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O Yoga Vāsiṣṭha - 8ª Palestra
de Alejandro Corniero em 27 Jan 2013 ![]() «Senhor, as tuas palavras suscitam, em minha alma, uma dúvida semelhante a uma nuvem outonal, e rogo-te que as dissipes. Diz-me, Senhor, tu que possuis o perfeito conhecimento espiritual. Porque é que não se vê subir aos céus os corpos dos libertos?» Respondeu o bem-aventurado Vasiṣṭha: «Deves saber, ó Rāma, que o poder de subir aos céus e voar o ar pertence de forma natural a todas as criaturas voadoras, como os insectos e os pássaros. Os diversos movimentos que se produzem em várias direcções estão de acordo com as tendências naturais dos corpos, e não são desejados pelo yogī libertado. Voar pelos ares não representa nada desejável para o yogī liberto em vida. Pessoas que não são espirituais, sem libertação e ignorantes, podem adquirir facilmente o poder de voar mediante procedimentos físicos artificiais, como mantras e outras práticas do Yoga inferior 1. Voar não é ocupação de um yogī espiritual, o qual só se interessa com o conhecimento do Espírito; contenta-se como seu conhecimento espiritual e com a união com o Supremo sem se misturar com as práticas dos ignorantes e falsos Hatha-yogīs 2. Sabe que toda a tendência terrena está engendrada pela cegueira espiritual. Seria mesmo um verdadeiro yogī aquele que se submetesse a essa ignorância grosseira? Quem seguir semelhante carreira, tendo como meta o bem-estar temporal, deve estar cego quanto ao seu futuro bem-estar! Usando mantras e outros métodos é possível, tanto para o sábio como para o ignorante, adquirir o poder de voar; mas o verdadeiro yogī mantém-se distante dessas coisas e não as deseja; encontra contentamento em si mesmo e no repouso em Brahman. Permanece impassível sempre, tal como o oceano, não se deixa afectar pelos muitos rios que nele desembocam, e prossegue a sua adoração e meditação sobre o Espírito divino, que na sua alma reside.» O príncipe prosternou-se aos pés de seu Mestre, e o bem-aventurado Vasiṣṭha abençoou-o beijando-lhe a cabeça, e continuou: «Sabe, nobre Príncipe, que o ser possuído pela alma é a causa das desditas, e que extingui-las em Deus é a fonte da felicidade. A alma assaltada por desejos vãos, a causa dos objectos perecíveis, está sujeita a repetidos nascimentos, fonte de aflições infindáveis; enquanto a que é penetrada por qualidades caritativas, deseja o maior bem para todos os seres, e liberta-se das angústias dos renovados nascimentos neste mundo de dor. O corpo nas suas acções é semelhante a uma árvore revestida por trepadeiras; ao passo que a cupidez é como uma enorme serpente que se enrola à volta do tronco, enquanto as nossas paixões e desejos são como dois pássaros que nela fizeram ninho. O mundo nada mais é do que uma criação da nossa imaginação, tal como as crianças imaginam um duende esconder-se no escuro. O nosso conhecimento dos objectos é tão enganoso como a aparência do movimento de uma montanha para o passageiro de um barco. Todas as aparências são manifestação do erro ou da ignorância, e dissipam-se quando se adquire Ó Rāma, discípulo bem-amado, deixa as coisas materiais e busca o Uno universal, fundamento de toda a existência. Aprende a conhecer essa Unidade como a totalidade de todos os seres e como Uno único digno de adoração. Pensa que todos os corpos pertencem à Única Essência comum, e goza a completa beatitude, dando-te conta de que tu és ela, abarcando todo o espaço. Aquele, contudo, no qual se dissolve toda a existência finita, permanece no Se; quem O conheça no seu Se não pode sofrer dor, somente goza da beatitude completa n’Ele. Todas as coisas percebem-se no espelho de Sua inteligência, como as sombras das árvores de um rio se reflectem nas águas límpidas que correm a seus pés. É mais brilhante que a coisa mais brilhante, mais escuro que a mais escura; Ele é base de toda a substância e sobreleva-se por todas as partes da extensão do espaço Príncipe bem-amado, esforça-te com ardor para te estabeleceres nesse supremo estado de felicidade, o mais elevado que o homem pode desejar. Portanto, ó Rāma-ji, sê profundamente sábio, ainda que doce e sincero no teu dialogar. Observa tudo à única luz imutável do Ātman; que, na tua alma, não entre nem o temor, nem a escravidão, nem a impaciência pela libertação. Vive na verdade, na meditação, e escuta com reverência os ensinamentos sagrados que saem de meus lábios, ou de qualquer outra fonte. É necessário escutar os Śāstras e comentá-los, porque os textos sagrados inculcam doçura e infundem na alma o delicioso bálsamo do verdadeiro conhecimento. Da mesma forma que podemos perceber os raios de sol que banham os muros de uma casa, graças aos nossos órgãos visuais, assim a luz do conhecimento espiritual penetra na alma humana quando escuta os Śāstras, através dos seus ouvidos. É pelo ensinamento que melhor é oferecido o conhecimento da Verdade, e é o verdadeiro conhecimento que nos proporciona a serenidade, que nos vai permitir o oblívio do mundo desperto e tumultuoso». O príncipe Rāma inclinou-se ante o Sábio iluminado e disse: «Ó Senhor bem-aventurado, és-me mais querido que a minha própria vida; a tua presença e tua palavra fizeram brotar neste lugar doces gotas de alegria e santidade; Na verdade, a companhia dos virtuosos, é a felicidade suprema do homem!» O rei, a rainha e os ministros levantaram-se em sinal de veneração, tocaram os pés do bem-aventurado Sábio, ofereceram flores, água e presentes e ele, abençoando-os, disse: «OM TAT SAT! 3 SHANTI! SHANTI! SHANTI! 4 » Notas 1. Certas práticas podem suscitar poderes psíquicos, o que é do conhecimento de quem pratica o Yoga inferior, mas o verdadeiro yogī abstém-se de tal, já que se tratam de obstáculos que impedem o progresso da via do Yoga 2. O Hatha-yoga é uma forma inferior do yoga que se destina principalmente ao corpo e que tem, como objectivo, apaziguar as paixões mediante austeridade física e exercícios. O Hatha-yoga pode ter efeitos nocivos se não for praticado sob vigilância apropriada e que, em si, não conduz à meta da realização verdadeira, e daí não pertencer ao Yoga superior chamado Adhyātma Yoga. 3. Tripla designação de Brahma. 4. Paz! Tradução de Helena Gallis ![]() |
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