Fundação Maitreya
 
Retiro de Meditação

de Maria

em 31 Mai 2010

  O propósito de elevar o Ser aos estados mais transcendentes de si próprio, através da introversão e concentração está subjacente num Retiro de Meditação. O resultado será sempre benéfico, pois foi dado mais um passo no auto-conhecimento definindo melhor a atitude perante a vida daí em diante.

A catarse ou a purificação à qual, cada um se submete ao recolher e praticar meditação, vem despertar a consciência de modo a poder enfrentar os seus próprios obstáculos internos que, normalmente, jazem bem ocultos nas emoções e nos sentimentos disfarçados pelo desejo, ambição e egoísmo.

A catarse põe a descoberto, tantos os nossos defeitos como as nossas virtudes e, se um retiro de Meditação nos primeiros dias se torna difícil é, exactamente, porque se é obrigado a lidar com o lado menos reconhecido da personalidade, mostrando o que deve ser rectificado. Razão porque os retiros são importantes, principalmente, quando as práticas obrigam a sentar a meditar ficando-se frente aos seus próprios bloqueios mentais e emocionais, os quais dificilmente se conseguem resolver racionalmente. Pode haver até um único obstáculo importante a remover, mas pode ser esse o problema que vai desencadear e desanuviar ou mesmo destruir outros obstáculos. A natureza da Alma é libertadora, por excelência, razão porque de repente, espontaneamente sobressai a experiência despoletada por breves momentos de coisas tão simples como o cair da folha da árvore ou do vento soprando forte, quando tudo estava calmo.

Surge então, um momento de compreensão interna pela lição dada ao nível superior e incondicional, daquilo que racionalmente não era possível compreender pelos conceitos e ideias feitas da mente dialéctica.
A experiência súbita da compreensão ou o insigth como é chamado nos conceitos budistas, acontece quando a mente larga ou deixa de querer agarrar a compreensão dos problemas que afligem. É então, que nesse momento a experiência pode ocorrer, verdadeiramente espontânea e reveladora. O que acontece, frequentemente, é a pessoa não saber o que se está a passar dentro de si enquanto decorrem os processos internos e, então, entra em sofrimento. Esse processo interno, fá-la entrar em contacto ou tomar a consciência de que há algo dentro de si do qual não gosta e, portanto, recusa admitir a pertença de tal sentimento, emoção ou desejo.

Outros aspectos também são importantes quando a interiorização confirma as qualidades e virtudes adquiridas já nos diversos percursos da Vida e, pode assim, sair fortalecida interiormente com mais certezas, mais segurança e mais harmonia em si própria. No final do retiro, o que quer que cada um tenha trabalhado interiormente, todos saem felizes e vitoriosos: os desafios foram enfrentados e vencidos.

Penso que o Retiro de Meditação efectuado de 21 a 23 de Maio, no Colégio do Sardão, confirma a teoria do que acabo de escrever pela experiência directa dos que nele participaram e o realizaram, dando mais um passo na conquista da lucidez, do amor e da compreensão pela entrega ao silêncio.

O Retiro foi orientado por um monge sénior, Ajahn Khemasiri do Budismo Theravada da Tradição da Floresta, que nos proporcionou uns breves dias de refúgio do mundo, centrados apenas na observação interior, prática requerida e exigida, no fundo, por cada pessoa que vive o seu quotidiano em acções dispersas, deixando cada vez mais obstáculos à mente, pelo stress condicionador do dia-a-dia. Um dos seus ensinamentos mais tocantes foi sobre Metta, o método do Budismo que pela observação interna, centrada no coração se pode desenvolver o amor incondicional.

Também o local onde se realizou o Retiro contribuiu para o sucesso do recolhimento, um convento cristão, morada das Irmãs Doroteias (Colégio do Sardão em Gaia), que têm como Fundadora da Congregação de Santa Doroteia, Paula Frassinetti, nascida em Génova, Itália. Foram extremosas na simpatia, na confecção dos alimentos e a todo o suporte que implicou um acontecimento desta natureza. Muito contribuiu também o vasto e belo jardim do Convento que possibilitou “a meditação a andar” (walk Meditation), prática que consta do método dos retiros de Meditação do Budismo, onde assim se prolonga a meditação ao ar puro e livre.

Fica o nosso agradecimento às Irmãs Doroteias e a todos os participantes do Retiro de Meditação, que também deixam os seus testemunhos expressas em breves linhas:

«Naquela manhã a delicada rosa amarela abria-se em maior esplendor esperando ser beijada pelo Sol, que ardente de Amor, abraçava todo o jardim. Porém, uma brisa mais forte indiferente a tanta beleza, cortou-a e ela foi atirada ao chão, sobre a relva.

Quando à hora do almoço a vi assim, quase murcha, com o coração apertado acariciei-a entre as mãos, enchi um copo com água fresca e lá a depositei na esperança que reanimasse apesar de não ter caule, e que ganhasse pujança de novo.

Ao fim da tarde não morrera, mas o vigor da manhã não voltou e a marca da forte rajada que a tombou, marcou-a para sempre.
Neste retiro medito sobre a rosa, sobre mim, sobre nós.
Como se adapta esta rosa à nossa própria vivência!

Quantas vezes, envoltos pela ilusão dos sentidos, caminhamos esquecendo que qualquer brisa mais forte nos pode atingir...
Quantas brisas, quantas rajadas nos atingem ao longo da vida!
Felizes de nós quando uma mão amiga nos agarra e aponta o Caminho!
Felizes as mãos que gentilmente agarram, felizes os que querem ser agarrados para que possam erguer-se de novo.

As cicatrizes apenas lembram quão abençoadas foram essas quedas que nos ensinaram que tudo é aprendizagem e nos conduz à elevação, que Tudo é Amor!
No fim do retiro olhei-a e peguei nela para a trazer comigo mas... não devia! a lição do desapego ficou impregnada na minha Alma. Depositei-a de novo no copo, cheio até cima com água fresca e com um sorriso deixei-a, agradecendo a todos os que de algum modo contribuíram para o meu crescimento em mais este retiro».
Elisa Flora

«Um retiro é sempre um tempo especial. Momentos de recolhimento, reflexão e introspecção. Ficamos mais conscientes daquilo que se passa à nossa volta, e sobretudo, no nosso interior.

É sempre bom criar um espaço, uma distância que nos permita observar os fenómenos que ocorrem naturalmente, colocando-nos à margem. Este é aliás um dos ensinamentos do Buda, que insiste no factor Plena Atenção, que consiste em observar tudo com consciência, sem a identificação com o observado, seja ele um movimento corporal, um pensamento, um desejo, um impulso, uma emoção ou um sentimento, como se estivéssemos a testemunhar algo que não somos nós e, de facto, parece-me a mim que estas ocorrências não são mesmo aquilo que somos.

Uma vez em Meditação, por aquilo que me pareceu nem uma fracção de segundo, "senti" algo extraordinário, que foi como se tudo de repente se tivesse desvanecido e restasse apenas uma consciência que se reconhecia a ela mesma como sendo - Eu Sou O Que Eu Sou; percebi porque dizem isso algumas pessoas. Foi como se tudo tivesse desaparecido, corpo-mente e tudo o mais, e de repente estivesse num vácuo, ou num vazio, como se tudo tivesse ficado preto, mas não era vazio, nem era vácuo, tinha uma vibração, era como se tudo fosse uma energia a vibrar, mas que não se via, mas percebia-se que estava lá, e a sensação de paz era enorme. Pena foi não ter conseguido manter esse estado. Esta experiência ocorreu antes, numa outra altura, estava no meu quarto a meditar.

Em relação à minha experiência no retiro, o balanço foi positivo, pude sobretudo desfrutar dum ambiente de paz e serenidade, sem preocupações quanto aos afazeres do dia-a-dia. E com uma disciplina e prática tão intensas, naturalmente isso potenciou estados mais aprofundados e alargados de consciência, onde havia cada vez mais paz e quietude, apaziguamento. A companhia ajudou muito...
O monge deu óptimos ensinamentos, com uma clareza salutar, e via-se e sentia-se que a sua aura era positiva, boa.

Conheci pessoas interessantes e revi algumas já conhecidas, e fica, entre outras coisas, a ideia e vontade de talvez um dia, quem sabe, fazer um retiro no mesmo sítio, desta vez individual».
Filipe Reis

«Foi uma experiência muito boa e marcante para mim, adorei por completo.
O sentimento de felicidade, aquilo que pude aprender e a beleza do lugar só podiam resultar nisso.
Também ganhei com o retiro uma maior motivação para a meditação, para enfrentar os problemas da vida e para conseguir ser mais feliz.
É uma experiência que é difícil de explicar, até porque acredito que varia de pessoa para pessoa, mas recomendo a toda a gente».
Telmo Costa

«São muitas as barreiras que se nos deparam quando tomamos Consciência do Caminho pelo qual enveredamos.
Participar num Retiro, tal como o de 21 a 23 de Maio no Colégio do Sardão, foi respirar um ar balsâmico e renovador de tranquilidade, em que o ensinamento do Ajajn Khemasiri continha as palavras que passavam por uma voz proveniente de um coração profundo de generosidade e sabedoria.
Agradeço muito a realização de mais um evento que vem proporcionar o acender de novos faróis orientadores. Possam eles ajudar todos aqueles que procuram o Ser escondido algures dentro de Si».
Ana Paula Reis

«Colégio do Sardão, dois dias retirados à rotina, às responsabilidades profissionais, aos pequenos prazeres do fim-de-semana. No entanto, os dias de retiro são sempre um privilégio. A possibilidade de ter tempo, de recolher, de olhar para dentro, óptima desculpa para uma pausa no meio da agitação.

As questões pouco variam, por serem eternas: Como estou? O que sinto? O que quero? Para onde vou? Qual o sentido? Como prossigo? E quaisquer descobertas não podem deixar de ser parciais.

Primeiro uma pequena resistência (que faço aqui num dia lindo?), a seguir uma tranquilidade aparente, logo vem a agitação dos temas que surgem, depois alguma clareza, por fim chega a serenidade.

Meditação sentada, meditação a andar, meditação sentada, meditação a andar quinta fora. A sensibilidade cresce e o convento é um local especial, onde as irmãs Doroteias acolhem e partilham o silêncio e a sua quinta.

Sons e cheiros das folhas caídas no bosque de eucaliptos, reflexos na água a correr pelos canais da horta, calor abafado na estufa meio abandonada, conforto do muro de granito de onde olhava a árvore isolada no meio do prado. Onde fica a fronteira entre contemplação e meditação?»
M

"Este retiro teve algo de especial. Foi a primeira vez em que traduzi de inglês para português. Ao princípio estava nervoso, mas felizmente que depois tudo se desenrolou com uma certa espontaneidade, como se o monge e eu o fizéssemos com uma certa naturalidade. Ao obrigar-me a prestar atenção constante às palavras, ao sentido, e ser preciso na tradução, algo se desenvolveu. Foi uma maior capacidade de concentração continuada e de focar permanentemente na tradução, tentando em simultâneo também não descurar os exercícios que nos propúnhamos efectuar, sob a orientação do monge. Esta maior concentração apenas demonstra ser benéfica para a meditação que pratico diariamente com regularidade".
José Carlos Rodrigues

Algumas palavras que transmitem o que foi para mim, participar no Retiro de Meditação realizado no Colégio do Sardão em Gaia. Refrescante, celebração, alegre solidão, interiorização, meditação (claro), partilha, aprendizagem, libertação, união, natureza, Deus, energia, purificação, reenergização, atenção plena... silêncio, silêncio, silêncio...
Meditar para mim é como respirar, comer ou beber... não é uma obsessão é algo natural, necessário, essencial... no retiro tive a oportunidade de fazer o que faço todos os dias mas de uma forma mais intensa, sem a pressão da rotina e das obrigações do dia-a-dia. Estar com o monge, ouvi-lo, meditar, estar naquela doce "reclusão" silenciosa. Partilhar com a natureza aquela alegria que surge do "nada" mas que nos preenche de tal forma que o silêncio surge, não como uma obrigação, mas como uma necessidade. O que mais posso dizer... simplesmente obrigado a todos os envolvidos na realização deste evento e também a todos os participantes. Desejo sinceramente que eventos destes possam acontecer mais vezes em especial aqui no Norte... e como já vimos locais não faltam pois o Colégio do Sardão foi muito bem escolhido para acolher este retiro. Que todos possam um dia usufruir dos benefícios da prática da meditação, seja meditação budista ou não... a meditação, acredito eu é uma herança que cada ser humano tem dentro de si.... e termino com esta frase a respeito da meditação... primeiro estranha-se depois entranha-se e então nunca mais se larga ...
Obrigado e até à próxima.
Nuno Miguel Tavares
   


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