Fundação Maitreya
 
O Yoga Vāsiṣṭha - 9 Palestra

de Alejandro Corniero

em 24 Fev 2013

  O Yoga Vāsiṣṭha conhecido também como Mahārāmāyaṇa (O Grande Rāmāyaṇa) constitui um apêndice do Rāmāyaṇa, o grande poema épico hindu, atribuído ao sábio Vālmīki, e é composto por 32.000 versos (ślokas). Utilizando a forma de um diálogo entre Rāma e o Ṛṣi Vasiṣṭha, o livro expõe a doutrina do Advaita Vedānta em toda a sua pureza, e os seus ensinamentos contêm o que de mais profundo existe na sabedoria hindu. O Yoga Vasiṣṭha era o livro preferido dos yogīs e ermitãos que viviam retirados no Himālaya, mas também era uma obra considerada fundamental para os reis e homens de estado da Índia.

Disse o bem-aventurado Vasiṣṭha:
«Numa região do norte, nos cumes do Himālaya, há um pico chamado Kailāsa.
Ali é onde Siva, a grande Divindade, se passeia observando as cascatas que brotam das cavernas da montanha e voltam a ser tragadas por elas.
Ali viveu outrora uma raça de homens que tinham como chefe Suraghu. Era poderoso, hospitaleiro e reflexivo.

Os sábios costumavam viajar, aliviando sofrimentos e reduzindo a ignorância, e assim, um dia aconteceu que o sábio Mandavya visitou esse povo.
Suraghu deu as boas vindas ao sábio e disse: “ Sinto-me tão sumamente feliz de receber esta visita, como a terra quando chega a primavera. O pensamento sobre as recompensas e castigos que distribui entre os meus súbditos atormenta, sem cessar, o meu coração, Digna-te, pois, bem-aventurado sábio, aliviar-me esta dor e permite ao sol da paz e da serenidade iluminar a obscuridade da minha alma.”

Mandavya respondeu:” Ó príncipe, tal como a neve sob os raios do sol, as dúvidas fundem-se com o esforço e com a confiança nas próprias forças. O autoconhecimento, príncipe, também é essencial.

Pergunta à tua alma: Quem sou eu? O que é esta nossa existência? Como é essa morte que nos espreita? Certamente estas perguntas te conduzirão ao discernimento.
Quando, ao reflectires sobre a condição de tua alma, chegares a conhecer a tua verdadeira natureza, permanecerás imperturbável tanto ante a alegria, como a tristeza, e serás firme como uma rocha.

Os desapaixonados são honrados como sendo os mais afortunados, e quem conhece esta verdade conserva o contentamento interior e é sábio.
As grandes almas evitam preocupar-se com as coisas exteriores para poderem contemplar a pura luz do Espírito supremo, no seu interior. Enquanto não te tenhas libertado das preocupações pelas tuas futilidades particulares, não poderás ter nenhuma visão do Espírito universal. Só com o desaparecimento de todo o interesse pelo mundo, se poderá dar a conhecer o Espírito transcendente.

Renuncia a todo e qualquer sentimento para com as coisas particulares e terás um conhecimento do que é universal; começarás a compreender o Ātman que tudo engloba.
Só a condição de te empenhares em conhecer o supremo Espírito com todo o coração e alma, e de sacrificar nessa busca qualquer outro objecto ou intenção, torna possível conhecer esse Espírito na Sua plenitude. Todos os objectos visíveis que parecem ligados pelo fio das causas e efeitos são criação da alma, que os mantém unidos como um cordão sujeitando as pérolas de um colar. Aquele que permanece após a dissolução da alma e de seus corpos criados, é somente Ātman, que é o Deus supremo, Aquele que é mais louvado que tudo.”
O chefe Suraghu oferendou prendas, frutos e flores ao sábio, que partiu para outras regiões para prosseguir a sua missão.

Então Suraghu, seguindo o ensinamento do sábio, meditou assiduamente durante três anos no silêncio da sua alma e apercebeu-se de sua divindade.
Disse:” O meu Ātman está dotado de toda a beleza e é a luz que ilumina todo o objecto. Vejo! Vejo! O meu Ātman não tem forma e, contudo, é capaz de assumir qualquer forma e manifestação.
A causa da felicidade e miséria humana consiste numa falsa representação da faculdade de entender. Este mundo é um cenário instalado pela alma, que se torna protagonista enquanto Ātman, espectador silencioso, assiste à obra.

Contemplo esta maravilhosa esfera do intelecto que agora brilha em mim com todo o seu esplendor, e saúdo-te ó luz santa, que vejo resplandecer na minha presença.”
O chefe Suraghu reinou durante cem anos em estado de iluminação, após o qual, por impulso próprio, abandonou a habitação de seu frágil corpo.
Essa alma inteligente, liberta da servidão da reencarnação, unificou-se com o Espírito imaculado e foi absorvida no único supremo, tal como o ar contido num recipiente se une ao firmamento que o engloba todo, quando o recipiente se parte.»

O bem-aventurado Vásistha continuou:
«Estes são alguns dos ensinamentos desse nobre príncipe, Ó Rāma-ji, que te ofereço pelo bem da humanidade:
“O que é o samādhi? A insensibilidade ao tumulto do orgulho e do rancor é conhecida pelo sábio, como samādhi; quando a alma se torna inquebrantável como uma rocha, resistindo com firmeza ao vento que ruge de paixões, está em samādhi.

Sou puro, iluminado e plenamente consciente a cada momento. A minha alma está tranquila e meu coração descansa em qualquer circunstância. Nada poderá perturbar o doce repouso de minha alma, ancorada numa comunhão ininterrupta com o Santo Espírito, Brahman.

Nada existe no mundo que possamos considerar anterior a nós, porque tudo o que brilha e reluz cá em baixo, na realidade não é nada e está desprovido de valor intrínseco.
Como aqui não há nada que possa desejar, tão pouco há nada que me repugne, porque a ausência de uma coisa, implica a ausência do contrário

O sábio silencioso que tudo conhece, que é santo, tranquilo e sereno dentro de si, jamais é molestado por uma alma rebelde.»
Tradução de Helena Gallis
   


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