Fundação Maitreya
 
Os Ensinamentos de Jesus

de Lubélia Travassos

em 23 Mar 2010

  Depois de proferir tudo isso, Jesus levantou-se, e todos o seguiram pelo Monte das Oliveiras abaixo, rumo à cidade. Nenhum dos Apóstolos sabia para onde Ele estava indo, a não ser três deles. Enquanto passavam pelas ruas estreitas sob a escuridão da noite, as multidões apertavam-nos, mas ninguém os reconheceu, nem sabia que o Filho de Deus estava a passar por ali, a caminho do último encontro mortal com os seus embaixadores do Reino. Nem os Apóstolos sabiam que um deles já tinha entrado numa conspiração para atraiçoar o Mestre, entregando-o nas mãos dos seus inimigos. Ao entrarem o portão da cidade, João Marcos, que os tinha acompanhado todo o caminho até à cidade, apressou-se por outra viela, para esperá-los na casa do pai e lhes dar as boas vindas quando chegassem, para darem início e acompanharem o Mestre na sua última Ceia…


Aos Apóstolos Antes da Última Ceia

O Livro de Urântia, uma obra excepcional, com mais de duas mil páginas, constituída por quatro partes ou livros, revela-nos os mistérios de Deus, do Universo, de Jesus e também de nós mesmos. Nos anais de Urântia descobrimos excertos dos arquivos de Jerusalém, que dizem respeito aos antecedentes e à história inicial do nosso planeta, que nos tempos primórdios se denominava Urântia. A IV parte do livro é exclusivamente dedicada à “Vida e Ensinamentos de Jesus”, descrevendo inclusive acontecimentos que precederam ao seu nascimento. Este artigo reporta-se a um pequeno resumo dos Seus ensinamentos, dados nos últimos momentos passados com os doze Apóstolos, os discípulos escolhidos e com os seguidores de confiança, tanto judeus como gentios, em reunião social, assim como do discurso proferido no último dia de acampamento.
Na noite da quarta-feira que antecedeu à crucificação, o Mestre esteve em reunião social no acampamento, empenhado em alegrar os seus Apóstolos que se encontravam abatidos, ainda que isso fosse quase impossível. Eles tinham começado a compreender os terríveis acontecimentos que estavam na eminência de sobrevir, e nem mesmo as recordações dos anos de associação afectuosa e de muitos eventos citados por Jesus conseguiram demovê-los da sua tristeza.

Durante a reunião, o Mestre advertiu os seus seguidores para que tomassem cuidado com o apoio das multidões. Recordou-lhes as experiências tidas na Galileia, quando muitas vezes grandes multidões de pessoas os tinham seguido com grande entusiasmo e de repente se voltaram ardentemente contra eles, retornando depois aos seus antigos caminhos de crença de vida. Jesus disse-lhes que não ficassem decepcionados com as pessoas que os ouviram no Templo e que pareciam acreditar nos seus ensinamentos, porque essas multidões, embora oiçam a verdade, acreditam nela mentalmente de um modo superficial, e só uns poucos permitem que a palavra da verdade lhes toque o coração de uma forma viva. Isto é, aqueles que conhecem o evangelho apenas pela mente, e não o experimentarem no seu coração, não poderão ser de confiança para dar qualquer apoio quando aparecerem os verdadeiros problemas.

Fez-lhes ver, além disso, que quando os dirigentes Judeus entrassem definitivamente em acordo para destruir o Filho do Homem, observariam a multidão fugir desanimada ou ficar atónita em silêncio, enquanto os dirigentes na sua loucura e cegueira conduzissem à morte os instrutores da verdade do evangelho. E mais, quando a adversidade e a perseguição descessem sobre eles discípulos, existiriam outros ainda, que eles pensavam ser amantes da verdade que se dispersariam, sendo que alguns não só renunciariam ao evangelho como também iriam desertar. Inclusive muitos do que tinham estado perto deles já tinham decidido fazê-lo. Pediu-lhes que descansassem nesse dia a fim de se prepararem para os tempos que viriam breve. Sugeriu-lhes ainda que vigiassem e orassem, para que no dia seguinte pudessem sentir-se fortalecidos para os dias que teriam de enfrentar.

Era notório que a atmosfera do acampamento se encontrava carregada de uma tensão inexplicável. Mensageiros em silêncio iam e vinham, comunicando apenas com Davi Zebedeu, e antes de terminar a noite alguns já sabiam que Lázaro tinha fugido de Betânia apressadamente. Após retornar ao acampamento João Marcos permanecia silencioso e sinistro, ainda que tivesse passado o dia todo na companhia do Mestre. Embora se esforçassem para persuadi-lo a falar, notaram de forma clara que Jesus lhe tinha dito para não contar nada. No entanto, o bom humor do Mestre e a sua sociabilidade inusitada amedrontava-os, pois todos sentiam a aproximação certa de um isolamento terrível, que compreendiam iria cair sobre eles com uma rapidez esmagadora e aterrorizante. Eles pressentiam, de forma vaga, o que estava para vir, e sabiam que nenhum deles estava preparado para enfrentar as duras provas, pois enquanto o Mestre estivera fora o dia inteiro, sentiram demasiado a sua falta.

Essa quarta-feira à noite havia marcado o ponto mais baixo do status espiritual de todos até à hora real da morte de Jesus. Embora o dia seguinte estivesse cada vez mais próximo da trágica sexta-feira, afinal Jesus tinha permanecido entre eles, o que lhes permitiu passar aquelas horas ansiosas um pouco mais condignamente. Pouco antes da meia-noite, sabendo o Mestre que seria a última noite que passaria a dormir junto à sua família escolhida na Terra, disse-lhes para irem dormir um sono reparador, e que a paz estivesse com todos até se levantarem na manhã seguinte, no dia em que seria feita a vontade do Pai, e recomendou-lhes que experimentassem alegria por saberem ser filhos do Pai.
Chegada a quinta-feira, o último dia no acampamento, Jesus havia planeado passar aquele derradeiro dia livre, como um Filho divino encarnado na Terra, junto com os seus Apóstolos e uns poucos discípulos leais e devotos. A seguir à hora do desjejum, daquela bela manhã, o Mestre conduziu-os a um local retirado, a pouca distância acima do acampamento, e lá começou a ensinar-lhes muitas novas verdades. Se bem que Jesus tenha feito outros discursos aos Apóstolos durante as primeiras horas da tarde, aquela conversa tida antes do meio-dia de quinta-feira serviria de despedida para os vários grupos do acampamento, dos Apóstolos e discípulos escolhidos, tanto Judeus como gentios. Os doze Apóstolos estavam presentes, menos Judas. Pedro e alguns dos companheiros notaram a sua ausência, e chegaram a pensar que Jesus o tivesse enviado à cidade para cuidar de alguma questão relacionada com o acerto dos detalhes para a celebração da Páscoa. Contudo, Judas só retornou ao acampamento a meio da tarde, um pouco antes de Jesus conduzir os doze a Jerusalém para partilharem a Última Ceia.

O Mestre começou então a proferir o seu discurso matinal durante quase duas horas, a cerca de cinquenta dos seus seguidores de confiança, e respondeu também a uma série de perguntas relacionadas com o Reino dos Céus e os reinos deste mundo. Discursou igualmente sobre a relação entre a filiação a Deus e a cidadania nos governos terrenos. No seu discurso, Jesus declarou que sendo os reinos deste mundo materialistas, seria frequente e necessário considerar o emprego da força física a fim de executarem as suas leis e manter a ordem. Lembrou-lhes, porém, que no Reino dos Céus, os verdadeiros crentes nunca recorreriam ao emprego da força física, visto que sendo aquele Reino uma fraternidade espiritual, de filhos nascidos do espírito de Deus, só poderia ser promulgado pelo poder do espírito. Sendo que a distinção do procedimento se referia ao relacionamento do Reino dos crentes com o reino do governo secular, isso não anularia o direito daqueles grupos sociais terem de manter a ordem nas suas fileiras e de administrarem a disciplina junto dos membros rebeldes e indignos.

Continuando o seu discurso Jesus explicou que não havia nada de incompatível entre a filiação no Reino espiritual e a cidadania no governo secular ou civil. O crente tinha o dever de conferir a César as coisas que eram de César e a Deus as coisas que eram de Deus, e não podia haver qualquer desacordo entre estas duas questões, visto uma ser material e a outra espiritual. Salvo se acontecesse, que algum César tivesse a presunção de usurpar as prerrogativas de Deus, e exigisse que lhe fossem conferidas a homenagem espiritual e a suprema adoração. Neste caso deveriam adorar apenas a Deus, e ao mesmo tempo tinham a obrigação de tentar esclarecer aqueles dirigentes terrenos, mal orientados, a fim de poder conduzi-los, dessa forma, também ao reconhecimento do Pai no Céu. O Mestre recomendou que nunca devia ser prestado culto espiritual a dirigentes terrenos, nem empregar as forças físicas dos governos, cujos dirigentes pudessem, em qualquer altura, se tornar também crentes, no sentido de trabalharem para fazer progredir a missão do Reino Espiritual.

O Mestre prosseguiu a sua oratória, dizendo-lhes que a filiação ao Reino, do ponto de vista da civilização avançada, deveria ajudá-los a se tornarem cidadãos ideais dos reinos deste mundo, uma vez que a fraternidade e o serviço são as pedras fundamentais do evangelho do Reino dos Céus. O chamamento de amor ao Reino Espiritual deveria ser o principal e eficaz destruidor do instinto odioso dos cidadãos descrentes e belicosos dos reinos primitivos. Infelizmente, esses filhos de mentes materialistas, que vivem nas trevas, nunca teriam conhecimento da luz espiritual para a verdade, a não ser que eles se aproximassem bem perto deles, naquele serviço social generoso, que surge de forma natural como o fruto do espírito que cresce na experiência de vida de qualquer indivíduo que crê. Que tivessem em conta, que como homens mortais e materiais, eles eram, no entanto, cidadãos dos reinos terrestres, por isso tinham a obrigação de ser bons cidadãos. Além do mais, seria ainda melhor que se tornassem filhos renascidos do espírito do Reino dos Céus. Pois, sendo filhos esclarecidos pela fé, e com espíritos libertos do Reino dos Céus, encontrar-se-iam perante a responsabilidade dupla do dever para com o homem, e do dever para com Deus, assumindo, ao mesmo tempo, uma terceira e sagrada obrigação do serviço à irmandade dos crentes que conhecem Deus. No Evangelho do Reino residia o poderoso Espírito da Verdade e, em breve, iriam verter esse espírito sobre toda a carne. Na verdade, os frutos do espírito do serviço dedicado e sincero seriam uma poderosa alavanca social para elevar as raças, tirando-as das trevas, e esse Espírito da Verdade tornar-se-ia o ponto de apoio para a multiplicação do poder.

Então, o Mestre continuou a dizer-lhes que dessem sempre mostras de sabedoria, e que manifestassem sagacidade no trato com os dirigentes civis descrentes. Para que houvesse melhor discernimento, seria bom que se mostrassem hábeis na remoção das diferenças menores, assim como no ajuste dos pequenos mal-entendidos, da melhor forma possível, para não exigir o sacrifício de lealdade espiritual aos dirigentes do Universo. Sugeriu que procurassem viver sempre pacificamente com todos os homens, e serem sábios como as serpentes, mas inofensivos como os pombos. Explicou-lhes ainda que, para que os dirigentes dos governos terrenos se tornassem melhores nos assuntos civis, ao acreditarem no evangelho do Reino celeste, era importante que eles se tornassem melhores cidadãos para o governo secular, com a natural consequência de se tornarem filhos esclarecidos do Reino dos Céus. Por conseguinte, a atitude do serviço desinteressado ao homem, e a adoração inteligente a Deus, deveriam tornar todos os crentes do Reino melhores cidadãos deste mundo, enquanto a atitude de cidadania honesta e devoção sincera, ao próprio dever temporal, deveriam ajudar a fazer desse cidadão um indivíduo de alcance mais fácil ao chamamento do espírito para o Reino celeste. Advertiu-lhes a seguir, para no caso de os dirigentes do governo terreno procurarem exercer a autoridade de ditadores religiosos, eles, que acreditavam no evangelho, não esperassem mais do que complicações, perseguições e até mesmo a morte. Todavia, a própria luz que trouxessem ao mundo, e o modo pelo qual sofreriam e morreriam pelo Evangelho do Reino, iriam por si mesmos iluminar, por fim, todo o mundo, e resultaria numa separação gradativa entre a política e a religião.

Afirmou-lhes para não terem dúvidas, de que a pregação persistente do evangelho do Reino iria algum dia trazer uma libertação nova a todas as nações, assim como uma liberdade intelectual e religiosa inacreditáveis.
Jesus falou-lhes depois sobre as perseguições que viriam daqueles que odiavam o evangelho de alegria e liberdade, mas eles não só floresceriam, como também o Reino iria prosperar. Não obstante, eles teriam de enfrentar um grave perigo nas épocas subsequentes, quando a maior parte dos homens falasse favoravelmente aos crentes do Reino, e muitos dos que ocupam altas posições aceitassem o evangelho do Reino celeste de forma nominal. Implorou-lhes que fossem fiéis ao Reino, mesmo em tempos de paz e prosperidade, e que não tentassem os anjos, que os supervisionavam, a conduzi-los por caminhos tribulados, como uma disciplina de amor designada a salvar as suas almas que vagueavam despreocupadas. Havia uma coisa que deviam sempre lembrar, que tinham a missão de pregar o Evangelho do Reino, o desejo supremo de cumprir a vontade do Pai, combinado à suprema alegria da realização pela fé da filiação a Deus, por isso não poderiam permitir que nada distraísse a sua devoção àquele dever. Era importante permitir, que toda a humanidade beneficiasse do extravasamento da amorosa ajuda espiritual dada por eles, assim como da comunhão intelectual esclarecedora e do serviço social que eleva. No entanto, não deveriam permitir que nenhum desses trabalhos humanitários, nem todos eles, tomassem o lugar da proclamação do evangelho. Deveriam sempre trabalhar no sentido de persuadir as mentes humanas a seguir o caminho da rectidão, mas nunca obrigar ninguém a segui-lo. Não deviam esquecer da grande lei da justiça humana que o Mestre lhes tinha ensinado de forma positiva, a de fazer aos homens aquilo que gostariam que os homens lhes fizessem.

Prosseguindo o discurso, Jesus lembrou-lhes, ainda, que não deviam ser místicos passivos, nem ascetas insípidos, nem deveriam transformar-se em sonhadores, e muito menos em andarilhos indolentes que confiam numa Providência fictícia que até proporciona as necessidades da vida. Disse-lhes para procurarem ser doces no trato com os mortais equivocados, pacientes no intercâmbio com os homens ignorantes e indulgentes sob as provocações, mas precisavam ser também valentes na defesa da rectidão, poderosos na promulgação da verdade, e dinâmicos na pregação do evangelho do Reino até aos confins da Terra. Sendo que o evangelho do Reino era uma verdade viva, já lhes tinha afirmado ser como o fermento na massa, e como o grão da semente de mostarda. Declarava agora, que era como a semente do ser vivo que, de geração em geração, ao mesmo tempo que permanece na mesma semente viva, se desdobra infalivelmente em novas manifestações, e cresce de forma aceitável nos canais de uma nova adaptação às necessidades e condições peculiares de cada geração sucessiva. Afirmou ser aquela uma revelação viva que Ele desejava que produzisse frutos apropriados não só em cada indivíduo, como também em cada geração, de acordo com as leis do crescimento espiritual, do desenvolvimento e do aperfeiçoamento adaptado. Portanto, o Evangelho deveria mostrar uma vitalidade crescente de geração em geração, e exibir, além disso, uma maior profundidade de poder espiritual, e nunca permitir que se tornasse numa mera memória sagrada, nem numa mera tradição sobre o Mestre e sobre os tempos que na altura viviam.

Além disso, Jesus pediu-lhes para não esquecerem que nunca tinham feito qualquer ataque directo às pessoas, nem às autoridades dos que tomam o assento de Moisés, apenas lhes tinham oferecido a nova luz, que fora rejeitada tão vigorosamente. Só tinham atacado as denúncias da sua deslealdade espiritual às mesmas verdades que eles professavam ensinar e salvaguardar. Tinham entrado, de facto, em conflito, com os líderes estabelecidos e dirigentes reconhecidos, apenas quando eles se tinham oposto directamente à pregação do evangelho do Reino aos filhos dos homens. E até mesmo naquele momento eles não atacavam, mas os outros procuravam a sua destruição. Reiterou para não esquecerem a sua missão, que era apenas pregar as boas-novas. Não deveriam atacar os caminhos antigos, porque afinal eles seriam capazes de pôr o fermento da nova verdade no meio das velhas crenças. Disse-lhes que deviam deixar que o Espírito da Verdade fizesse o próprio trabalho, e para deixarem a controvérsia surgir só quando os que desprezam a verdade a forçassem. No entanto, caso o descrente estivesse disposto a atacar, não hesitassem em permanecer na defesa vigorosa daquela verdade que os tinha salvo e santificado. Advertiu-lhes depois que, perante as vicissitudes da vida, se lembrassem sempre de se amarem uns aos outros. Nunca deveriam lutar com os homens, nem mesmo com os descrentes. Mostrassem misericórdia até mesmo àqueles que abusavam deles com desprezo. Demonstrassem ser cidadãos leais, artesãos probos, vizinhos dignos de louvor, membros devotados da família, pais compreensivos e crentes sinceros na fraternidade do Reino do Pai. Desta forma, o espírito do Mestre pairaria sobre todos eles, naquele momento e até ao fim do mundo.

Assim que o Mestre acabou o seu ensinamento quase à uma hora da tarde, voltaram todos de imediato ao acampamento, onde Davi Zebedeu e os seus amigos os esperavam para o almoço que tinham preparado. Poucos dos ouvintes do Mestre foram capazes de entender sequer uma pequena parte da alocução que precedeu o almoço. De todos os ouvintes, os gregos foram os que melhor compreenderam. Até mesmo os onze Apóstolos se sentiam desorientados, pelas suas alusões aos reinos políticos do futuro e às sucessivas gerações de crentes do Reino. Os mais devotados seguidores de Jesus não conseguiam conciliar o fim eminente dos seus ensinamentos terrenos, com aquelas referências a um futuro expandido de actividades do Evangelho. Alguns dos crentes Judeus começaram a sentir que a grande tragédia na Terra estava prestes a acontecer. Contudo, eles não conseguiam conciliar o desastre tão eminente, com a atitude pessoal, alegre e indiferente do Mestre, nem com o seu discurso antes do meio-dia, quando Ele aludia repetidamente às transacções futuras do Reino celeste, que se estendiam a vastos intervalos de tempo, e que abrangiam relações com muitos e sucessivos reinos temporais na Terra.

Naquela quinta-feira, antes do meio-dia, já todos os Apóstolos e discípulos sabiam da fuga apressada de Lázaro, da Betânia. Eles começaram a sentir a determinação inflexível dos dirigentes Judeus para exterminar Jesus e os Seus ensinamentos. Davi Zebedeu, por intermédio dos seus agentes secretos em Jerusalém, já tinha sido avisado sobre o progresso do plano para prender e matar Jesus, e sabia, igualmente, tudo sobre o papel de Judas nessa conspiração, mas ele não revelou nada aos outros Apóstolos, nem a qualquer discípulo. Pouco depois do almoço Davi levou Jesus a um local isolado e ousou perguntar se Ele sabia, não indo mais à frente com a pergunta. O Mestre segurou-lhe a mão e acalmou-o, dizendo que sabia tudo o que se estava a passar e que ele não contasse nada a ninguém. Disse-lhe que não duvidasse no seu próprio coração porque a vontade de Deus prevaleceria até ao fim. A conversa entre os dois foi interrompida com a chegada de um mensageiro da Filadélfia que trazia notícias de Abner, que sabia da conspiração para matar Jesus, e perguntava se ele devia partir para Jerusalém. O corredor, então, apressou-se a voltar para a Filadélfia com uma mensagem para Abner, onde Jesus dizia que continuassem com o trabalho, porque se Ele se separasse deles na carne, era apenas para que pudesse voltar em espírito. Jesus disse que nunca os abandonaria, que estaria com eles até ao fim.

Naquele momento, Filipe veio ter com o Mestre e perguntou onde Ele desejaria que preparassem o que havia para comer, uma vez que se aproximava a hora da Páscoa. Jesus respondeu-lhe que trouxesse Pedro e João, e que então daria a todos as instruções sobre a ceia que fariam juntos naquela noite. Quanto à Páscoa, teriam de considerá-la depois. Quando Judas viu o Mestre falar com Filipe, aproximou-se para poder ouvir a conversa, mas Davi Zebedeu, que estava por perto, aproximou-se de Judas e entabulou conversa com ele, enquanto Filipe, Pedro e João foram para outro lado conversar com o Mestre. Jesus disse aos três para irem de imediato a Jerusalém, e quando passassem o portão encontrariam um homem com um cântaro de água. Esse homem falaria com eles e deviam segui-lo, visto que os levaria a uma certa casa, onde eles iam perguntar ao bom homem da casa onde se situava a sala de hóspedes, em que o Mestre devia tomar a ceia com os seus Apóstolos. O dono da casa iria mostrar-lhes uma sala ampla no andar de cima, que estava toda mobilada e pronta para recebê-los. Assim foi e os três quando encontraram o homem seguiram-no até à casa de João Marcos, onde o pai do rapaz os recebeu e lhes mostrou a sala para a ceia. Tudo isto aconteceu porque o Mestre na tarde do dia anterior havia chegado a um entendimento com João Marcos, quando estavam a sós na colina. Jesus queria sentir-se seguro e comer uma última refeição com os Apóstolos sem ser perturbado. Ele tinha feito o arranjo em segredo, por acreditar que se Judas soubesse de antemão o local de encontro deles, poderia armar com os seus inimigos para levá-lo. Desta forma, Judas só soube do local de encontro mais tarde, quando chegou lá na companhia de Jesus e dos outros Apóstolos.

Como Davi Zebedeu tinha muitos assuntos a tratar com Judas, impediu que ele seguisse Pedro, João e Filipe, como ele desejara. Davi pediu a Judas para que, dadas as circunstâncias lhe proporcionasse algum dinheiro adiantado para as suas necessidades reais. Depois de reflectir um pouco Judas disse que seria sábio e até melhor entregar-lhe todo o dinheiro, devido às condições inquietantes em Jerusalém, porque conspiravam contra o Mestre, e em caso de lhe acontecer alguma coisa, Davi não ficaria em dificuldades. Desta forma, Davi conseguiu receber todo o fundo apostólico e os recibos de todo o dinheiro em depósito, e os Apóstolos só souberam dessa transacção na noite do dia seguinte. Era quase quatro e meia da tarde quando os três voltaram e informaram Jesus que estava tudo pronto para a ceia. O Mestre preparou-se de imediato para levar os seus doze Apóstolos na trilha para a estrada de Betânia até Jerusalém, na Sua última caminhada empreendida com eles.

A caminho da Ceia, procurando evitar as multidões, passaram pelo vale do Cédrão, indo para a frente e para trás, entre o parque de Getsêmane e Jerusalém, Jesus e os doze caminharam pelo lado oeste do Monte das Oliveiras, para alcançar a estrada que de Betânia os levava até à cidade. À medida que se aproximavam do local onde Jesus havia passado a tarde anterior a discursar sobre a destruição de Jerusalém, pararam inconscientemente e olharam para baixo em silêncio. Como ainda era cedo e Jesus não queria passar pela cidade antes do entardecer, disse aos seus seguidores para se assentarem e descansarem, enquanto Ele ia falar-lhes sobre tudo o que iria acontecer em breve. Começou por dizer-lhes que tinham vivido todos aqueles anos como irmãos, e que lhes tinha ensinado a verdade respeitante ao Reino celeste e sobre os seus mistérios. O Seu Pai tinha feito muitas obras maravilhosas relacionadas com a Sua missão na Terra, e que eles tinham sido testemunhas de tudo e tomado parte na experiência de serem trabalhadores junto com Deus. Naquele momento iriam dar o testemunho daquilo que já lhes tinha avisado há algum tempo, de que ia voltar à obra que o Pai lhe tinha consagrado realizar, e que já lhes tinha dito claramente, que os devia deixar no mundo para continuarem o trabalho do Reino, cuja obra tinha começado.

E o Mestre continuou a dizer que era natural que eles contemplassem a cidade com tristeza, visto terem ouvido as Suas palavras sobre o fim de Jerusalém, mas também lhes tinha prevenido que eles não iam perecer na sua destruição, retardando assim a proclamação do Evangelho do Reino. Do mesmo modo preveniu-lhes para que tomassem cuidado e não se expusessem desnecessariamente ao perigo, quando eles viessem buscar o Filho do Homem, pois Ele precisava ir, mas eles tinham que permanecer para dar testemunho do Evangelho. Sendo a vontade do Pai que Ele partisse, eles nada poderiam fazer que frustrasse o plano divino. Pediu-lhes para terem cuidado para não serem mortos também, e que as suas almas fossem valentes na defesa do Evangelho, pelo poder do espírito, mas que não fossem levados a cometer disparates para defender o Filho do Homem. Era necessário que Ele se submetesse à vontade do Pai e não precisava de qualquer defesa pela mão do homem, visto ter os exércitos celestes à disposição.

O Mestre preveniu-lhes, além disso, que quando vissem a cidade destruída não se esquecessem, de que já tinham entrado na vida do serviço eterno, do Reino celeste, sempre em avanço e até no céu dos céus, pois no Universo do Seu Pai existiam muitas moradas e que uma revelação aguardava os Filhos da Luz. Isto é, a revelação de cidades cujo construtor era Deus e de mundos cujos hábitos de vida consistiam na rectidão e na alegria da verdade. Disse-lhes que tinha trazido aqui na Terra o Reino dos Céus, mas declarava que todos entre eles, que pela fé entrassem e permanecessem nele, através do serviço activo da Verdade, ascenderiam aos mundos no alto, e se assentaria com Ele no reino espiritual do Pai. Contudo, precisavam criar coragem e completar a Sua obra, mas teriam de passar primeiro por muitas tribulações e resistir a muitas tristezas, que começavam a cair sobre eles. E, quando tivessem terminado a Sua obra na Terra, deveriam ir para a Sua alegria, do mesmo modo que Ele tinha terminado a obra do Pai na Terra, sendo que estava na eminência de voltar para o Seu abraço.

Depois de proferir tudo isso, Jesus levantou-se, e todos o seguiram pelo Monte das Oliveiras abaixo, rumo à cidade. Nenhum dos Apóstolos sabia para onde Ele estava indo, a não ser três deles. Enquanto passavam pelas ruas estreitas sob a escuridão da noite, as multidões apertavam-nos, mas ninguém os reconheceu, nem sabia que o Filho de Deus estava a passar por ali, a caminho do último encontro mortal com os seus embaixadores do Reino. Nem os Apóstolos sabiam que um deles já tinha entrado numa conspiração para atraiçoar o Mestre, entregando-o nas mãos dos seus inimigos. Ao entrarem o portão da cidade, João Marcos, que os tinha acompanhado todo o caminho até à cidade, apressou-se por outra viela, para esperá-los na casa do pai e lhes dar as boas vindas quando chegassem, para darem início e acompanharem o Mestre na sua última Ceia…

Votos de uma Santa Páscoa em fraternidade espiritual!
   


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Impresso em 19/4/2024 às 20:08

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