Fundação Maitreya
 
Superação

de Maria

em 20 Fev 2008

  A forma como se entendem hoje, principalmente no Ocidente as doutrinas seja do Yoga ou de outras filosofias da Índia, seja do Budismo nas suas diversas correntes, no que concerne à meditação tende a esvaziar o seu conteúdo religioso, místico e espiritual. Valoriza-se sobremaneira as práticas corporais e acções exteriores, verdadeiramente dispersantes, que afastam e invertem consideravelmente o verdadeiro sentido espiritual e original das doutrinas, métodos ou religiões.


E o porquê da Meditação

Pratica-se Yoga sem o fundamento espiritual e por isso sem uma base segura, honesta que conduza à auto-realização, sendo esta a verdadeira finalidade da Meditação. O fundamento do Yoga, seja o Rāja-Yoga, de Patañjali seja de outros sistemas são na realidade única e exclusivamente para a superação humana e para o encontro com o Absoluto, quer ele seja chamado de Īśvara ou Samādhi, no caso do Yoga, Brahman ou Não-Existência, no caso do Vedānta e de outras darśanas da tradição indiana, ou ainda de Vazio ou Nirvāna no Budismo.
Pratica-se meditação Zen, sem o aprofundamento da filosofia budista que é o suporte para uma atitude mental elevada, apenas porque é moda ou porque se quer ter paz a todo o custo, consistindo isto num vazio de sentido mais elevado de sublimação ou realização espiritual. De facto, muitos desesperadamente procuram a paz, mas nunca a encontram porque se esqueceram de Deus. A paz só será restaurada no coração pelo encontro com Ele.

Meditar para quê?
Como acima referi, não se pode dissociar as práticas de Meditação do seu conteúdo mais sagrado, que é o sentido religioso, transcendente, o respeito pela vida, por si próprio e pelos outros, o que conduz à razão fundamental da nossa existência: sermos cada vez mais conscientes do Divino, sem separações do sagrado e do profano. A Meditação, que tem as suas origens na Índia, onde se fala tanto de iluminação, tem como objectivo último acabar com as múltiplas incarnações terrenas. De facto, a via da iluminação é um caminho de santidade.
Para que a prática da Meditação seja eficaz exigem-se certas regras e são poucos os que aceitam submeter-se à disciplina de uma tradição autêntica e, também, poucos são capazes de encetar a sua própria disciplina livremente. Contudo, não convém esquecer que o verdadeiro motivo ou razão de meditar é a União, ou o Samādhi, como é conhecido na terminologia indiana. Só com este objectivo ocorrerá a auto-transformação na alegria das realidades mais elevadas; porque, apenas querer paz na mente para ultrapassar o stress, acaba por ser um engano, uma auto-ilusão.

Através da Meditação atinge-se a realização tanto humana quanto a espiritual e isto quer dizer superação. Superar-se a si mesmo através da realização espiritual é fundamental para o caminho da libertação das amarras terrenas. E não basta uma entrega devocional a Deus, onde não há, na maior parte das vezes, o seu conhecimento, mas é também necessário pela inteligência, descobrir as suas debilidades psíquicas e até muitas vezes as físicas e compreender que elas resultam da falta de crescimento espiritual. Superar as nossas fraquezas não é fugir aos problemas, pelo contrário: a Meditação serve para nos tornar conscientes e pela compreensão destruir esses obstáculos que bloqueiam a mente e o corpo. Superar é encontrar um modo inteligente de viver aquilo que somos como ser humano e, no que isso tem de mais nobre, que é o ser responsável pelo seu próprio bem-estar e felicidade. A Meditação dá-nos essa força e o equilíbrio necessários para combatermos as fraquezas, sejam elas a preguiça, a raiva, a indolência ou o egoísmo etc.
Há pessoas que se deleitam até nas suas debilidades com gosto de serem vítimas de alguma coisa, culpando sempre alguém das suas fraquezas. Um ser que empreenda a tarefa de conhecer-se a si mesmo, vem a reconhecer que sentimentos tais como a melancolia, o desânimo, a raiva, a revolta e tantos outros são inferiores e que emocionalmente destroem a mente e corroem o coração. Perante esta descoberta encontra em si próprio razão para os destruir, e isto é ser Consciente! Assim, sempre que este tipo de sentimentos aflua a nós, devem ser banidos simplesmente da mente.

Acabar com as limitações e alcançar estados superiores de vivência humana e espiritual, eis razões profundas para meditar. A Meditação clarifica a mente e mais facilmente podemos dar com os nossos próprios obstáculos.
Aprende-se com esta tomada de consciência a bastar-se a si mesmo, não se culpando os outros das suas próprias frustrações e desgraças e percebendo-se que o sofrimento é causado pela própria mente, tornando-a até doentia. Todas as doenças provêm da mente, causadas nesta vida ou nas anteriores (karma). *
A Meditação fortalece e estrutura o cérebro, pois através da aquietação mental e do silêncio, o cérebro tem a oportunidade de estabelecer o seu ritmo e assegurar uma mente saudável. A mente da maioria das pessoas é caótica, sempre a pensar, mergulhada na confusão. Numa mente calma sobressai a lucidez e a nobreza do pensar, pelo que resulta maior equilíbrio, contribuindo para o consequente alargamento de Consciência. Assim, a superação é uma prova de fortaleza interna, de crescimento, de qualificação mental, psíquica e espiritual.

A evolução ou alargamento de consciência pode processar-se também por relâmpagos, súbitos momentos de clareza mental, que engloba compreensões momentâneas, tão evidentes e penetrantes que ficam na Consciência como um dado adquirido, o que constitui uma realização pessoal.
Esta senda de realização que consiste no despojamento, desapego e renúncia, desenvolve valores ou virtudes, que superam os obstáculos e as aparências. O desapego é condição necessária na vida espiritual, quer dos objectos externos ou ilusão mundana, quer de nós próprios, iludidos nos conceitos, orgulhos, ambições e auto-convencimento.
Despojamento ou desapego de desejos, significa libertar-se da opressão dos desejos, contudo, requer um longo caminho onde os desejos desaparecem pela sublimação, deixando-se assim de se ser escravo deles. A renúncia consiste em libertarmo-nos de todo o supérfluo.
Todas as filosofias da Índia incluindo o Budismo nos falam desta superação, através da tomada de Consciência. Nos Yoga-Sūtras é pela concentração através do saṃyama que se destrói as aflições; no Vedānta Advaita é tornar-se consciente de Brahman, Deus; no Jainismo é pela renúncia consciente ao desejos e, no Budismo é pela plena atenção que se acaba com o sofrimento, no aqui e agora.

Concluindo, a Meditação é o meio seguro e transparente para a realização espiritual. Seguro, porque depende apenas de cada um, ser honesto consigo próprio numa atitude de vida correcta. Está sempre “à mão” para ser usada quando necessária; não depende de tempo nem de espaço, apenas requer firmeza no objectivo, que é a União Divina. Transparente porque é isenta de ritualismos, de doutrinas dogmáticas, de condicionalismos mentais e espaciais e, aberta a horizontes longínquos que ultrapassam os laços e os problemas conflituantes da vivência terrena. Conduz à liberdade da auto-realização, onde a Realização conduz à Libertação.
Passo a citar breves trechos sobre Meditação inseridos noutras obras de minha autoria:

«Meditação: a sua prática produz um potente tónico que revitaliza todas as células, pois fornece um manancial de vibrações provindas do seu próprio Ser Supremo, Espírito e, irradiando benéficas energias, elevam e fortalecem a mente, e despertam o conhecimento do Divino. A Meditação constitui uma forma de fixar o seu próprio fluxo energético, permitindo realizar a justa relação entre a mente e Deus».

«Deus pode manifestar-se nos seres de diversas formas e conforme os seus estados de consciência. Assim, são recebidos tanto a Irradiação de Amor, como a Sua Inteligência, por graus cuja intensidade varia de acordo com a preparação espiritual. Essa Irradiação pode vir como um bálsamo de luz para o coração, expandindo-o, mas depende do receptor, pois quanto mais pureza e fé existirem, maior capacidade haverá para abarcar o fluxo de energia Divina que, penetrando na camada interior mais profunda do ser, provoca aquele estado que é chamado de samādhi».

«Outra forma da Sua manifestação acontece, quando o ser está pronto a receber Deus em sua mente, e sabe entrar simultaneamente na Mente de Deus. E através da Realização interior, Conhecimento e Inteligência, sabe, conhece e ama a Deus, não só com o seu coração, mas também com o cérebro, inteligentemente».

«Na realidade, o objectivo da evolução humana é conhecer Deus inteligentemente ou seja: obter através da Vontade, a capacidade de comunicar-se com Deus ou Mente Divina pela razão Consciente. A iluminação constitui este Conhecimento, esta responsabilidade e assenta a mente na razão pura, cristalina. A união com Deus é uma relação inteligente. Penetrar na Essência Divina pela razão inteligente, é o que faz o Homem ser Consciente. Nesta comunhão beatífica dilui-se na energia pura da Mente de Deus, pois Deus é Inteligência, e ela pode manifestar-se como uma luz alvíssima cristalina, que flui pelo cérebro e propaga-se como uma onda de luz, ou de som, que, liberta de obstáculos, difunde-se pela mente. Este é um alto samādhi, que só realiza quem conhece ou tem a certeza de Deus».

Karma *. Seria de grande injustiça, senão houvesse a possibilidade de reparar o karma, que são as más acções acumuladas em cada vida. Este representa uma caixa de Pandora, que salta quando necessário, não só como colheita da transmutação, como das energias corrompidas. O karma é a cristalização do dharma. Isto é o que contribui para uma linha de continuidade de vidas, até à superação completa das acções e assim parar o dharma e o karma.
   


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