Fundação Maitreya
 
Homenagem

de Bhikkhu Appamado

em 02 Fev 2011

  O Venerável Ācariya Mahā Boowa Ñāņasampanno, uma das mais distintas e proeminentes figuras do Budismo Tailandês contemporâneo, morreu no passado dia 29 de Janeiro, de 2011, aos 98 anos de idade. Conhecido e respeitado por indivíduos dos mais diversos percursos de vida, Ajahn Mahā Boowa apresentava uma impecável sabedoria e brilhante capacidade para expor o Dhamma. Foi também muito reverenciado devido às suas práticas de meditação solitária, nas selvas e montanhas da Tailândia, que havia aprendido com seu mestre, Ajahn Mun.

Nascido em 1913 na província de Udon Thani, no nordeste Tailandês, Ajahn Mahā Boowa foi ordenado como monge Budista em 1934. Durante os primeiros sete anos do seu percurso monástico estudou os textos do cânone Budista, obtendo uma licenciatura em Estudos de Pāli e o título de ‘Mahā’. Após esses sete anos adoptou o estilo de vida ambulante de um monge ‘dhutanga’ e partiu ao encontro de Ajahn Mun. Encontrou-o finalmente em 1942, sendo aceite como seu discípulo e permanecendo sob a sua tutela até à morte deste, em 1949.
Ajahn Mahā Boowa, então realizado, tornou-se uma figura central na congregação de esforços para manter uma continuidade dentro da irmandade da ‘dhutanga kammațțhāna*’, preservando assim para futuras gerações, o modo único da prática de Ajahn Mun.

Por volta de 1960, o mundo fora da floresta veio a exercer um impacto significativo na tradução dhutanga. A rápida desflorestação que ocorreu nesse período levou os monges dhutanga a alterar, e eventualmente a restringir, o seu modo de vida errante. Enquanto o ambiente geográfico se alterava, professores como Ajahn Mahā Boowa começaram a estabelecer comunidades monásticas permanentes onde os monges dhutanga poderiam perpetuar a linhagem de Ajahn Mun, esforçando-se para manter as virtudes da renúncia, estrita disciplina e meditação intensiva. Muitos monges praticantes foram atraídos para estes mosteiros da floresta, transformando-os em grandes centros de prática Budista.
Ajudou a liderar uma tentativa conjunta de apresentar a vida e os ensinamentos de Ajhan Mun a uma cada vez maior audiência de crentes budistas. Eventualmente, em 1971, escreveu a Biografia de Ajahn Mun apresentando assim os princípios e ideais que formam a base dos métodos e treino ‘dhutanga kammațțhāna’ e a sua prática adequada.

Em Wat Pa Baan Taad, o mosteiro de Ajahn Mahā Boowa em Udon Thani, um centro religioso surgiu espontaneamente, criado pelos próprios estudantes, que vieram por motivos puramente espirituais, na esperança de receberem instrução de um mestre genuíno. Nos anos que se seguiram, os muitos monges Ocidentais que foram ter com Ajahn Mahā Boowa puderam partilhar com todo o seu coração esta experiência religiosa única. Alguns continuam a residir no mosteiro, tendo estado sempre sob a tutela de Ajahn Mahā Boowa. Ajudaram assim na disseminação de muitos seguidores que hoje se encontram por todo o globo.

Ajahn Mahā Boowa tornou-se tão popular que o Rei e a Rainha da Tailândia visitaram-no no seu mosteiro. Foi também particularmente reconhecido em Inglaterra visto ter ido muitas vezes a Londres realizar palestras.
A crise financeira que assolou a Tailândia em 1997-98 levou Ajahn Mahā Boowa a criar um projecto de caridade que ajudou o país a repor as suas reservas nacionais.

Altamente reverenciado dentro e fora do seu país, Ajahn Mahā Boowa continuou até aos seus últimos dias empenhado em ensinar monges e leigos, elucidando acerca dos princípios fundamentais do Budismo e encorajando à prática das técnicas incisivas e directas que Ajahn Mun usou tão eficazmente. Tal como Ajahn Mun, ele enfatiza um modo de prática no qual a sabedoria mantém-se sempre como prioridade. Apesar de, em última instância, apontar para a realidade dos inefáveis mistérios da essência pura da mente, o ensinamento que nos apresenta consiste num sistema de instrução muito ‘terra-a-terra’, apresentando métodos práticos adequados para todos aqueles que desejam ser bem sucedidos na sua prática e meditação. Estudados de forma atenta, podem oferecer direcção para indivíduos que de outra forma não têm ideia onde a sua prática os poderá levar.

*Nota: a irmandade ‘dhutanga kammațțhāna’ refere-se ao conjunto de monges que praticam o estilo de vida como ensinado e praticado por Ajahn Mun, vivendo seclusos nas florestas, dormindo em grutas, ou debaixo de árvores, indo uma vez por dia às vilas em ‘busca de almas’ (oferendas de comida para a sua refeição), comendo apenas o que for oferecido dentro da sua gamela, fazendo uma prática de meditação intensa, abstendo-se de qualquer outro contacto com o mundo senão o mínimo necessário à sua sobrevivência, eliminando assim todo o envolvimento que possa vir a criar pensamentos supérfluos na sua mente, dificultando a concentração na meditação

Glossário:
Ācariya: palavra pāli para mestre, mentor, professor. Quando escrito com Ā maiúsculo é o respeitoso título conferido a um professor pelos seus discípulos. Tem como equivalente na língua Tailandesa a palavra Ajahn.
Dhamma (Sânscrito: Dharma): verdade, natureza, lei, ensinamento, reflexão da lei cósmica e da qualidade intrínseca de toda a fenomenologia. Doutrina patente nas escrituras budistas e sua instrução. Experiência directa da verdade suprema.
Dhutanga: práticas ascéticas. Existem 13 práticas especializadas que os monges Budistas podem voluntariamente praticar (exemplos: comer somente uma vez ao dia, viver na floresta, usar (vestir) somente os três robes principais dos monges, etc.)
kammațțhāna: significa literalmente ‘base de trabalho’. Refere-se à ocupação de um monge Budista praticante, como por exemplo, a contemplação de certos temas de meditação que são conducentes ao erradicar de forças coma a ganância, o ódio ou a ilusão.
   


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