29/4/2024 às 6:44

© 2004-2024, Todos os direitos reservados