Fundação Maitreya
 
A Evolução de Pinturas Miniaturas na Índia

de Harinder Sekhon

em 14 Mai 2007

  Os indianos sabiam a arte de pintar desde tempos antigos e esta arte prevaleceu praticamente em todo o país. Encontraram-se os exemplos da época mais inicial em grutas primitivas e abrigos de rocha ao redor de Mirzapur e Banda em Uttar Pradesh, o monte Mahadev da cadeia Vindhya em Bundelkhand, o monte Kaimur na área de Bagelkhand, Singapur no distrito de Raigarh da Índia Central e em Ballary no Sul da Índia. Estas pinturas consistem principalmente em cenas de caça e representam homem em encontro com animais selvagens.


Embora a técnica de realização seja rude, as representações são vividas. Pigmento vermelho foi usado livremente. Todas estas pinturas mostram uma afinidade notável com as pinturas bem conhecidas encontradas em abrigos de rocha na Espanha que são atribuídas ao homem neolítico. Escavações em Mohenjodaro, Harappā e noutros sítios, onde se encontram os restos da civilização do Vale do Indo, mostram que estes povos também adquiriram grandes habilidades em pintura. Os seus objectos de olaria foram pintados lindamente com motivos geométricos e florais.
A arte de pintura na Índia antiga alcançou o seu cume durante o reino da dinastia imperial dos Guptas. O período chama-se justamente a Idade de Ouro da Índia antiga. Encontram-se os exemplos mais ilustrativos das pinturas Gupta nas pinturas a fresco nas paredes das Grutas de Ajanta, nas Grutas de Templo de Bagh em Gwalior e no Templo de Sittannavasal em Puddukkottai.

Sob o impacto de Islão, pintores indianos começaram a prestar atenção a pinturas miniaturas e ilustrações de livros. Embora evidência literária mostre que a arte de pintura miniatura prevaleceu na Índia muito antes do advento dos muçulmanos, faltara-lhe profundeza e delicadeza. As miniaturas indianas mais antigas a sobreviver foram pintadas sobre folha de palma e foram encontradas no Leste da Índia. Estas pertencem ao período entre 770 e 1126 d.C. quando as regiões correspondentes às províncias modernas de Bihar e Bengala foram reinadas pela dinastia de Palas. Os Palas foram budistas e o seu reino testemunhou o florescimento final do budismo e a arte budista na Índia. Os grandes monastérios de Nalanda, Odantapuri, Vikramsila e Somarupa tornaram-se em centros bem conhecidos de ensino e cultura em todo o mundo budista. Durante o reino de reis Dharmapala (770-815 d.C.) e Devapala (815-854 d.C.) Dhiman, artista dotado proveniente de Varendra (Bengala Ocidental), e o seu filho Bitpalo produziram muitas pinturas notáveis.

O tema das miniaturas Pala são as divindades do Budismo Mahāyāna representadas numa dimensão pequena nos manuscritos de palma. Pode-se ver um exemplo magnificente do manuscrito tipicamente budista de palma ilustrado no estilo Pala na Biblioteca Bodleian em Oxónia. É um manuscrito de Astasahasrika Prajnaparamita (Perfeição de Sabedoria), o texto fundamental em que a filosofia budista de «vácuo» é baseada. Foi escrito em oito mil versos e foi pintado no mosteiro de Nalanda no décimo quinto ano do reino do rei Rampala da dinastia Pala no último quarto do século onze. O manuscrito tem seis páginas de ilustrações além do interior da capa de frente bem como de trás que são de madeira. A ilustração sobre a capa do livro representa a própria Prajnaparamita, o Bodhisattva (o Buddha numa das suas vidas anteriores) com quatro braços. Duas mãos estão fazendo gestos de ensinar, as outras duas estão segurando um rosário e um livro de palma. A composição é simples com linhas sinuosas e tons atenuados dominados por um sentimento de devoção que se desenvolveu nas fases tardias do Budismo Mahāyāna. O seu estilo naturalista parece-se com as formas ideais de esculturais contemporâneas de bronze e pedra.
A arte Pala encontrou um declínio súbito depois da destruição dos mosteiros budistas na mão de invasores muçulmanos nos primeiros meados do século XIII. Alguns dos monges e artistas fugiram para Nepal, o facto que apoiou a reforçar as tradições prevalentes de arte ali.

Entre os séculos XI e XVI, a arte de pintura miniatura também floresceu em Gujarat e nos territórios adjacentes de Malwa e Rajastão na Índia ocidental. Aqui esta tinha duas fases distintas de desenvolvimento. Os manuscritos datados do período inicial foram realizados em folhas de palma e mais tarde sobre papel até o século XVI. A substituição da folha de palma, que era inconvenientemente estrita e frágil, por papel feito à mão alterou radicalmente a arte de pintura miniatura na Índia. Os pormenores de colorido, composição, delineação e decoração melhoraram imensamente. A força motriz atrás da actividade artística na Índia ocidental foi o Jainismo, visto que esta região tinha muitos centros importantes de comércio habitados por comunidades de jainistas negociantes prósperos e influentes. Os ricos negociantes jainistas de Gujarat foram grandes patrões de arte. Eles encarregaram um grande número de textos sagrados jainistas que foram escritos e ilustrados lindamente e apresentados por eles aos seus preceptores para ganhar mérito religioso. Estes tesouros de arte sobreviveram às invasões muçulmanas e oferecem contribuição valiosa ao estudo de evolução e desenvolvimento da arte de pintura neste período. O Jainismo também foi patrocinado pelos reis da dinastia de Chalukyas que dominaram em Gujarat e nas partes de Rajastão e Malwa do século X ao século XIII.

As pinturas miniaturas de palma datando do período inicial geralmente representem uma única divindade com as figuras de doadores contra um fundo púrpura, vermelho ou azul com as cores amarelas, branca e verde completando a paleta.
Uma maior variedade de temas foi introduzida a partir do século XIV quando frisos de elefantes, cisnes e motivos florais foram pintados nas margens das páginas para o objectivo de decorar. Introduziu-se o uso generoso de ouro e prata em escrever o texto para melhorar a qualidade dos manuscritos.
As ilustrações nos manuscritos não podiam ser muito simétricas. As figuras são de uma estatura curta com feições angulares, olhos projectando-se para fora no espaço e caras representadas muitas vezes em perfil. O nariz é definido, em bico e proeminente. Os olhos, peitos e ancas são alargados. Todavia, as miniaturas são requintadas, cheias de vida e têm um bom esquema de cor.
Para preparar os manuscritos ilustrados, duas pessoas foram empregadas – um escritor para o texto que deixou espaços brancos para ilustração, e um pintor que preencheu os espaços brancos mais tarde.

Os manuscritos foram geralmente conservados entre duas capas de madeira, que foram também pintadas com ilustrações de temas jainistas. Muitos destes manuscritos são disponíveis nos templos e bhandars (bibliotecas) jainistas em vários lugares na Índia ocidental, por exemplo, em Patan, Cambay, Jaisalmer e Bikaner.
Antes do fim do século XV, o estilo persa começou a influenciar o estilo de pintura da Índia ocidental. Um número de manuscritos da Pérsia foram copiados na Índia, que ofereceu uma oportunidade aos artistas indianos para ver e estudar arte persa. A ascendência persa é evidente na expressão facial e no uso de cenas de caça que aparecem nas margens de alguns manuscritos ilustrados do Kalpasutra em Ahmedabad.

Os exemplos mais requintados de pintura pertencendo aos primeiros meados do século XVI são representados por um grupo de miniaturas geralmente designado como o grupo de Kulhadar, que inclui ilustrações da Chaurapanchasika, uma colectânea de fólios isolados apresentando uma grande variedade tais como Gītā Govinda, o Bhagavata Purāṇa e o Rāgamala. O estilo destas miniaturas destaca-se pelo uso de cores brilhantes e contrastantes, desenho vigoroso e angular, roupagens transparentes, e a aparência de chapéus cónicos (Kulhas) sobre quais as figuras masculinas trazem turbantes. As pinturas pertencem à fase transicional destacando o desenvolvimento do estilo da Índia ocidental para o estilo inicial Rajasthani. A realização graciosa da figura humana é especialmente uma característica encantadora e prevalecente desta nova fase com um vasto reportório de motivos e desenhos. Estas miniaturas geralmente têm um fundo vermelho, e nalguns casos azul, verde ou amarelo. A composição básica destas obras é variada e livre de convenções estabelecidas. Os temas populares que abriram novas perspectivas para os artistas foram as lendas de Kṛṣṇa, Rāgamala, contos populares de Laur Chanda, Mrigavat entre outros. Estas miniaturas contribuíram imensamente ao surto e evolução dos estilos Rajasthani de pintura.

Cortesia da Revista India Perspectives
   


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