O objetivo desta prática vai para além da calma. Está relacionado com intenção, o impulso de fazer; e uma vez que criar uma autoimagem é aquilo que fazemos, lidar com o fazer é a chave para nos libertarmos do ‘eu’. Portanto: quaisquer efeitos emotivos que nós experienciemos dão origem a intenções; o coração responde ao contacto. E o ‘eu’ surge como aquilo que foi afectado, alegrado ou preocupado pelo contacto. Depois, como fomos estimulados, há algo em nós que salta: intenção, volição, o nosso desejo de fazer. O ‘eu’ surge como um agente, com pensamentos do género: "faz isto" ou "aquilo está mal. Não faças isso". Esta resposta a um sinal gera aquilo que acreditamos ser o nosso ‘eu’ nesse momento: confiante, nervoso, ameaçado ou carinhoso. Isto é kamma: a acção psicológica que gera ‘aquele’ que sentimos ser. Há muito potencial de volição na mente humana. Isto é bom, se for usado sabiamente. Mas quando está relacionado com a autoimagem egóica, vai trazer sempre desassossego. Sabem como é: "Eu preciso de arranjar algo, fazer alguma coisa. Não posso perder tempo." E depois: "Será que está suficientemente bom?" Isto é especialmente importante porque nos dias de hoje a intenção não se resume a obter prazer ou vencer inimigos: estamos fortemente condicionados pela ética de trabalho.
Quando finalmente encontrei uma forma de meditar ao invés de tentar meditar, ela veio através de uma expansão da minha consciência. Eu sabia que a minha mente e abordagem tinham de se ampliar; eu não poderia continuar a funcionar a partir de uma atitude purista e crítica. Por isso, uma das coisas nas quais trabalhei foi aumentar a minha esfera de atenção, sintonizando-me com a sensação do corpo. O que eu quero dizer com isto é a sensação "interna" do corpo, não a sensação que advém de contacto. Por exemplo, quando estamos de pé e sabemos se estamos direitos ou tortos, isso é uma sensação do corpo. Quando sentimos tensão, ou relaxamento, isso é uma sensação do corpo. Não está focada num ponto em particular, é uma referência do todo; e está ligada às emoções. Quando sentimos acolhimento ou rejeição, dá-se conjuntamente uma sensação no corpo. Quando sentimos medo ou irritação, isso também se traduz numa sensação no corpo. Se trouxermos à mente imagens associadas com maldade, podemos sentir certas energias a mudar na mente. Se sentirmos que temos de nos defender ou provar que somos suficientemente bons, o corpo torna-se tenso. Esta noção do corpo é afeto a estímulos e responde aos mesmos. E podemos ter a certeza que meditação baseada nas suas aflições e tensões nunca vai levar à paz. Pelo contrário, vai ser marcada por tenção e contradição, na qual a capacidade de cada um para compaixão ou bem-estar diminui; chega a tal ponto que ficamos tão dormentes que nem sequer notamos a perda.
Entre as diversas Comunidades Budistas, principalmente a Linha Theravada existente em diversos Países como a Tailândia e o Sri Lanka, partilha-se e mantêm-se a Tradição unânime de comemorar a data que representa três acontecimentos fulcrais na Vida de Siddhārtha Gautama, o Buddha: o momento da Concepção em que o Seu Ser se ligou ao útero de Sua Mãe; o momento em que Ele alcançou a Iluminação sob a Árvore Bodhi aos 35 anos; e o momento da sua morte física com passagem para Parinibbānna aos 80 anos. Muita controvérsia e incerteza existem ainda em torno da data de nascimento de Gautama Buddha. A Lenda inicial que deu origem à identificação dos três eventos, Concepção, Iluminação e Morte do Buddha reunidos numa mesma data, surgiu no Sri Lanka, algum tempo depois do Budismo se ter estabelecido como Religião no País, no entanto não existe nenhuma referência no Cânone Budista que suporte esta tripla conjunção, tendo sido a celebração desta data conjunta posteriormente propagada para outros países, principalmente para o Sudeste Asiático, aonde a Tradição se manteve até aos dias de hoje.
O venerável Ajahn Chah, um dos mais conhecidos professores do Budismo da Tradição da Floresta da Tailândia, costumava dizer: “A nossa prática é como a minhoca”. O que significa isto?
No mundo moderno queremos ver resultados o mais rapidamente possível, fazendo juízos acerca de quão eficientes as coisas são quão bem-feitas, quão atractivas, etc. Existe uma constante pressão para se estar actualizado com os últimos avanços e temer ser deixado para trás. Mas será que temos real força e confiança em nós próprios? Não será que estamos a perder a nossa confiança e integridade ainda que acreditemos que estamos a controlar o “nosso mundo”? Enquanto o chamado desenvolvimento ao nível material é tão invasivo e amplamente disseminado por toda a parte, o que é que tem vindo a acontecer connosco, o ser mais importante no meio de tudo isto?
O Património Religioso simboliza aquilo que de mais elevado a humanidade pode realizar e concretizar. Muitas vezes caminhamos nas belas cidades europeias, por exemplo, e deslumbramo-nos com as edificações, antigas e modernas, e entre as quais aquelas que servem ou serviram de albergue para práticas espirituais de encontro com o Divino, de transcendência humana, de trabalho interior e de carácter e de expansão da consciência. Talvez esses mesmo edifícios fiquem impregnados da emanação dessa prática espiritual e isso transmita uma atmosfera e vibração muito próprias a quem neles entra, a quem os visita, a quem os contacta. Para além dos belos princípios de arte e arquitetura que os regem, temos de nos lembrar dos princípios e propósitos para a existência de tais edifícios. Se não houvesse uma vontade de transcender os aspectos inferiores da existência humana, um almejar de crescimento espiritual, não haveria tais edificações.