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O Yoga Vāsiṣṭha - 4ª Palestra
de Alejandro Corniero em 15 Jul 2012 ![]() «Senhor, como podemos deter a roda da ilusão 1, que, com a sua rápida rotação, mói cada pedaço do nosso corpo?» Vasiṣṭha disse: «Sabe, Rāma, que o mundo, com seu percurso circular, é a grande roda; e o coração humano é o seu eixo, o qual, devido à contínua rotação, produz toda esta ilusão dentro da sua circunferência. Se, com o teu esforço valente fores capaz de parar esse movimento no teu coração, deterás ao mesmo tempo a rotação da órbita da ilusão. A alma que descuida este conselho expõe-se a uma miséria infindável, enquanto se o mantiver sempre presente no seu espírito, evitará todas as dificuldades deste mundo. O mundo está na alma como o ar contido num recipiente, e tu és o prisioneiro contínuo desse mundo mental imaginário que é o teu; tal como uma mosca encerrada dentro do recipiente, não conseguirás libertar-te, se não te escapares desse cárcere, tal como a mosca só voando para o ar livre. O meio para te desembaraçares dessa ilusão da alma, será de fixares a atenção no momento presente e evitar que os teus pensamentos se dirijam para actos passados, ou futuros. A alma encontra-se toldada enquanto a névoa dos desejos e caprichos a envolva, como o céu coberto de nuvens. Quando se produz uma actividade na alma, ela vê-se inevitavelmente acompanhada por um cortejo de desejos, assim como do sentido do prazer e do sofrimento; sentimentos e paixões formam a sua escolta, tal como os corvos rodopiam à volta de um vulcão extinto. As almas dos sábios não sentem falta da actividade, mas, como conhecem a vaidade das coisas terrenas, carecem sim, desses sentimentos que enganam. Adquiriram o conhecimento da irrealidade e da inexistência dos objectos e acontecimentos terrenos, e tal provem do conhecimento da natureza das coisas e do estudo dos ensinamentos do yoga Adhyātma que se partilha nos Satsanga e noutros lugares, e também graças à sua assiduidade com o Mestre, à sua prática meditativa e à sua vida livre do egoísmo. Deixa de lado o que seja tangível, ou que possas alcançar com a tua actividade pessoal; permanece impassível e indiferente perante tudo o que pertença ao mundo, remetendo-te exclusivamente à consciência do Infinito. Pensa para ti, que dormes, enquanto estás desperto; pensa que és todo e uno com o Espírito supremo. Reverenciamos os yogīs que conheceram a natureza do Eu, e alcançaram o estado espiritual. À vista de Ātman, as luzes dos corpos celestes extinguem-se como velas, e o resplendor do sol nada mais é que um débil reflexo da Luz das luzes. Quem conhece a verdade de Deus, ocupa uma categoria superior dentro da humanidade pelo seu auto-sacrifício e pela grandeza de sua alma; e conseguiu-o graças à prática do Yoga. Quem ignora a verdade, é mais vil que os asnos e demais criaturas bestiais que vivem à face da terra; são inferiores aos insectos mais baixos, escondidos nas cavidades subterrâneas. O homem espiritual dá tombos nesta terra, e deixa-se consumir com preocupações, como um cadáver ao ser devorado pelas chamas na sua pira funerária; mas o yogī é consciente da sua imortalidade. Não esperes para podar, com o machado afiado da razão, o grosso tronco da árvore envenenada pela cupidez que se ergue como uma montanha na cavidade do teu coração; corta a rama das esperanças e apressa-te a limpar as folhas dos desejos. Rāma, escuta o que teu senhor diz aos futuros yogīs! Afugenta a alma voraz que, como um corvo, aninha no teu coração; ela gosta de frequentar lugares hediondos, como o fazem os corvos sobre os campos reservados a ritos funerários, e as gralhas elegem a sua morada aí, onde reina a sujeira e se lambuzam comendo a carne que apodrece nos ossos. A alma voraz utiliza seus lábios, como a gralha o seu bico, somente para atacar os outros. Sabe que a cupidez é uma serpente venenosa que, com o seu mortal alento, mata a quem lhe obedeça. Essa serpente é a causa da ruína da humanidade. Uma vez que o Todo único está na alma, não há lugar para o lamento de ter perdido o que quer que seja. Aquele de intenção pura, que se consagrou a Deus, e que tem como única companhia os que difundem à sua volta o conhecimento do Yoga, é tão belo como o cisne branco por entre os graciosos pássaros num lago de ondas prateadas. As almas que, nesta vida, depositam a sua confiança em objectos mundanos, não podem saborear a verdadeira felicidade. Os desejos e pensamentos da alma determinam o seu nascimento numa próxima encarnação. Daí o motivo pelo qual o recém-nascido se veja obsequiado com uma grande quantidade de sonhos porque crê estar morto, e repousa na noite de sua morte. A busca da bondade e da grandeza faz com que um homem seja bom ou grandioso, da mesma maneira que, quem queira ser um Indra 2, ao dormir, sonha com o seu senhorio. Uma busca da Verdade, sem reservas, extinguirá imediatamente os teus desejos, e a extinção dos desejos restabelece a paz na alma. O objectivo da sabedoria é o conhecimento de que, no mundo, não há nada real. Os verdadeiros yogīs, que colocam o seu progresso espiritual acima de todo o apego, que respeitam tanto a Verdade, como o Instrutor, que vivem para a Verdade divina, têm o poder de submeter o seu destino às suas ordens; podem mudar todo o mal em bem, e tornar perpétua a sua prosperidade. Quem, dentro de si, percebe a omnipotência do Espírito infinito e nele faz a sua morada, tem a justa percepção. Quem vê a sua alma como um fio no qual todas as coisas estão enfiadas, como as contas de um colar, tem a justa compreensão. Quem considera que o que se chamam “ os três mundos” 3 não são mais que os fragmentos do seu próprio Eu, envolvendo-o, como as ondas do mar, tem razão. Quem observa o frágil mundo com comiseração, e sente para com a terra a mesma compaixão que experimentaria se se tratasse da sua irmã mais pequena, é sábio.» Ao chegar à hora das orações da noite, o Bem-aventurado Sábio terminou o seu discurso; toda a assembleia se levantou e derramou flores sobre o trono de Vyāsa 4 , exclamando: «Jai!Jai!Jai!» Notas 1. O ciclo recorrente do nascimento e da morte 2. O governador das deidades inferiores 3. Os mundos dos estados de vigília, sonho e sonho profundo. 4. Ilustre Sábio que compilou a epopeia clássica Mahābhārata e deu à literatura védica a sua forma actual. O “Trono de Vyāsa” é o assento de honra tradicionalmente reservado ao Instrutor Tradução de Helena Gallis ![]() |
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