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Sistemas, tem a finalidade de contribuir para a divulgação das linhas de pensamento dentro das várias Religiões e Filosofias de todo o mundo, na compreensão de que todas partilham afinal uma linguagem comum.
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O Budha tornou mais bela a Religião Eterna
de Swāmi Sandarshanānanda
em 08 Mar 2015
Siddhārta achou que a vida de príncipe era muito aborrecida. As experiências de prazer exclusivo cansavam-no – sentia-se encarcerado na vida real de indulgência. Na verdade ninguém renuncia ao prazer dos sentidos a não ser que se vejam defeitos neles. Siddhārta viu- os e ganhou aversão ao mundo material. O seu pai, Shuddhadhona, afastou-o de todo o tipo de sofrimento humano, contudo não lhe ocorreu que não poderia tornar o seu filho imune à miséria, enclausurando-o na opulência. Por isso, apesar os seus melhores esforços, um dia Siddhārta rompeu com o desvario da vida real e escapou para o meio dos comuns. A desolação do sofrimento humano captou-lhe a atenção. Observou como todos sofrem sem excepção. Não fazia diferença, quer fossem príncipes ou pobres. Ninguém escapa à tragédia da degradação, decadência e morte do corpo. O encontro de Siddhārta com um velho, um doente e um morto, um após o outro, elucidou-o instantaneamente, e deixou-o a pensar se haveria alguma forma de ultrapassar isto. Quando, finalmente, viu um Saṃnyāsin(1), encheu-se de esperança. Isto foi um ponto de viragem na vida de Siddhārta. Renunciou às suas vestes reais e aceitou a vida de ermita. O seu coração compadeceu-se com todos os seres. Procurou o caminho de libertação do sofrimento, não só por ele, mas por toda a humanidade. Quando atingia a sua busca, muitas denominações lhe eram mostradas: era chamado Budha – o Desperto, Sākyamuni - o sábio dos Sākyas, Tathāgata - o que tinha alcançado a Verdade suprema, etc.
Para os grandes mestres religiosos da Índia, a religião, no seu verdadeiro sentido não reside no dogma nem no credo, nem nas doutrinas ou teorias, apenas na experiência. Que as convicções religiosas devam ser o resultado da realização pessoal da verdade é uma ideia tão antiga na Índia, como existir sob os Upaniṣadas. De acordo com tal, Siddhārta iniciou a contemplação num sítio recôndito.
Siddhārta tinha todos os requisitos para ser um competente aspirante espiritual. Conhecia as escrituras. Tinha um coração puro. Não aspirava aos méritos dos feitos conquistados. Tinha as quatro características fundamentais de carácter, nomeadamente: discriminação entre as coisas permanentes e transitórias, desapego das alegrias materiais tanto do momento como dali em diante, imparcialidade da mente, e restrição no uso dos órgãos externos, e, por fim, uma imensa vontade de se libertar de todos os grilhões. Consequentemente, natural seria conseguir alcançar o supremo conhecimento espiritual.
Crê-se que Gautama praticou meditação continuamente durante seis anos. Decerto não o terá feito arbitrariamente. A lenda diz que foi instruído por vários ascetas. Nessa altura a maioria das religiões indianas sofriam a influência da filosofia Sāmkhya, e, entre elas, o Yoga (§) de Patañjali ocupou uma posição bastante significativa – foram muitos os que sentiram que a sua técnica era verdadeiramente científica e eficaz. A forma como Budha, mais tarde, enunciou o seu óctuplo caminho é indicadora de que, também ele, foi profundamente influenciado pelo Yoga de Patañjali. A ênfase colocada por Buda nos aspectos morais está em conformidade com a ideia básica do Yoga, em que o seu método só se torna efectivo se o carácter de cada um for puro. Não obstante, ele explorou e recolheu meticulosamente todas as religiões existentes, por forma a embelezar e popularizar a Religião Eterna. Na prática, ele próprio era o objecto da sua lição. Expressamente afirmou: ”Aquele que me vê, vê o ensinamento.”
Moderação
Na Índia antiga havia um tipo de ascetas conhecidos como śramānas. Eram proponentes de uma austeridade extrema, sendo a tortura da carne uma das características principais de suas práticas espirituais. Ao princípio Gautama deixou-se impressionar por eles, contudo, mais tarde ter-se-á eventualmente desiludido. Observou que o físico fraco enfraquecia o espírito, não o levando a lado nenhum na busca espiritual. Deixou o método dos śramānas e recorreu a um método testado – renunciou aos extremos e adoptou a moderação. Tal forneceu-lhe um sistema perfeito de mente-corpo, que o ajudou na progressão e na obtenção do seu objectivo. Assim, alcançou o mais elevado estado de samādhi.
A sua luta, até ali, foi intensa. Confrontou-se com várias tipos de tentações que lhe vinham à mente. Mas conseguia ultrapassá-las com a ajuda de sua penetrante discriminação e com o desapego. Detectou que a ignorância era a causa enraizada do sofrimento. Teve a visão de uma cadeia de causalidades com doze ligações. Observou que a ignorância era o primeiro elo do encadeamento da alma numa ‘Roda de Existência’, de nascimento em nascimento. Começando com a ignorância, outras ligações se estabeleciam entre si de uma forma dependente, terminando no nascimento, envelhecimento e a morte. A roda movia-se numa ordem cíclica, uma e outra vez, onde o desejo era um elo que actuava como a força motriz por detrás dela. Daqui conseguiu ver a lei do Karma a operar, tendo como resultado directo o sofrimento. Compreendeu que o Nirvāna, que tinha acabado de alcançar através de samādhi, era o único meio de emancipação. A doutrina central do Budismo conhecida como Doutrina da ’Origem Dependente’ derivou daqui. Ele estava tão feliz, em consequência de tal realização, que não parou de rir e de dançar durante três dias.
(... continua)
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