![]() ![]() |
Rumi - O Mundo Interior
de Rumi em 05 Abr 2010 ![]() um mestre sufi com vasta audiência, e exerceu sobre Djalâl- -ud-Dîn – ao qual reconheceu a precoce santidade e a quem, por esta razão, chamava «Mawlânâ», nosso mestre –, uma profunda influência. A família teve que fugir por causa da invasão mongol e acabou, depois de múltiplas peripécias, por se instalar na Anatólia, em Konya. O segundo manuscrito encontra-se igualmente na Biblioteca Fatîh, em Istambul. Contém 170 páginas, e está datado de 4 de Ramadão (Ramadhan) de 751 (1350), ou seja, setenta e nove anos após a morte da Djalâl-ud-Dîn. Alguns ghazals e quadras do Mestre são acrescentados no seguimento desta cópia, da qual não fazem parte os Ma’ârif. Tem o título, não de Fîhima - fîhi, mas o de Asrâr-ul-Djalâlîya, «Os segredos de Djalâlud - Dîn». Este manuscrito é igualmente muito importante por ter sido certamente copiado de um manuscrito feito em casa do Mestre de Konia. Trata-se do manuscrito Ha. Um terceiro manuscrito, que não parece tão autêntico como os outros dois, da biblioteca Sulemaya de Istambul, sem data, é do final do século VIII da Hégira (final do século XIV). O quarto manuscrito, escrito em meados do século XV, sem os Ma’ârif, encontra-se na Biblioteca Nacional de Teerão. O quinto manuscrito, escrito em 888 da Hégira, pertence ao professor Forûzânfar, a quem se deve a edição de Fîhi-ma-fîhi em Teerão, em 1952. Uma edição, com bastantes erros, apareceu na Índia em 1928. Sobre a capa do primeiro dos manuscritos que mencionámos, aparece o título de Kitâb Fîhi-ma-fîhi (O livro de Fîhi-ma-fîhi). A palavra «Kitâb» caiu em desuso e restou apenas Fîhi-ma-fîhi. Este título não foi, com toda a certeza, dado a esta obra no tempo do Mestre, pois o segundo manuscrito chama-se Asrar-ul-Djalâlîya. Mas foi sob o título de Fîhi-ma-fîhi que passou à posteridade. Estas três palavras foram retiradas de uma quadra de Ibnul-’Arabî, o grande poeta místico que morreu em Damasco em 1240, e que Djalâl-ud-Dîn reencontrou, sem dúvida, nesta cidade. Este poema encontra-se nos Futûhât-al-Makkîya (ed. Bulak, 2º livro, p. 777): diz-se que aquele que compreende este significado possui a jóia da vida». Como traduzi-lo? Literalmente, Fîhi-ma-fîhi quer dizer: «Ali dentro está o que lá está» ou «Isso contém em si o que contém em si», «Contém o que contém», ou ainda «Tudo está ali».1 Podemos interrogar-nos sobre o sentido que convém dar a esta expressão. Sem dúvida, o que parece aproximar-se mais do pensamento de Djalâl-ud-Dîn Rûmi é tratar-se de um ensinamento espiritual à altura daquele que o recebe: este último encontra aí apenas o que é capaz de aí descobrir. Sublinhámos algures a necessidade de tal receptividade do discípulo a respeito dos conselhos do seu mestre. «As palavras», está dito em Fîhi-ma-fîhi, «podem apenas despertar um eco em vós. Elas são apenas «a sombra da realidade... um pretexto». Elas adaptam-se à capacidade do ouvinte: 4 «Nós esperamos», acrescenta, «que escutem estes ensinamentos com o vosso ouvido interior». das palavras», a única disponibilidade, ou possibilidade de acolhimento, não basta: impõe-se um esforço, um passo, primeiro passo que já faz daquele que interroga – ou se interroga – um peregrino, sâlik, da Via. «Como poderá alguém chegar à pérola olhando simplesmente o mar? É necessário um mergulhador para encontrar a pérola». Djalâl-ud-Dîn Rûmi nasceu em Balkh, no Khorassan, a 16 de Rabî’I 604 (30 de Setembro 120714). O seu pai, Bahâ ud-Dîn Walad, tornou-se célebre como teólogo e pregador. Denominaram-no «Sultân ul-’ulamâ», sultão dos sábios. Era um mestre sufi com vasta audiência, e exerceu sobre Djalâl- -ud-Dîn – ao qual reconheceu a precoce s Alâ’ud-Dîn Kayqobâd, soberano seljúcida, amigo das ciências e das artes, convidou aí Bahâ’ud-Dîn Walad, que assumiu a direcção de uma escola (madrassa) onde ministrou ensinamentos até à data da sua morte, sobrevinda em 628 Hég. Djalâl-ud-Dîn torna-se então discípulo de um antigo aluno de seu pai, Burhân-ud-Dîn Muhaqqiq Tirmidhî15 e, sob os conselhos deste deslocou-se a Alepo, onde estudou na escola de Halâwiya, que contava com eminentes sábios hanáfitas. Em Damasco, conheceu Muhyî-ud-Dîn Ibn-ul-’Arabî, depois regressou a Konya onde sucedeu a seu pai como professor de Fiqh e de Shari’a. Em 1244, a existência do jovem teólogo foi irremediavelmente transformada pelo encontro com Shams de Tabrîz. Foi esse o acontecimento capital da sua vida, de que ele próprio dizia: «Consiste nestas três palavras: estava cru, fui cozido, estou queimado.» Sultân-Walad, seu filho primogénito, seu confidente e seu sucessor, escreve a propósito: «Deus consentiu que Shams se manifestasse particularmente a ele, e que isto fosse para ele apenas... Ninguém teria sido digno de uma tal visão. Após tão longa espera, Mawlânâ viu a face de Shams; os segredos tornaram-se para ele manifestos como o dia. Ele viu aquele que não se pode ver, escutou o que alguém jamais escutará de alguém... Enamorou-se dele e foi aniquilado». Durante três anos, Djalâl-ud-Dîn foi o discípulo apaixonado de Shams. Depois este desapareceu misteriosamente, sem dúvida assassinado pelos discípulos, ciumentos do ascendente que aquele exercia sobre o seu mestre. Djalâl-ud-Dîn ficou durante muito tempo inconsolável e dedicou à memória do amigo desaparecido um Dîwân de uma beleza lírica sem igual.18 Depois instituiu o Samâ’, oratório espiritual que acompanha a célebre dança rodopiante característica da sua confraria. Este «concerto», verdadeiro ofício litúrgico, comporta todo um simbolismo que estudámos noutro lugar em pormenor.19 Baseando-se na «correspondência» do microcosmo e do macrocosmo representa, por um lado, a roda celeste dos planetas em volta do sol e, por outro, a busca do Eu supremo pelas almas exiladas. O canto da fl auta, o ney, que preludia as sessões de Samâ’, exprime a nostalgia deste exílio do ser longe da pátria espiritual que é a sua origem e o seu Fim. Depois da morte de Shams, Rûmi escolheu sucessivamente, para confidente e para director espiritual dos seus discípulos, Salâh-ud-Dîn Farîdûn, depois Husâm-ud-Dîn Tchelebi. É instado por este último que compõe o seu célebre Mathnawî, poema de 25.000 versos aproximadamente, dividido em seis livros que, desde há séculos, é lido e objecto de meditação em todo o mundo islâmico. Já indicámos a frequência das semelhanças entre Fîhi-ma-fîhi e o Mathnawî. Não só os mesmos versículos corânicos, os mesmos hadîth’s e os mesmos versos estão citados nas duas obras, mas também as mesmas histórias e os mesmos temas: o fluxo do pensamento, não é ele idêntico? Notemos, de passagem, a narração da conversão de Abbâs, tio do Profeta (cap. I de Fîhi-ma-fîhi, livro III do Mathnawî, 4473 seg.), a comparação do homem com o astrolábio de Deus (cap. II, Mathnawî VI, 3140 seg.), a história de Laylâ e Majnûn (cap. IV, VII, seg.), a história de José a quem oferecem um espelho (cap. L, Mathnawî I, 3158 seg.), etc. Foi editado pelo Professor Badî’uz-Zamân Forûzânfar, em Teerão, em 1952. Uma nova edição, posterior a esta, publicada (sem data) por Dâr-al-Tashîh v’at-Tardjamah, igualmente em Teerão, reproduz uma edição litografada anterior (Teerão, 1333, 330 p.). A primeira parte desta edição contém 272 páginas (das quais 18 de introdução). Apresenta, com a supracitada edição de Forûzânfar, um número bastante grande de variantes. Escolhemos de entre elas, na nossa tradução, o que nos pareceu a melhor leitura, indicando as variantes em fim de página. O texto desta edição, sendo por vezes mais explícito, permite-nos acrescentar à tradução efectuada sobre a edição de Farûzânfar algumas passagens, e por vezes até uma página inteira. Editado pelas Publicações Maitreya ![]() |
® http://www.fundacaomaitreya.com Impresso em 4/6/2023 às 15:49 © 2004-2023, Todos os direitos reservados |