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Da Mística
de Pedro Teixeira da Mota
em 19 Abr 2012
Nas raízes etimológicas gregas de mística, encontraremos os "mistes", os iniciados ou iniciadas, que praticavam o silêncio não só receptivo como depois até pela experiência indizível que obtinham no decurso dos Mistérios. Tal implica que, para além do corpo físico que temos ou do que vemos e experienciamos com os cinco sentidos e a mente, existem outros níveis de ser e dimensões que chegam até às profundezas ou alturas do Divino, os quais exigem contudo para se nos revelarem e tornarem compreensíveis que adoptemos modos de vida justos e práticas e estados intensificados de consciência...
O caminho purificador e iluminador para tal constituía o ensinamento facultado aos “mistes”, aos iniciados dos Pequenos e dos Grandes Mistérios da Antiguidade Clássica, que deviam depois silenciar o que tinham vivido e aprendido, e lembraremos os cinco anos de silêncio a que se submetiam certos discípulos de Pitágoras antes de poderem receber o ensinamento mais elevado e dialogar com o mestre.
O místico é pois quem experienciou o que poderemos designar por sagrado, em sentido lato ou, em sentidos mais precisos, o espírito, o divino, ou ainda quem tem apenas a tendência, aspiração e sensibilidade para tal, ou ainda quem tem a energia interna consciencial e amorosa acesa, desperta, elevada...
No Ocidente Cristão Português (para não falarmos dos Celtas ou mesmo da pré-história), a tradição mística é muito antiga e ininterrupta, e vem desde os eremitas da serra de Ossa, aos construtores, pintores e escultores das igrejas românicas ou das Virgens de Ó, aos frades e poetas da Arrábida a Pitões de Júnias, e às milhares de sorores e almas religiosas que se protegeram em conventos e aí puderam largar ou soltar a ave-balão do seu coração, sem os pesos dos envolvimentos e preocupações mundanas, rumo às alturas ora devocionais ora mesmo místicas e de êxtase de que tantos testemunhos nos ficaram, hagiográficos, literários, artísticos ou mesmo de intercessão...
Comummente na tradição cristã, e de certo modo em quase todas, das quais a que terá mais similitudes será a islâmica (e relembremos o misticismo sufi peninsular), o caminho espiritual é apresentado ou vivenciado como contendo algumas estações ou fases, das quais se destacaram três: a purificação, a iluminação e a união, cabendo à primeira os esforços penitenciais e a ascese, à segunda, as práticas de oração, concentração e meditação, com momentos iluminativos, e às terceiras os estados de graça, contemplativos, unitivos.
Diremos então que são estes momentos, tanto das práticas tendentes ao silêncio ou a estados psíco-conscienciais de amor ou de gnose do espírito e de Deus, ou mesmo de grande Unidade ou Infinitude, que caracterizarão o ser místico....
Numa forma mais lapidar, o místico ou o iniciado é quem tem dentro de si conscientemente viva a chama do Amor divino, e sopra, ou deixa-se soprar por ela, e por Ele...
Ou ainda, quem aspira à Luz espiritual e é agraciado por ela, e a tenta aprofundar, ser e irradiar…
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