Fundação Maitreya
 
As Máscaras de Cristo

de Lynn Picknett e Clive Prince

em 21 Fev 2011

  Livros tais como este, que procuram encontrar o Jesus histórico, geralmente começam com uma renúncia, fazendo uma distinção entre o «Jesus da história» e o «Cristo da fé». O primeiro é um indivíduo – pode ser homem, pode ser Deus, talvez um pouco dos dois – que viveu a sua vida, estranhamente notável, num local geográfico específico, num certo período histórico e, porque assim foi, está sujeito aos mesmos métodos de investigação histórica que qualquer outro indivíduo do passado. Por outro lado, o Jesus Cristo da fé pura está para além do alcance dos historiadores, uma vez que eles não têm meios para lidar com o transcendental e inexplicável, e aquilo que as pessoas dizem «saber» nos seus corações e almas, nunca pode ser pesado, medido ou avaliado pelos habituais métodos académicos.

O Jesus da História e o Cristo da Fé.

Todavia, esta distinção é muitas vezes um subterfúgio. O cristianismo, mais do que qualquer outra religião, afirma que certos acontecimentos tiveram de facto lugar, em locais reais e em datas específicas. Na maioria das religiões é a revelação, não as circunstâncias em que se deram, que é importante. O cristianismo, pelo contrário, baseia-se num acontecimento, ou sequência de acontecimentos, através dos quais a salvação está ao alcance de qualquer um: a crucificação e ressurreição de Cristo. Isto abre a «revelação» do cristianismo à pesquisa histórica e faz com que a religião se conforme com um risco – se pudesse ser demonstrado, por exemplo, que estes acontecimentos nunca ocorreram ou que aconteceram de uma maneira fundamentalmente diferente da que é descrita nos Evangelhos, então o cristianismo teria um problema grave.

Isto faz com que a prioridade máxima seja determinar a fidelidade dos autores que registaram a alegada revelação. A nossa principal fonte de informação sobre Jesus é um conjunto de textos – os quatro Evangelhos do Novo Testamento – que podem ser estudados segundo os mesmos critérios que são aplicados a qualquer outro documento histórico. E vendo essas narrativas à fria luz do dia, torna-se aparente que não só os autores reescreveram a história para ir ao encontro dos objectivos a que eles próprios se propuseram, mas também que aquilo que produziram foi subsequentemente revisto e alterado, algumas vezes, muito depois dos acontecimentos. É um erro grave aceitar tudo o que os Evangelhos dizem sobre Jesus como um facto, simplesmente porque está nos Evangelhos.

… Nas Entrelinhas
Para uma das mais idolatradas e influentes personagens da História, Jesus Cristo é curiosamente ardiloso. A nossa missão para descobrir a verdade acerca do professor da Palestina do século I, que milhões por todo o mundo crêem ser nada menos do que Deus incarnado, é seriamente dificultada pela parcimónia de registos críveis acerca de Cristo. Jesus, pessoalmente, não deixou qualquer testemunho escrito, nem tão pouco deixaram as testemunhas oculares da sua vida e da sua morte fulcral. Para um indivíduo tão singularmente importante, há uma estranha falta de registos sobre a sua vida.

Existem documentos que dizem ser relatos da vida de Jesus – sendo os mais conhecidos os Evangelhos do Novo Testamento (ou Canónicos): os Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas, como estão, acabam por ser nada mais do que uma cacofonia de diferentes vozes, assim como o resultado de revisões posteriores e aditamentos ao longo dos séculos. E embora seja provável que parte dos registos contemporâneos estejam imbuídos com aqueles textos primitivos, começando mesmo a levantar camadas de mito e algumas vezes – diga-se – de pura propaganda que se acumulou ao longo de dois milénios, não é de modo algum assim tão simples.

Tradução: Dulce Afonso e Gabriela Oliveira

Edição de Novembro de 2010
Edi9 – Sociedade Editora de Inovação, Lda.
   


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