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Grande Alma
de Damodar K. Mavalankar em 08 Jul 2012 ![]() Durante o pior momento deste período, teve uma visão na qual um ser resplandecente o amparou e rapidamente o recuperou. Ele teve, posteriormente, em duas outras oportunidades visões deste ser: uma vez quando esteve, de novo, seriamente doente e outra vez em uma profunda meditação. Entre as idades de dez e catorze anos, Damodar estudou devotadamente Dharma[1] Hindu, cultivando todas as apropriadas práticas deste estágio. Tendo começado os seus estudos académicos, o ritual deu lugar às lições escolares, embora as ideias básicas e aspirações permanecessem as mesmas. De acordo com o seu próprio testemunho, não encontrou uma verdadeira paz de espírito, e viveu para a rotina diária, posição social e gratificação pessoal. Mas, em 1879 – ano em que H. P. Blavatsky e H. S. Olcott chegaram em Bombaim para estabelecer um centro para a Sociedade Teosófica – Damodar leu Isis sem Véu. Ele imediatamente correu para Bombaim para saudar a notável autora que demonstrou tanta sabedoria, audácia e devoção. Não se importando com a opinião do mundo, ela demonstrou a segurança de quem conhecia a existência dos Mestres e de que estavam activos no seio da humanidade. Quando Damodar entrou na sede da Sociedade Teosófica em Bombaim, surpreendeu-se ao ver o retrato do homem que aparecera três vezes nas suas visões e por saber que este Mestre era um dos que apoiavam H. P. Blavatsky e o Movimento Teosófico. Convencido que tinha encontrado o portal que conduz ao Caminho da Verdade, Damodar tornou-se membro da Sociedade Teosófica em 13 de Julho de 1879. Em 3 de Agosto foi iniciado na Sociedade. Pouco depois ele escreveu: “Não é exagerado dizer que somente estes poucos meses eu tenho sido um homem realmente vivo; pois entre a vida como ela me aparece agora e a vida como eu a compreendia antes, existe um abismo insondável. Eu sinto agora que pela primeira vez tenho uma percepção clara do que são o homem e a vida – a natureza e poderes do primeiro, e as possibilidades, deveres e alegrias da última.” Damodar solicitou a seu pai licença para viver na sede da S. T., que lhe foi concedida, e sedo assumiu as responsabilidades de Secretário responsável pelo recebimento das taxas. Damodar solicitou também as bênções de seu pai para a sua resolução de viver a vida de um sannyāsin[2]. Ele tinha ficado noivo em Laxmibai quando ainda criança e esperava-se que se casasse e se tornasse um chefe de família. Quando ficou claro que o seu desejo de ser um chela[3] dos Mestres era profundo e irreversível, foi lhe permitido ceder a sua grande parte da herança ancestral do seu pai sob a condição que a jovem fosse cuidada na casa da família pelo resto da vida. Apesar de ter ficado com o coração despedaçado, ela concordou com a decisão de Damodar e viveu a vida de uma saubhagyavati – uma mulher sozinha cujo marido está vivo – isto por um longo tempo, mesmo após o desaparecimento de Damodar no Tibet e até à sua própria morte, aproximadamente aos 60 anos. O pai, o tio e o irmão mais velho de Damodar aderiram à Sociedade Teosófica, mas todos resignaram quando ele renunciou à sua casta. H. P. Blavatsky e Coronel Olcott aconselharam Damodar a reflectir cuidadosamente sobre a sua corajosa e grave decisão. Assim tendo feito, ele declarou que todos os interesses mundanos “... são apenas os vapores dum sonho e que somente é digno de ser chamado homem, quem fez do capricho seu escravo e da perfeição de seu Ser espiritual o grande objectivo de seus esforços. Como não seria possível usufruir destas convicções e a minha liberdade de acção dentro de minha casta, estou me retirando da mesma...” Quando em Ceilão, em 1880, para uma jornada de palestras, H. P. Blavatsky, Olcott e Damodar, conjuntamente receberam o Pansil, a cerimónia de Pancha Shila[4] do Budismo do Sul, na qual se faz votos de cumprir os cinco preceitos ensinados por Buda: compaixão, veracidade, pureza, sinceridade e temperança. Nem os votos publicamente assumidos, nem os detalhes pessoais externos, podem revelar as mais vitais e críticas actividades de um chela, pois isto tem lugar nos recessos da mente e do coração. Também uma sugestão da força motivadora por trás da meteórica escalada de Damodar na senda do discipulado pode ser encontrada na sua carta para William Q. Judge em 5 de Outubro de 1879, dois meses após ter entrado na Sociedade Teosófica, recomendando: “Seu único desejo deverá ser fazer tudo pela humanidade e nada para você próprio, i. e., embora esteja no mundo, seu homem interior deverá estar fora dele. Quando agir sempre deste modo, ser-lhe-á dado a conhecer pelos Adeptos outros meios de realizar o seu objectivo.” Este subtil balanço entre o estrito cumprimento do dever e a completa liberdade do apego à roda de nascimentos e mortes, deriva da atitude fixa de Damodar para com o seu instrutor. Em carta para W.Q. Judge, de 24 de Janeiro de 1880, ele escreveu: “Sei que Madame Blavatsky, que eu venero como minha Guru, estimo como minha benfeitora e amo mais que uma Mãe, e outros cuja simples recordação dá ao meu coração uma emoção que me faz tremer de veneração, fez-me favores que não tenho o menor merecimento. ... Cerca de um mês depois que eu aderi à Sociedade, ouvi uma voz interior que me sussurrava que Madame Blavatsky não é o que descreve ser. ... Eu pensava que deveria ser algum grande Adepto Indiano que assumiu aquela forma ilusória.” Damodar frequentemente voltava ao assunto dos Adeptos, “por que é o único assunto em que estou interessado”, discorrendo longamente sobre eles sem admitir entusiasmos que o desviem da sua natural discrição. Em 1880, o Mestre pousou o seu olhar em Damodar. No final do ano, ele viu Adeptos em forma astral e foi levado por um deles numa jornada. Irmão ----- ordenou-me para segui-lo. Após ir uma curta distância de cerca de meia milha, nós fomos para uma passagem subterrânea natural que fica sob o Himalaya. O caminho é muito perigoso. Há um caminho natural que flui por baixo do rio Hindus com toda sua fúria. Somente uma pessoa de cada vez pode passar por ele e um passo em falso marca o destino do viajante. Acima do caminho há vários vales a serem cruzados. Depois de andar uma considerável distância por esta passagem subterrânea surge uma planície aberta em L-----K. Há uma grande construção maciça com milhares de anos. Em frente dela um enorme Tau[5] egípcio. O edifício apoia-se em 7 grandes pilares em forma de pirâmides. A porta de entrada tem um grande arco triangular. No interior há vários apartamentos. O edifício é tão grande que eu penso que pode conter 20.000 pessoas. Foram-me mostrados alguns dos compartimentos. Este é o Principal Localização Central onde todos da nossa secção que foram preparados para a iniciação dos Mistérios têm de ir para a cerimónia final e ali permanecer durante o período requerido para tal. Eu entrei com o meu Guru no enorme salão. A grandiosidade e serenidade do lugar é o suficiente para impressionar alguém, impondo-lhe respeito. A beleza do Altar que está na parte central e no qual cada candidato toma os seus votos no momento da sua iniciação certamente deslumbra o mais brilhante dos olhares. O esplendor do Trono do SENHOR é incomparável. Todas as coisas estão estabelecidas num princípio geométrico e contendo vários símbolos que são somente explicados aos Iniciados. Mas não posso falar mais, agora que eu fiquei sobre a obrigação de Segredo que ___ me fez tomar. Uma carta que ele recebeu de um dos Mestres confirmou a realidade desta jornada astral. Damodar obteve o privilegio de encontrar o seu Mestre em Lahore em Novembro de 1883. Pouco depois, Damodar e H.S.Olcott permaneceram alguns dias em Jammu, na Cahemira, como convidados do Mahāraja. Damodar desapareceu sem avisar, voltando somente dali a três dias completamente transformado. Olcott recordou que Damodar se mostrou “com uma aparência robusta, forte e viril, corajoso e de maneiras enérgicas, e assim sendo, mal podíamos compreender como poderia ser a mesma pessoa”. Ele retornou à Adyar, agora a sede permanente, e com redobrado zelo empreendeu seus deveres administrativos, incluindo a administração do escritório de publicação do The Theosophist. Entrementes, ambos, H. P. Blavatsky e H. S. Olcott, viajavam frequentemente divulgando a Teosofia, enquanto crescentemente Damodar se tornou o chefe executivo dos acontecimentos em Adyar. Enquanto os Fundadores da S. T. estavam na Europa em 1884, o trágico caso Coulomb explodiu em Adyar. Durante o período negro, quando acusações de falsas alegações e trapaças foram proferidas com violência contra os seus sobre as pessoas de seus instrutores, e os nomes dos seus venerados Mestres foram divulgados em público, Damodar permaneceu calmo, inflexível e firme. “Os poderes da magia negra”, escreveu, “dependem da força de vontade engendrada por uma forma concentrada de egoísmo”. Sem procurar proteger a si mesmo, recusou comprometer os seus instrutores, falando de assuntos privados, ou hesitar da sua profunda lealdade espiritual para com o Movimento Teosófico e dos seus promotores. Ele suportou a provação, acompanhado por muito poucos, enquanto a maioria escapava ou tomava posições ambíguas. Ele atingiu a honra de ser convidado a viajar para o āshram[6] do Mestre no Tibet. H. P. Blavatsky regressou rapidamente para a Índia e abençoou a sua jornada privilegiada. No dia 23 de Fevereiro de 1885, 36 dias após H. P. Blavatsky ter deixado a Índia pela última vez, Damodar partiu a bordo do Navio Clan Grant. Ao chegar a Calcutá no dia 27, Damodar passou os primeiros dias de Março em Benaras e voltou para Calcutá no dia 14. No dia 30 de Março, recebeu um telegrama ordenando que fosse para Darjeeling. No plano da sua viagem estava a partida para o Norte em 13 de Abril, passando por Runjeet, Vecha, Renanga, Sanangthay, Bhashithang, e fazendo uma pausa em Dumrah no dia 18. Ali esperou instruções de Longbu, distante três milhas. No dia 19 entrou no Sikkim e em 23 permitiram-lhe ir para Kālī. Ali ele mandou de volta a Darjeeling os carregadores, seus bens pessoais e seu diário. Nada mais se soube da vida de Damodar. De acordo com aqueles que o viram pela última vez, juntou-se à companhia de uma pessoa misteriosa e foi para o Tibet. H.P.Blavatsky e outros receberam dele cartas ocasionais até à sua morte, cujos conteúdos são desconhecidos. Damodar incorporou as mais elevadas virtudes da senda dos Bodhisattva[7] e os mais puros princípios do Sanātana[8] Dharma. Enquanto suportava as mais severas provas da alma e as grandes pressões externas, correspondia-se com teósofos, com jornais amigáveis e hostis, e com outras pares interessados pelo globo fora. Ele escreveu artigos de penetrante compreensão e notável ponto de vista noético. Esboçando os três Objectivos da Sociedade Teosófica, ele deu ênfase ao primeiro – formar um núcleo de Fraternidade Universal sem distinção de qualquer espécie – e notou que poucos podem conscientemente entrar na Fraternidade porque a maioria não aspira "conquistar as imensas dificuldades encontradas entre a Solidão Intelectual e o Companheirismo Intelectual". Este abismo é permanentemente preenchido pela “Simpatia Intelectual mútua" sem fanatismo, dogmatismo ou preconceitos de qualquer espécie. Somente pode ser construído numa vida de meditação. A ciência ensina-nos que o homem muda continuamente o seu corpo físico, e que esta mudança é tão gradual que é quase imperceptível. Porquê então o caso deveria ser diferente com o homem interior? Este último também está constantemente se desenvolvendo e mudando átomos a todo momento. E a atracção destes novos conjuntos de átomos depende da Lei de Afinidade – os desejos do homem atraindo para a sua habitação corpórea unicamente as partículas que estão em relação com eles, ou melhor, dando-lhes as suas próprias tendências e colorações. . . . O que é que o aspirante da Yoga Vidya[9] está empenhado senão obter Mukti[10] através de transferir, gradualmente, seu ser, do mais grosseiro corpo ao mais etéreo, até que todos os véus de Māyā[11] sejam sucessivamente removidos, e Ātman se torne um com Paramātma[12]? Poderá ele supor que este grande resultado será alcançado com duas ou quarto horas de contemplação? Porquê nas restantes vinte ou vinte e duas horas que o devoto não se fecha no seu quarto para meditação - terá cessado o processo de emissão de átomos e a sua substituição por outros? Se não, então como ele explica a atracção todo este tempo – somente aqueles desejados para o seu fim? Das notas acima é evidente que tal como o corpo físico requer incessante atenção para prevenir a entrada das doenças, também o homem interior requer uma vigilância incessante, de maneira que nenhum pensamento, consciente ou inconsciente, possa atrair átomos indesejáveis ao seu progresso. Isto é o significado real da contemplação. O primeiro factor na orientação dos pensamentos é Vontade. Quando a vontade se direcciona com incessante devoção para o conhecimento do Ser e com harmonia na acção, o aspirante é levado à prática da Rāja Yoga. O Rāja Yoga não encoraja qualquer imitação, não requer nenhuma postura física. Ela diz respeito ao homem interior cuja esfera se encontra no mundo do pensamento. Ter o mais elevado ideal colocado diante de si mesmo e esforçar-se incessantemente para alcançá-lo, é a única verdadeira concentração reconhecida pela Filosofia Esotérica, que trata com o mundo interior do noumeno[13], não a cobertura externa do fenómeno. Damodar K. Mavalankar ganhou um lugar supremo na constelação dos Teósofos ilustres do século XIX e teve o maior privilégio que pode advir a qualquer ser humano – ter sido aceito como um chela pelos Mahātmas. H.P.Blavatsky assim prestou homenagem a D.K.Mavalankar: “... se a Sociedade Teosófica deu à Índia apenas um futuro Adepto (Damodar), que tem agora a possibilidade de um dia se tornar um Mahātma, não obstante vivermos no Kālī Yuga[14], isto será prova suficiente que não foi em vão a transferência da sua sede de Nova York, onde foi fundada, para a Índia. NOTAS ________________________________________ [1] Dharma (Sânscrito) – A lei Sagrada; o Cânone budista. [“O Dharma é natureza interna, caracterizada em cada homem pelo grau de desenvolvimento adquirido e, além disso, a lei que determina o desenvolvimento no período evolutivo que vem a seguir. Esta natureza interna, posta pelo nascimento físico num meio favorável para seu desenvolvimento, é o que modela a vida exterior, que se expressa a través de pensamentos, palavras e acções. Primeiro é preciso compreender bem que o Dharma não é uma coisa exterior, como a lei, a virtude, a religião ou a justiça; é a lei da vida que se desdobra e modela à sua própria imagem tudo aquilo que é exterior à mesma”. ( A. Besant, O Dharma)]. [2] Sannyāsin (Sânscrito) - [Literalmente: “renunciador”] Asceta hindu que obteve o mais elevado conhecimento místico, cuja mente está fixa apenas na verdade suprema e que renunciou por completo a tudo o que é do mundo e terrestre. [3] Chela (Sânsc.) – Literalmente: “menino”. Discípulo de um guru (mestre ou sábio); prosélito de algum Adepto de uma escola de filosofia. [No Oriente, também se denomina chela o discípulo já aceito para o estudo do Ocultismo.] [4] Pañcha Sila (Sânsc.) – As cinco virtudes, moralidades ou preceitos universais. Estes cinco preceitos encontram-se incluídos na seguinte fórmula do Budismo: “Eu observo o preceito de me abster de destruir a vida dos seres; de me abster de roubar; de me abster de todo o comércio sexual ilícito; de me abster de mentir; de me abster do uso de bebidas embriagantes”. (Olcott, catecismo Búdico, 42ª. Ed.,p.40) [5] Tau (Hebr.) – Aquela que se tornou agora a letra quadrada hebraica tau, porém que foi, séculos antes da invenção do alfabeto judeu, a cruz com asas egípcia, a crux ansata dos latinos e idêntica ao ankh egípcio. Este sinal pertencia exclusivamente e pertence ainda aos Adeptos de cada país. [6] Āshram (Sânsc.) – Retiro, especialmente a vida do eremita no deserto. [7] Bodhisattva (Sânsc.) – Literalmente: “Aquele cuja essência (sattva) tornou-se inteligência (bodhi)”, aquele a quem falta apenas uma encarnação para chegar a ser um Buddha perfeito, isto é, para ter direito ao Nirvāna. [8] Sanātana (Sânsc.) – Eterno, perpétuo, permanente. Epíteto de Brahma, Vishnu e Shiva. [9] Yoga vidyã (Sânsc.) – A ciência do yoga; o método prático de unir o Espírito de alguém com o Espírito Universal. [10] Mukti ((Sânsc.) – Liberação da vida sensitiva. [Isenção, emancipação, liberação dos sofrimentos da vida terrestre; liberação final, beatitude; Nirvana. Sinónimo de Moksha.] [11] Māyā (Sânsc.) – Ilusão. O poder cósmico que torna possíveis a existência fenomenal e as percepções da mesma. Segundo a filosofia hindu, apenas aquilo que é imutável e eterno merece o nome de realidade; tudo aquilo que é mutável, que está sujeito a transformações por descaimento e diferenciação e que, portanto, tem princípio e fim, é considerado como māyā: ilusão. [12] Paramātma (Sânsc.) – A alma suprema do Universo. [O Espírito Universal ou supremo, Deus; o Eu supremo, que é um com o Espírito Universal.] [13] Noumeno (Gr.) – A verdadeira natureza essencial do ser, diferente dos objectos ilusórios dos sentidos [ou, em outros termos: a coisa, essência ou substância desconhecida, tal como é em si mesma, oposta ao fenómeno, ou seja, a forma através da qual se manifesta aos sentidos ou à compreensão. Assim, a faísca eléctrica é um fenómeno da electricidade, etc.]. [14] Kālī Yuga (Sânsc.) – Idade negra ou de ferro, é a actual, que começou cerca de 5.000 anos atrás, logo que Krishna foi despojado de seu corpo mortal. ________________________________________ Autor: Elton Hall Tradução: Dr.Jorge M.L.Santos Ferreira Revisão: Osmar de Carvalho Fonte: www.theosophy.org ![]() |
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