Fundação Maitreya
 
O Festival Esotérico e o Ovo da Páscoa

de Lubélia Travassos

em 14 Abr 2019

  A passagem do Sol pelo signo de Carneiro, regido pelo Planeta Marte, simboliza o cordeiro Pascal, marcial, a morte na cruz, na altura do Equinócio da Primavera, quando o Sol cruza o Equador celeste de Sul para Norte. A celebração da Páscoa cristã foi estipulada pela Igreja de acordo com a data adoptada pelas comunidades iniciáticas cristãs primitivas, e está relacionada com a conjugação do Sol e da Lua. O Festival da Páscoa costuma ser celebrado no primeiro domingo após o Plenilúnio do Equinócio da Primavera. Sob o ponto de vista esotérico esta relação entre o Sol e a Lua era importante e indispensável para simbolizar o significado cósmico deste evento, por não se tratar apenas de um festival solar. Esotericamente o Sol tem de cruzar o Equador, que significa a Crucificação, tal como o faz no Equinócio vernal, contudo a sua luz tem de se reflectir na Terra através da Lua Cheia, antes da Ressurreição iniciática acontecer. Significa isso, que a humanidade ainda não atingiu um grau de evolução suficiente para receber a Religião do Sol, do Cristo-Logos ou Cristo Cósmico na sua plenitude, isto é, da Irmandade Universal. De facto, ela ainda não está preparada, espiritualmente, pelo que tem de seguir as Leis legadas pelas remotas Religiões Lunares, que foram diversificadas, conforme as raças e as civilizações.

Depois da Páscoa, o Sol volta a alumiar os céus setentrionais, dando passagem ao signo de Touro, regido pelo Planeta Vénus, símbolo do amor e da subida ao Reino dos Céus, ou o regresso à Casa do Pai. Acontece, então, outro Festival muito importante no campo esotérico, o da Lua Cheia de Maio, conhecido pelo Festival de “Wesak” ou “Vaísãkh”. Não obstante, toda esta liturgia deverá culminar em pleno no Ritual do Solstício de Verão, que já era celebrado nos antigos Mistérios, como a festa das messes e das colheitas. Porém, para os seguidores do esoterismo, este Festival da Lua Cheia, denominado “Asala”, é geralmente celebrado no mês de Julho. A liturgia cristã associa-o aos festejos de S. João o Baptista, o Precursor de Cristo, que antecede e anuncia o Solstício seguinte, do Inverno ou o Natal de Jesus Cristo.

No seu movimento anual de translação à volta do Sol, a Terra atinge de novo o equinócio da Primavera e assim se inicia o Festival da Páscoa. O Cristo Cósmico emite em cada estação do Outono o seu raio espiritual, a fim de reactivar a vitalidade esgotada da Terra, pronto a ascender ao Trono do Pai. Realiza-se, então, o grande drama cíclico do mundo, em que é encenada, ano após ano, a luta eterna entre a vida e a morte, pelo que, após as actividades espirituais de fecundação e germinação efectuadas durante o Inverno e Primavera, seguem-se os diversos processos de crescimento físico e de amadurecimento durante o Verão e Outono seguintes sob a influência do Espírito da Terra, que terminam na colheita.

Todos estes grandes fluxos e refluxos cíclicos não só limitam os seus efeitos na Terra, na fauna e na flora, como também têm uma grande influência, de forma dominante, sobre a humanidade, ainda que a maior parte não se aperceba das causas que impelem a agir numa ou noutra direcção. De facto, a vibração terrestre, que enfeita de forma vistosa as aves e outros animais na Primavera, influencia também no homem o desejo de usar coisas mais claras e alegres nesta época do ano. Há também, nesta altura e no verão, um apelo ao convite para a descontracção e procura do ar puro no campo e perto do mar, para o convívio com os espíritos da natureza, que ajudam a recuperar da tensão adquirida nas condições desarmoniosas e poluídas da vida citadina. A queda do raio espiritual do Sol no Outono dá origem ao reinício das actividades espirituais e mentais no Inverno. Assim, como a força germinadora que estimula a semente na terra e a prepara para reproduzir a sua espécie multiplicada, ela, também, activa a mente humana, e ajuda a promover o desenvolvimento de actividades altruístas que tornam o mundo melhor. Esta onda de Amor Cósmico culmina no Natal, emitindo vibrações de paz e boa vontade, assim como gera felicidade e vontade de presentear.

Ora, após recebermos as bênçãos espirituais anteriores temos de as pôr em acção nesta época da Páscoa, imitando a terra, e dando ao mundo físico da actividade os frutos do espírito, semeados nas nossas almas durante a passada estação invernal, para assim recebermos bênçãos ainda mais abundantes em cada ano que passa. Estamos de novo na Páscoa, depois de transpostos os dias de Inverno monótonos e sombrios, quando a mãe natureza remove o manto frio de gelo que cobre a terra, permitindo aos muitos milhões de sementes voltarem a romper a sua crosta e inundarem o solo com cores alegres e deslumbrantes. Ainda que o ano tenha sido de guerra e de lágrimas, não impede que ressoe bem alto o canto da vida que ultrapassa o canto fúnebre da morte. Surgem, então, os primeiros frutos! Cristo ressuscitou, Ele é a Ressurreição e a Vida! Quem acredita nele não morrerá, mas terá a vida eterna!

É nesta estação que a mente do nosso mundo civilizado celebra a festividade que nós chamamos Páscoa, em que se comemora a morte e ressurreição do nobre Ser que nós conhecemos por Jesus e cuja história da Sua Vida se encontra escrita nos Evangelhos. Contudo, todo o cristão místico se digna a ter uma visão muito mais profunda e ampla sobre esse acontecimento cósmico, que se repete todos os anos, pela impregnação da Terra na vida do Cristo Cósmico. Assim, verificamos uma inalação durante os meses de Outono, que culmina no solstício do Inverno, que celebra o Natal, e uma exalação que chega ao seu término na época da Páscoa. Na verdade, a impregnação manifesta-se pela aparente inactividade do Inverno, enquanto a expiração da vida de Cristo manifesta-se como a força da Ressurreição, dando uma nova vida abundante a tudo o que se movimenta e vive sobre a terra, não só para a manter, mas também para se propagar e perpetuar.

E é assim representado, anualmente, o drama cósmico da vida e da morte, por todos os seres e criaturas que estão a evoluir, sem quaisquer discriminações, visto o sublime Cristo Cósmico, na Sua Compaixão, se ter sujeitado à morte, ao entrar nas condições de clausura da terra num determinado período do ano. O que aconteceu a Cristo no mundo irá acontecer também na vida de todos os que pretendem se tornar iguais a Cristo. Teremos de admitir que a morte é uma necessidade cósmica nas circunstâncias actuais. Mau seria se ficássemos aprisionados, perpetuamente, no corpo que agora usamos, e fossemos colocados num ambiente igual ao que hoje nos encontramos e vivemos. Ter de passar continuamente pelas enfermidades do corpo, assim como por todas as condições insatisfatórias do ambiente que nos rodeia, far-nos-ia ficar cansados da vida e, decerto, acabaríamos por implorar pela nossa libertação. Se tal prisão acontecesse seria um impedimento ao nosso progresso, e tornar-se-ia impossível evoluir para níveis mais elevados. A evolução só poderá ser alcançada através dos diversos renascimentos dos nossos veículos, noutros ambientes e circunstâncias, que nos proporcionem novas possibilidades de desenvolvimento espiritual.

Convém recordarmos alguns pontos relacionados com a morte e renascimento, que é natural termos esquecido. Dos símbolos cósmicos preservados desde a antiguidade não existe nenhum que tenha um carácter mais representativo do que o símbolo do Ovo. De facto, encontramo-lo em todas as religiões e civilizações. O ovo está presente no Antigo Eddas da civilização Escandinava, venerável pela idade, que fala do ovo mundano esfriado pelo sopro gelado no Niebelheim, mas depois aquecido pelo hálito quente do Muspelheim, antes dos vários mundos, e até o próprio homem, terem vindo a existir. Nos Vedas da Índia encontramos a mesma história no mito Kalahgansa, o Cisne do tempo e do espaço, que pôs o Ovo que veio a ser finalmente o mundo. Também entre os Egípcios encontramos o globo alado e as serpentes ovíparas, que simbolizavam a sabedoria manifestada no nosso mundo. Os Gregos usaram este simbolismo e o reverenciaram nos seus Mistérios. O mesmo foi preservado pelos Druidas. O símbolo do Ovo foi igualmente conhecido pelos construtores do grande outeiro da serpente, em Ohio, conservando o seu lugar na simbologia sagrada até aos nossos dias, embora a maioria dos seres humanos não consiga ver o grande mistério secular, que ela encerra e revela, e que produz o ser vivo, que nós chamamos Vida. Desta forma, aprendemos através do simbolismo sagrado do Ovo que embora a vida seja capaz de modelar a matéria não depende desta para existir.

Sendo auto-existente, sem ter princípio, também não poderá ter fim, ao ser simbolizado pela forma ovóide do ovo. Ao nos apercebermos do verdadeiro conhecimento encerrado no seu simbolismo, isto é, que a vida não é criada, nunca teve princípio e nunca terá fim, permitimo-nos a adquirir coragem para admitir que os seres humanos, que agora são retirados da sua existência física, estão apenas a atravessar uma jornada cíclica idêntica à da vida do Cristo Cósmico, que penetra na Terra no Outono e a abandona na Páscoa. Portanto, os que morreram estão apenas a transitar para os reinos invisíveis, de onde mais tarde irão de novo embrenhar numa matéria física, e entrar como todas as coisas vivas no óvulo da mãe. Entretanto, após um determinado período de gestação, reentrarão na vida física para aprenderem novas lições nesta grande escola da vida. E, assim, podemos ver como a grande lei da analogia opera em todas as fases e sob todas as circunstâncias da vida. Na verdade, o que acontece ao Cristo no grande mundo, irá também acontecer na vida dos que aspiram evoluir até se tornarem iguais a Ele, o que nos faz encarar a presente luta de maneira mais animada.

Deveremos agradecer a Deus o facto de nos oferecer a possibilidade de nascer num corpo concreto de modo a se realizar o nosso desenvolvimento futuro, sendo que a libertação pela morte nos poderá ajudar a libertar do instrumento que se tornou esgotado pelo uso. Por conseguinte, tanto a ressurreição como um novo nascimento noutro ambiente dão-nos a oportunidade de recomeçar a vida, aperfeiçoarmo-nos e evoluirmos de modo a aprendermos as diversas lições que não conseguimos assimilar em vidas anteriores. É e será sempre por este método que conseguiremos um dia ser perfeitos tal como o Cristo ressuscitado!

Votos de uma Feliz e Santa Páscoa!
   


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