Fundação Maitreya
 
Olhando o Céu

de Maria Ferreira da Silva

em 31 Ago 2006

  Em milhares de anos de evolução humana têm aparecido de tempos a tempos, para o bem da humanidade, impulsionadores religiosos, sociais e políticos que permitem grandes avanços na expansão de Consciência dos povos, não só onde eles exercem a sua influência, como também alastrando-se as outras regiões do planeta, criando e legando grandes tesouros de sabedoria.

No campo da Ciência, nomeadamente na Astronomia, os últimos tempos têm sido pródigos em avanços e aprofundamentos do conhecimento do Cosmos, mas sem dúvida que nos primórdios das civilizações humanas havia os que além da observação e saber, num conhecimento exterior do Universo, tentavam compreender também o universo interior do homem, e as relações recíprocas num todo do microcosmos e do macrocosmos. Por exemplo, os astrólogos estudavam de que forma os astros influenciavam a humanidade.

Foram os sábios da antiguidade que contribuíram para que a Astronomia chegasse ao que é hoje (e até a ciência em geral). Na realidade, o que a ciência da Astronomia tem hoje adquirido como saber deve-se à Astrologia antiga, onde estas duas ciências eram uma só. Actualmente, tenta-se separá-las, contudo estamos convictos que se conseguirá devolver à Astrologia o seu devido valor e posição, inserido num contexto mais científico, reformulando-a num conjunto de saberes, explicando detalhadamente que o homem não se limita a ser um simples observador do Cosmos, mas parte integrante dele, tanto influenciando como sendo influenciado.

A influência dos astros no comportamento da humanidade, devia ser tomada em consideração, para que o homem se aperceba (neste caso a Ciência), que é a evolução interior que permite a expansão de Consciência e de inteligência, derivando ela também das circunstâncias espaciais, temporais, climáticas, sociais e, principalmente, espirituais ou religiosas.
O estudo dos corpos celestes, os seus movimentos e fenómenos é certamente um estudo muito antigo. Digamos que nasceu com o homem e está tão intimamente ligado a ele quanto o pensamento. Conhecer a natureza, as estações do ano para organizar as suas sementeiras e colheitas e planificar o futuro, passava pelo contacto íntimo com todas as forças da Natureza e, principalmente, com a Lua, que nos seus movimentos servia como guia.

Por exemplo, o xamanismo (hoje tão em moda, não obstante obsoleto), existente nas civilizações primevas (e ainda povos menos evoluídos exercem) baseado no conhecimento e uso de plantas para tratamento, tanto de doenças físicas, como psíquicas (obsessões de espíritos) era uma actividade exercida pelo vidente da tribo, ou sacerdote do templo e que possuía autoridade (evolução espiritual) para “curar”, em ligação com as forças telúricas. Hoje o resultado do conhecimento xamânico, está absorvido e incorporado na própria Medicina convencional, na Homeopatia, na Farmacologia, nas Ervanárias e noutras formas naturais, onde encontrámos o elo dessa evolução que se foi mantendo ao longo dos tempos. Tudo o mais é magia obscura, quer no uso de forças da natureza, quer tomando “elixires” para obter estados alterados e forçados da consciência, para a qual alguns transferem a dependência de drogas, mascarando-a de espiritualidade.

Também a adivinhação que se insere no Tarôt, no I Ching, na Numerologia e inúmeros “jogos”, fizeram parte de um conjunto de conhecimentos, hoje integrados no esoterismo e ocultismo. Porém, implicando o controlo das forças da natureza, infelizmente, na maior parte das vezes, os seres que se aventuram por este caminho acabam sendo controlados. E embora o Caminho Espiritual consiste em viver segundo a Natureza, ele requer tanto o conhecimento da natureza exterior como interior e é fundamentalmente um trabalho de auto-transformação, respeito por si próprio, pelos outros e pelo Universo.
Vem isto a propósito da necessidade de esclarecer os que querem empreender o Caminho com séria profundidade, a acautelarem-se com fantasias e ambições espirituais que proliferam por todo o lado, porque, o que de facto, leva a uma evolução espiritual concreta, continua a ser o auto-conhecimento pela via da introspecção, da disciplina, do estudo, do esforço consciente e sobretudo, o uso de uma prática de meditação, que ajude a mente a concentrar-se em si mesma: tudo o mais, são retrocessos ou mesmos desvios ao próprio caminho espiritual.
Convém saber, que pelo simples facto de se tirar um curso pseudo-espiritual de iniciações, ou outras modernas modalidades, habilita a poderes ou confere autoridade, capaz de induzir os outros a curvarem-se perante tanto grau de iniciação. Outros manobram energias que na maior parte das vezes são contraproducentes com o verdadeiro caminho espiritual.

A moda da cura através dos mais diversos e díspares métodos, são o isco para os incautos que se convencem que podem curar, e, atraídos por graus iniciáticos, pagam exorbitâncias para ficarem habilitados a curar pelas mãos, pelas limpezas da aura, pelas cores, anjos que se chamam pelo pêndulo, etc.
Valorizar demasiado as propostas de grupos e escolas generalistas de caminho espiritual, pode levar à dependência, pois o trabalho interior é essencialmente individual, isto é, no sentido de pessoal. Raramente os neófitos alcançam o que lhes é prometido mesmo que cumpram as regras prescritas, pois que, a realização espiritual é aquilo que brota da alma livre e independente, e ela conduz todos os processos internos do caminhar para Deus. O sentido real da verdadeira via espiritual é que cada um se torne o Caminho, ao libertar-se de pensamentos dogmáticos e doutrinais, tornando-se responsável por si próprio.
Há testemunhos de pessoas, que após longa procura através dessas modalidades de “nova era” se sentem frustradas pelo vazio de tais experiências, e que as levaram apenas à perda de tempo e de energias, onde obviamente foram desviados dos seus objectivos e deveres espirituais.
De facto, estes “jogos” pseudo espirituais, induzem as pessoas a pensar que podem saltar da vida profana para a vida espiritual, sem passar pela transmutação que deve acompanhar essa ligação: ela é a ponte que confere a diferença entre uma margem e outra. Como exemplo, do que é a via da evolução espiritual temos a Meditação, mas certamente, que ela deve ser acompanhada de certa atitude de vida, ou seja; quando se deseja meditar é porque se desperta para “algo”, que se apresenta como alternativa à sua forma de estar anterior. Continuar na mesma postura quanto às coisas fúteis do mundo e querer meditar porque é moda, para relaxar ou para obter poder mental ou ainda, por ambição espiritual é também um erro!

Eis a razão, porque nem toda a gente consegue entrar numa prática de Meditação, nem faz o seu caminho espiritual de forma consciente, por outras palavras, a Meditação não serve para todos na medida em que é necessário olhar para dentro, admitir e identificar erros, vícios e negligências. Justifica-se a fuga ao mais difícil (auto-conhecimento), ao enveredar-se por actividades que apresentam de imediato fenómenos e estados, que induzem a pensar que são verdadeiros e benéficos. A mudança deve vir do interior com a aspiração de aperfeiçoamento do carácter, numa evolução consciente e então sim, depois integrar a atitude espiritual na vida diária, já com outra dimensão de consciência.
Também em relação à Astrologia, ela é um campo de probabilidades, e pode considerar-se válida quando usada para benefício próprio como meio de auto-conhecimento e de aperfeiçoamento, mas não um caminho espiritual por si só. A ciência da Astrologia, que antigamente estava nas mãos filósofos, matemáticos e astrónomos ou de seres com capacidades muito especiais, espirituais e mentais, encontra-se hoje acessível ao mais ignorante, devido à facilidade da Informática, que é usada apenas com fins lucrativos, sem as bases da realização e do conhecimento, que era antigamente o fruto de longa caminhada espiritual. Assim, hoje em dia, temos uma má utilização, principalmente também quando usada com o objectivo de adivinhação do futuro. Tornou-se um vício adivinhar o futuro, relegando para segundo plano o saber viver o presente, com consciência e atenção, pois viver conscientemente o presente é construir sabiamente o futuro.

Infelizmente, a astrologia está assim descredibilizada devido ao uso indevido nas mãos de muitos semi-ignorantes, que fazem desta ciência um negócio de adivinhação, e desactualizada ao nível científico, sem rigor ou precisão, como por exemplo, quanto às Constelações que não têm a mesma posição de há dois mil anos atrás. Constelações, que na Astrologia conhecemos pelos doze signos ou símbolos do Zodíaco. Na realidade, não tem havido nesta matéria grandes avanços, porque ainda não houve um estudo profundo e credível sobre o Céu e ao mesmo tempo a psicologia humana, ainda que parcelarmente têm havido contributos válidos.
Por exemplo, vamos encontrar estes conhecimentos também noutros espaços e tempos históricos, tal na civilização Maia, na antiguidade da Índia, nos povos Árabes ou na China. Os Sumérios contam-se entre os primeiros a fazer história na Astronomia, como o testemunham as suas tábuas de argila, mas na Índia - na civilização do Vale do Indo – encontram-se em selos de argila, designações astronómicas e astrológicas seguramente mais antigas. Mas serão os Caldeus, que ao Ocidente legam o conhecimento conjunto de Astronomia e Astrologia, como uma única ciência. Há vestígios arqueológicos muito antigos de observação do Céu, como por exemplo em Stonehendge, um monumento neolítico célebre, erguido na base de conhecimentos astronómicos precisos.

Também de uma forma muito completa, Pitágoras olhou o Cosmos e descobriu vários modos de explicar os dois princípios que o regem: o Finito (o bem, a ordem) e o Infinito (caos e desordem). Nos seus estudos de matemática existia a precisão e o simbolismo. A harmonia, que se expressa tanto nas formas geométricas, como nas notas musicais, ou ainda na abstracção simbólica é o pressuposto para o entendimento do todo. Em Pitágoras, o conhecimento científico estava intimamente ligado ao auto-conhecimento, onde práticas de purificação, em comunidade, preparavam os que nela viviam, para realizarem uma sabedoria global de estreita ligação do Cosmos com o Homem.

De facto, de que vale ao homem entender o funcionamento do Cosmos se permanece ignorante quanto à razão porque está ou observa esse Cosmos?
Só dizer que somos feitos da mesma matéria das estrelas não chega, pois não nos dá a dimensão do valor humano, necessária como co-responsável deste Universo, que se completa efectivamente, com a natureza espiritual do homem.
Donde vem o anseio do homem pela iluminação e perfeição? De uma forte intuição interna que impulsiona a uma busca constante da Fonte da Luz.
Naturalmente que a compreensão sobre o Cosmos, só pode vir pela tomada de consciência espiritual dessa Fonte Divina que integra o Todo e, só o avanço simultâneo destas duas componentes, a exterior e interior, a material e a espiritual, fundidas numa só, dará respostas satisfatórias e credíveis à humanidade.
   


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