O Siddhāntapañjara aqui editado pela primeira vez, está baseado em dois manuscritos incompletos e em dois manuscritos completos. São ressaltadas e claramente evidenciadas comparações e os contrastes entre eles. O capítulo oito é na verdade uma síntese de todos os sistemas. Até mesmo no sistema Cārvāka, Ātman é aceite como não sendo nada mais que corpo físico. Uma vez que Ātman inclui tudo, este conceito não deve ser deixado fora das anteriores considerações. Assim podemos ver o que o Sarvamatasamanvaya já propunha, antes mesmo de Sri Rāmakrishna o ter provado pela sua experiência pessoal, no nosso século. O trabalho está dividido em oito capítulos e está sob a forma de perguntas e respostas entre o mestre e o discípulo. É uma exposição bastante lúcida do Advaita Vedānta. Os quatro primeiros Capítulos dizem respeito aos conceitos de samsāra e samsārin. O quinto é uma discussão sobre māyā. O sétimo está sob a forma de sarvamatasamgraha, e dá os vários princípios dos sistemas de Filosofia. Divide as filosofias (darśanas) em Advaidika e Vaidika. Os sistemas de Cārvāka, de Buddha e Jaina são avaidikas, enquanto os de Sāmkya, Yoga, Mīmāmsā, Nyāya, Vaiśesika e Vedānta são Vaidika. Segue-se um relato sucinto de tudo isto, acentuando mais e mais uma vez a suprema importância do Vedānta. São ressaltadas e claramente evidenciadas comparações e os contrastes entre eles. O capítulo oito é na verdade uma síntese de todos os sistemas. Até mesmo no sistema Cārvāka, Ātman é aceite como não sendo nada mais que corpo físico. Uma vez que Ātman inclui tudo, este conceito não deve ser deixado fora das anteriores considerações.
A finalidade dos Estóicos, tal como os Jainas, consiste também, na indiferença perante a adversidade e no fluir com a própria natureza interior, nada se desejando. E perante aquilo que não se pode mudar, ficar firme e tranquilo interiormente, mesmo que seja perante a morte, pois ela é encarada como uma lei natural e, a sabedoria reside em saber aceitá-la ou enfrentá-la com serenidade. Os Estóicos também exigiam pureza, desprezo pelos bens terrenos, meditação sobre a morte e, faziam uma exortação à humildade e às virtudes mais nobres. Assim, para a morte, os Estóicos e os Jainas caminham de mãos dadas pela via do jejum. Cleanto (um estóico) foi disso um exemplo, tal como o fazem muitos jainas, que quando sentem chegada a hora de deixar o seu revestimento físico, entram na morte pelo jejum e, enfrentam-na com consciência.
Na verdade, diz-se, “o caminho faz-se caminhando”, mas eu direi “o caminho faz-se realizando”. Sem a realização consciente do caminhar, não se pode ir a direito: tropeça-se constantemente. Esse tropeçar é em si próprio; nos orgulhos, na vaidade, na negligência, no convencimento de que sendo já muito evoluído não precisa de fazer mais nada, ou que tudo se pode conciliar, tal como o mundo mundano, submerso em vícios e hábitos perniciosos sem atender à transformação e ao mundo espiritual. A agudeza mental e a inteligência observadora que resultam da prática da meditação e pela qual se obtém a realização espiritual, sem dúvida, dá um profundo entendimento sobre a vida, bem diferente do pensamento enraizado no viver vulgar. Podendo ver um pouco mais adiante e sem pretensões, pois o que escrevo resultou de exigências de um caminho espiritual muito próprio, onde não me poupei a esforços nem a contemplações inúteis, proponho-me desvendar certos conceitos desvirtuados sobre a vida espiritual e principalmente sobre a iluminação.
No geral, a característica proeminente da filosofia indiana é o postulado do ideal supremo da realização do homem na sua vida e também a formulação dos meios para alcançar tal ideal. É por esta razão que a disciplina espiritual (sādhana) é prescrita por todas as escolas indianas de pensamento filosófico em conformidade com a sua particular perspectiva filosófica, o que constitui a parte inseparável das suas projecções de pensamento metafísico. Tal aplica-se mais às escolas filosófico-religiosas que devem a sua origem à tradição Tantra-Āgamic na qual se destacam os exercícios espirituais. A escola Shiva Advaita de Cachemira, vulgarmente chamada escola Shivaíta de Cachemira, assentando em sessenta e quatro Bhairavāgamas, parece ter as suas projecções de pensamento metafísico movendo-se à volta de sua filosofia de sādhana. O conceito de Graça Divina, o princípio Guru e o rito de iniciação (dikshā) – estes são os três membros (angas) da filosofia de sādhana. Propomo-nos a discuti-los, um a um, nos parágrafos seguintes. Mas antes de o fazer, gostaríamos de projectar alguma luz em alguns dos princípios filosóficos ligados com a sua filosofia de sādhana, porque esse conhecimento nos ajudará a compreender o conceito chave.
A Terra está actualmente na Era de Ferro, Idade das Trevas ou Kali Yuga, que é, na generalidade, o período de maior densidade dentro de todos os Ciclos das Eras Cósmicas, em que todas as Eras têm a sua finalidade e propósito. Sendo a Era que estamos a atravessar a do Kali Yuga, o período mais denso de todos os ciclos, e o que causa maior sofrimento à humanidade, indica-nos que estamos a atingir uma situação de limite, e que nos aproximamos felizmente do ponto de saída (ainda que no nosso tempo-Terra esteja longe de acabar), onde se torna necessário voltar à fonte da vida. Segundo o Bhagavata Purana, esta é uma Era de degradação humana, cultural, social, ambiental e espiritual, por isso é referida como Idade das Trevas, por a maioria da humanidade se encontrar longe da espiritualidade e de Deus. A essência do Kali Yuga é a causa do afastamento entre o homem e a natureza e de toda a devastação do mundo moderno, levando à perda de contacto com a ordem cósmica, onde a mente da humanidade se fixa nos elementos mais densos e materiais da realidade. É uma Era onde dominam as guerras, os vícios, a ignorância, e que se encontra destituída de todas as virtudes. Os líderes que governam as nações são violentos, corruptos, exploradores dos seus povos, tornando-se deste modo num mundo pervertido, onde impera o caos, a fome, as doenças, a destruição, o egoísmo desmedido, o materialismo, a maldade e a falta de respeito do Homem pelo seu semelhante.