Fundação Maitreya
 
O Nascimento Universal de Jesus Cristo

de Lubélia Travassos

em 25 Dez 2006

  A história mítica do mistério e drama da vida de Jesus, o Avatāra do Amor e Príncipe da Paz, tal como é descrito no Evangelho de São João, representa, esotericamente, a história do Universo desde a sua formação ou nascimento até à sua morte ou ascensão, tornando a Vida de Cristo a Vida Universal.

Na verdade, o mistério da vida de Jesus, como todas as vidas dos Grandes Seres Instrutores e Salvadores do Mundo, é um mistério muito profundo, onde a linguagem simbólica é usada para esconder o que não deve ser público. Essa linguagem é, por norma, dirigida a vários tipos de necessidades, proveniente de seres em distinto nível evolutivo, isto é, de deuses que, num passado distante, foram homens como nós. Eles são a esperança de perfeição e de paz para uma humanidade sem esperança. Ainda que o mistério da vida de Jesus comece a ser revelado de forma gradual, muitos segredos continuam, ainda, por desvendar.
A descoberta de manuscritos, em diversas partes do mundo, tem vindo a contribuir, significativamente, para o conhecimento da notável seita judaica dos Essénios, assim como para destrinçar mistérios que subsistiam com o Cânon e o Texto das Escrituras do Antigo Testamento. Todos os manuscritos, até agora descobertos, são da autoria dos Essénios, que os esconderam em diversos lugares, a fim de preservá-los de mãos corruptas, cuja intenção era eliminá-los, para que as verdades espirituais não fossem do domínio público, na época em que foram escritos. Perdidos por tantos séculos, contêm informações corroborantes, tanto a nível espiritual e histórico, como filosófico e científico, que ajudam a descodificar a origem e mistério da vida de Jesus, e a influência dos Essénios como seus instrutores religiosos e espirituais.
Quer os Manuscritos do Mar Morto, descobertos no deserto da Judeia, em Israel, em 1947, quer o Evangelho de Tomé, descoberto em Nag Hammadi, no Alto Egipto, em 1945-46, são achados de grande importância no campo da arqueologia bíblica e religiosa. Esses eventos relevantes dão expressão a um significado muito especial, visto terem surgido num período bastante negro da história da psique do mundo ocidental, após a II Guerra Mundial e o surgimento da era atómica. As suas descobertas, no último quarto do século XX, altura em que parecia a muitos que o mundo não conseguiria recompor-se da maior calamidade da história da humanidade, cujo momento era da mais profunda escuridão e desespero da alma mundial, foram providencialmente divinas. Houve, com certeza, uma razão divina, para que se descobrissem esses documentos antigos, escondidos em potes, em grutas inacessíveis ou enterrados em ânforas, que possuem o potencial necessário para ajudar o Ocidente a recuperar uma grande parte da sua alma perdida. Com o advento do após guerra, chegara o momento para se dar uma nova fase de desenvolvimento da individualização da cultura Ocidental. Foi, portanto, a altura certa do mundo tomar conhecimento da espiritualidade, proveniente do Evangelho dos Gnósticos e dos Pergaminhos dos Essénios. A herança dos Essénios, plena de experiências pessoais vivas e de emoções de natureza mística, surgiu em boa hora para o avanço da espiritualidade e da cultura ocidental.
Entretanto, mais recentemente, no fim do século XX foi dada publicidade a outras descobertas importantes, muito anteriores (1870) às já descritas e também da autoria dos Essénios. Refiro-me ao “Evangelho dos Doze Consagrados” e ao “Evangelho da Paz dos Essénios”, traduzidos do original em Aramaico para o Inglês e editados pelo Reverendo Gideon Ouseley, em 1892. O Reverendo encontrou os manuscritos preservados num dos mosteiros Budistas, no Tibete, onde tinham sido escondidos, tal como o foram os manuscritos do Mar Morto. Eles completam o conhecido Novo Testamento e narram aspectos da vida de Jesus desde os doze aos trinta anos, omitidos na versão dos textos aceites pela Igreja Católica. Além disso relatam a compaixão de Jesus Cristo por todas as criaturas de Deus, sem qualquer excepção, e dão a conhecer que Jesus era Vegetariano, assim como os Essénios. Estes novos Evangelhos considerados o Evangelho Original Humanista de Jesus, ou seja, o verdadeiro Novo Testamento, ajudam a compreender a perseguição religiosa que matou tantos seres humanos, incluindo os corajosos da Península Ibérica.
Por efeito da libertação pela Ciência, uma nova luz desceu na mente dos homens livres, mais despertos e ávidos da Verdade. A investigação científica treinou os homens a pensarem de modo objectivo e as religiões são maculadas por excessos de subjectividade, que cegam para a Verdade. Talvez, por isso, os manuscritos, escritos em Aramaico, com aspectos ignorados do ensino de Jesus Cristo, tenham estado tantos séculos escondidos e preservados, vindo agora à luz por ser a altura ideal, em que seriam melhor compreendidos pelo Homem Científico da Era actual.
Aos revisores antigos, os que estavam autorizados a corrigir os textos das Escrituras, nas partes consideradas ortodoxas, foram dadas ordens para excluírem dos Evangelhos originais ensinamentos administrados por Jesus, cheios de sabedoria e compaixão, visto não terem intenção de os seguir. São exemplos os relativos à ingestão de carne, assim como relatos da interferência de Jesus, em várias ocasiões, respeitantes à protecção dos animais. Estes ensinamentos são fundamentais nas escrituras Orientais e não pode haver uma Ciência Espiritual para o Oriente e outra para o Ocidente. E, assim fomentaram uma das grandes fraudes da história da humanidade que transformou a Terra, fazendo parte da Vida Una deste Planeta, onde se iniciaram guerras quando deveriam trazer paz. Não há dúvida de que os verdadeiros Cristãos antigos eram de origem Essénia, isto é, possuíam princípios e moral Essénios e pregavam uma religião de sabedoria. Os Cristãos primitivos também se chamaram terapeutas. Onde estivesse um verdadeiro Cristão devia haver paz, saúde e bem-estar, pois este era o critério que o definia.
Pelo que sabemos, veio ao mundo, há pouco mais de dois mil anos, um grande Instrutor da Humanidade, que foi mental e espiritualmente um exemplo supremo da perfeição humana, denominado Jesus Cristo. O Evangelho da Paz de Cristo, por causa dos seus ensinamentos Humanistas, da estrita defesa do Vegetarianismo, da abstinência à ingestão de álcool e da continência, foi odiado, tanto por Constantino, como pelos anteriores Imperadores Romanos. Os Sacerdotes Romanos começaram a ver a religião de Roma a entrar num estado de decadência avançado e a perder diariamente o apoio das massas, enquanto os Cultos de Jesus e das Comunidades Essénias, apesar das perseguições, continuavam a espalhar-se, e a ameaçarem os interesses empossados de Roma. Desta forma, Constantino decidiu reunir o Concílio de Niceia no ano 325 A.D., com o propósito de estabelecer não a Religião, mas uma religião que respondesse às necessidades políticas do Estado. Assim, determinaram assumir a popularidade desfrutada pelos seguidores de Jesus, o Essénio, apoderaram-se das suas doutrinas principais e substituíram o Evangelho Humanista de Cristo, por um menos radical, que agradasse a Constantino, o denominado Novo Testamento, ou seja, os “Quatro Evangelhos”.
A tarefa dos Clérigos Romanos consistia em destruir todos os registos antigos, incluindo os que respeitavam a Jesus e ao seu ministério Essénio Cristão. A Biblioteca de Alexandria e outras bibliotecas antigas foram queimadas, muitos Templos foram destruídos. O Mundo ficou em trevas, mas com o conhecimento da Ciência Espiritual moderna nunca o mundo recebeu tanta luz, assim seja digno de a ver. Felizmente, o bem e a Verdade perduram sempre, pois os Mestres que velam pela nossa Evolução nunca iriam permitir que o mundo permanecesse na ignorância permanente. Miraculosamente, alguns livros e manuscritos foram levados em segredo para o Oriente e preservados entre os Manuscritos dos Mosteiros Budistas, no Tibete, apesar de todos os esforços dos expedicionários das cruzadas, no interesse do Papado, para os destruir.
Não é minha intenção acusar o que está ou não errado na Religião Católica, pois sou grande defensora da mesma, na sua versão original. Afinal, a Igreja tem seguido os textos aceites, legados e impostos pelos seus antepassados, e não tem feito mais do que cumprir cegamente o que lá está determinado, por total ignorância ou desinteresse pela existência de outros mais completos e verdadeiros, que poderiam, decerto, ter dado origem a uma melhor vivência humana se fossem conhecidos desde os seus primórdios. Nem a religião actual, nem os seus representantes têm culpa dos erros dos antepassados. Deviam era reconhecer, desde logo, o que já é do conhecimento da humanidade, e abrir-se aos novos acontecimentos e descobertas, adquirir a sabedoria dos ensinamentos legados por Jesus e transmiti-los aos seus fiéis, para que se crie uma Igreja e sociedade melhores.
É importante conduzir todos os homens para a evolução e a Igreja Católica poderia ser a pioneira deste movimento revolucionário! Bem dizia a tradição Portuguesa do V Império, o do Espírito Santo, nas Profecias de Bandarra, que o Padre António Vieira deu crédito: «Depois da idade das crenças, da mente subjectiva, viria a idade da ciência». Esta mudança da mente permite hoje olhar para os ensinamentos de Jesus, não por crença, mas como Ciência Perfeita, que é a da Idade do Espírito Santo.
Atendendo a esta época natalícia e ao mencionado no “Evangelho dos Doze Consagrados”, correspondente à tradução para o Inglês do original em Aramaico, sobre a mesma, gostaria de referir o que ele diz, resumidamente.
No que concerne à Imaculada Concepção e Natividade de Jesus o Cristo, o Evangelho fala numa parte que já conhecemos e acrescenta um pouco mais de texto. Começa por dizer que: «O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, Nazaré, para visitar uma virgem chamada Maria, que desposara José, da casa de David. José possuía uma mente justa e racional, e era especialista em todos os trabalhos de madeira e pedra. Maria tinha uma alma terna e perspicaz, e havia-se dedicado completamente ao serviço do Templo. Ambos eram muito puros perante Deus, e deles nasceu Jesus-Maria, que foi chamado de Cristo. O Anjo veio até ela e disse: “Salve Maria, ó cheia de graça, o Senhor está convosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito o fruto do vosso ventre”. Maria ao ouvi-lo ficou perturbada e interrogou o Anjo sobre aquelas palavras, pelo que ele referiu que não tivesse receio, pois estava cheia de graça perante Deus e que iria conceber e dar à luz um filho, que seria grande e poderoso, e Filho do Altíssimo. O Senhor dar-lhe-ia o trono do Seu Pai David e reinaria eternamente sobre a casa de Jacob, e o seu reino não teria fim. Maria então retorquiu que isso não poderia acontecer pois ela não se relacionava com o homem. Ao que o Anjo lhe respondeu que o Espírito Santo viria sobre José, o esposo, a força do Altíssimo estenderia a Sua protecção, e o Santo que iria nascer chamar-se-ia Filho de Deus, cujo nome na Terra seria Jesus-Maria, que salvaria o povo dos pecados, e todos aqueles que se arrependessem e obedecessem à Sua Lei. Depois advertiu-a que não poderia ingerir qualquer tipo de carne de animais, nem beber bebidas fortes, pois a criança seria consagrada a Deus a partir do seu ventre, e que nunca ingeriria carne, nem bebidas fortes, nem qualquer navalha lhe tocaria na cabeça. Mencionou, também, que a sua prima Isabel havia concebido um filho na sua velhice, ela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível. Maria, perante isso, entregou-se como escrava do senhor e que se cumprisse a sua palavra. No mesmo dia o Anjo apareceu num sonho a José, que ficou perturbado quando o Anjo lhe disse que a graça do Pai estava com ele, e que era bendito entre os homens pelo fruto da sua força geradora. O Anjo acrescentou que ele estava cheio de graça e que não tivesse receio de receber Maria como esposa, pois o que ela conceberia seria obra do Espírito Santo, pois daria à luz um filho, que salvaria os povos dos pecados. José ao despertar do sono fez o que o Anjo ordenou, recebeu Maria como sua mulher e ela concebeu no seu ventre o Senhor. Entretanto, Maria foi à pressa a uma cidade da Judeia, para visitar a casa de Zacarias e saudar Isabel. O menino, ao ouvir a saudação de Maria, saltou de alegria no seio de Isabel, que ficou cheia do Espírito Santo, dizendo a Maria que Ela era bendita entre as mulheres e bendito era o fruto do seu ventre. Maria disse-lhe que a sua alma glorificava o Senhor e o seu espírito exultava de alegria em Deus, o Salvador, e que a partir de então todas as gerações haveriam de a chamar “ditosa”. E, após proferir várias palavras de glória ao senhor, ficou na casa de Isabel cerca de três meses, regressando, então, a casa. José, também, proferiu palavras de glorificação a Deus e prometeu que iria proteger e fazer de Jesus a promessa divina do povo, para renovar a face da Terra, dar liberdade aos cativos e àqueles que viviam nas trevas. Sendo que Jesus permitiria deixar entrar a luz e ensinaria o povo a alimentar-se com hábitos agradáveis, nunca mais caçariam nem inquietariam as criaturas inferiores. Não teriam mais fome ou sede, o calor não mais os feriria, nem o frio os destruiria, e os lugares elevados seriam exaltados. E, José acrescentou: «Cantem os céus e haja regozijo na terra; rompam pelos desertos com o cântico dos cânticos, por que Vós, ó Deus que ofereceis o conforto ao vosso povo; consolai-os que sofreram injustiças».
Quanto ao Nascimento de Jesus Cristo, o ensinamento do Evangelho começa por dizer: «Naqueles dias havia saído um Édito, da parte de César Augusto, para o recenseamento de toda a terra. Foi o primeiro recenseamento que se fez, e todo o povo da Síria foi recensear-se, cada qual à sua própria cidade, na altura do solstício do Inverno. Também, Maria e José deixaram a cidade de Nazaré, na Galileia, e foram até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, para se recensearem, estando Maria no final da gravidez. Ao se encontrarem em Belém, Maria deu à luz, e lá teve o seu filho primogénito, numa gruta, envolveu-o em panos e deitou-o numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria. Surpreendentemente, a gruta encontrava-se iluminada, com muitas luzes, doze em cada lado, que brilhavam como o Sol na sua glória. Na gruta havia um boi, um cavalo, um burro e um carneiro, e debaixo da manjedoura estava um gato com as suas crias, e algumas pombas esvoaçavam por cima pelo tecto, e cada animal tinha o seu companheiro, conforme a sua espécie. Jesus nasceu no meio dos animais, que através da redenção do homem, pelo seu egoísmo e ignorância, tinha vindo para redimi-los dos sofrimentos. Naquela região, encontravam-se alguns pastores, que costumavam pernoitar nos campos a guardarem os rebanhos. O Anjo do Senhor apareceu-lhes e ficaram com medo, pois a glória do Senhor refulgia à sua volta. O Anjo disse-lhes para não temerem, pois vinha anunciar-lhes que tinha nascido um Salvador, na cidade de David, que era Cristo, o Consagrado de Deus, e que encontrariam um menino envolto em panos, deitado numa manjedoura. Outros Anjos se juntaram e glorificaram a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. Os pastores foram visitar Maria e José na gruta e quando viram o Menino começaram a dizer o que tinham ouvido sobre Ele, e todos se admiraram. Ao completarem-se os oito dias, após os quais deveria ser circuncidado, deram-lhe o nome de Jesus-Maria, indicado pelo Anjo. E, segundo a Lei de Moisés, depois de se ter completado o tempo de purificação, levaram-No a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor. Residia em Jerusalém um homem muito justo e piedoso, chamado Simeão, que esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo habitava nele. Havia-lhe sido revelado que não morreria sem antes ver o Messias do Senhor. Então, impelido pelo Espírito foi ao Templo e viu a criança como um pilar de luz, tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo que poderia partir em paz, pois os seus olhos já tinham visto a Salvação. Simeão abençoou Maria e José e disse-lhes que o Menino tinha vindo para que se desse a queda e o ressurgimento de muitos em Israel, e para ser um sinal de contradição, pois uma espada trespassaria a sua própria alma, a fim de se manifestarem os pensamentos de muitos corações. Também lá se encontrava uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, de idade avançada, que nunca se afastava do Templo, servindo a Deus, noite e dia, com jejuns e orações. Ela pôs-se a louvar a Deus e a falar do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Maria, José e o Menino regressaram a Nazaré, após terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava».
Como se poderá constatar, aparecem alguns pormenores omitidos nos textos que conhecemos, entre eles os animais na gruta. Se os animais representarem os corpos da personalidade, teremos a descrição de cinco animais, que são cinco princípios, colocando problemas de identificação, pois são três ou quatro noutras religiões. Temos que ter em mente que os mitos religiosos podem não se referir a factos históricos, mas sim universais.
   


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